Dirigindo

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Uma semana depois

Em uma pequena cidade no Estado da Georgia, Charlotte e seu cãopanheiro se levantaram cedo, rumo à estrada. Seus compromissos haviam acabado e agora ela precisaria tomar uma difícil decisão. Retornar a Nova York onde, por mais esforço que tenha feito, não conseguiu nenhum contrato para a noite do dia 24 de Dezembro, ou ir para a casa dos pais, que não estava tão longe. Ela amava sua família, porém sentia calafrios sempre que entrava na pequena cidade e se deparava com aquela igreja. Os pesadelos estavam se espaçando mas ela sabia que seria impossível não voltarem se ela fosse até aquela cidade.

Mas Charlotte não sabia o que dizer a seus pais. Ela não era boa com mentiras mas apenas uma lembrança ruim a fazia omitir o que a havia acontecido naquele lugar. Ela retornaria para Nova York de um jeito ou de outro. Inventaria outra desculpa, outro show, qualquer coisa.

Pensou em Benjamin e no quanto queria agradecê-lo por desistir do seu empreendimento. Aliás, ultimamente estava pensando muito naquele homem. Mais do que gostaria. Ele continuou curtindo suas fotos da pequena turnê e isso a deixava sempre com os batimentos cardíacos acelerados. E ela estava se odiando por isso! Eram muito diferentes e não havia a menor chance de alguma coisa entre eles além de uma amizade, talvez.

Benjamin deveria estar entediado e logo que encontrasse alguma distração, se distanciaria dela. Assim, ela colocou em sua cabeça já acostumada a se colocar como uma pessoa desimportante.

Charlotte estacionou sua caminhonete no mesmo posto em que havia dormido antes e se acomodou com Denver para dormirem. Ele não dava trabalho algum pra ela. Era um excelente parceiro de viagem e Charlotte já não conseguia se imaginar sem ele.
Seu celular tocou assim que ela se cobriu. Era o seu pai.

- Ai, droga! - ela o amava incondicionalmente mas odiaria mentir pra ele mais uma vez, no intuito de esconder uma dor muito maior. Suspirou fundo e atendeu. - Oi, pai! - tentou usar um tom de voz animado.

- Oi, minha princesa! Como estão as coisas? Vi que estava na Georgia.

Droga, droga, droga! Pensa rápido, Charlotte!

Seus pais quase não entravam nas redes sociais mas por um infortúnio do destino, descobriram que ela estava por perto.

- Ah, então... Consegui alguns shows por aqui. Mas já estou voltando pra casa.

- Sem passar por aqui, Charlotte? É sério? Você está no caminho daqui, em cinco dias será Natal! - sentiu que o pai iria falar até engasgar e aquilo doía mais nela do que nele. - sentimos a sua falta! - ela sentiu as lágrimas caírem.

- Pai... eu...

- Não precisa se explicar, Charlotte!

- Me desculpa, eu consegui um show que pagará bem na noite de Natal. O senhor sabe que eu não gosto desta data e também preciso de dinheiro...

- Eu apenas gostaria de entender o porquê, minha filha! Mas ficaríamos felizes se tirasse um tempinho para nós. Enfim, que Deus a acompanhe por essas estradas. Amo você!

- Eu amo vocês! Me perdoa!- disse desligando e caindo no choro. Ela precisava superar o medo que tinha em voltar para aquele lugar. Isso estava destruindo a relação que tinha com os seus pais. Foi há muito tempo... Denver se acomodou perto dela, dando uma lambida em seu rosto. - Tá tudo bem, meu amor! Tá tudo bem!

23 de Dezembro, 17h15m

Charlotte estacionou em frente ao seu prédio e viu que Denver, desde que entraram em Nova York, olhava tudo com curiosidade. Com certeza ele nunca havia visto um lugar como aquele. Mas não aparentava estar assustado, apenas curioso.
Pegou sua mochila, a mala, a sacola com as coisas dele, o violão e o puxou pela guia. Ao entrar, deixou que Denver fizesse um breve reconhecimento do seu novo lar.

- Bem vindo a Nova York, amigão! Aqui é um lugar de gente muito doida então nada de ficar zanzando por aí sem mim.

Colocou suas coisas no sofá, estava muito cansada, pegou as coisas do cachorro e escolheu um cantinho da cozinha para colocar. Inseriu água em seu potinho e ração. Depois escolheu outro lugar no cantinho da sala para colocar o tapetinho higiênico dele. A caminha ela colocou em seu quarto. Sentiu pena dele que, mesmo aparentando ser um filhote, tinha um porte médio e precisaria de mais espaço para correr e brincar. Ela decidiu que faria um esforço para passearem nos dias em que ela estivesse de folga. Não estavam longe do Central Park.

Tomou um banho, vestiu um pijama quente, meias, pantufa e pediu comida italiana. Depois se deitou em sua cama para tentar dormir mas viu que Denver, ao invés de deitar em sua caminha, a olhou triste.

- O que foi? Não gostou da sua nova casa? - ele então cutucou a cama com a patinha a fazendo entender o que ele queria. - quer dormir aqui comigo, grandão? Só hoje, ok. Vem! - deu um tapinha na cama o fazendo pular e se aconchegar ali ao lado dela. Charlotte sorriu e adormeceu, por fim.

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Enquanto Charlotte dirigia em direção à Nova York, Benjamin tentava dirigir sua vida com as próprias mãos, retomando o controle da sua empresa e deixando claro quem mandava ali dentro. Estava levando muito a sério a mudança em sua cultura organizacional e obviamente irritando alguns de seus diretores. O clima não estava dos melhores naqueles últimos dias do ano mas ele estava com o seu coração em paz. Não recebeu nem metade dos tapinhas nas costas e mensagens de final de ano que sempre recebia dos seus bajuladores mas, pela primeira vez em anos, se sentiu bem com sua consciência. Não recebeu convites para nenhum jantar de Natal e sentiu que suas decisões estavam deixando bem claro pra ele quem o considerava além do dinheiro. Peter foi o único a se justificar pois iria para a Carolina do Norte confraternizar com sua família. Família que ele não tinha. Pensou em visitar sua mãe mas ela nem saberia que ele estava lá e essas visitas o dilaceravam.

Ele passaria a noite de Natal refletindo e estudando novas oportunidades de negócios dentro da sua nova cultura. Pensou em mandar mensagem para Charlotte mas acreditou que ela estaria com sua família. Não iria incomodá-la! Mandaria uma mensagem de Natal no dia 25.

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Charlotte acordou e foi arrumar o seu apartamento enquanto Denver brincava com os ursinhos e bolinhas que ela o havia presenteado. Não decorou o apartamento para o Natal mas queria que estivesse tudo em ordem. Faria chocolate quente e assistiria filmes naquela noite. Ela precisava mandar uma mensagem de Natal para Benjamin. Sabia que ele precisava se sentir acolhido naquela noite que era tão difícil para a maioria das pessoas solitárias.

Quando acabou de organizar as suas coisas, se assustou com o barulho da campainha. Denver latiu assustado também. Custou a acreditar quando abriu a porta naquela tarde chuvosa e fria.

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