Tédio é uma palavra que se encontra fixa em minha cabeça há anos, penso nela constantemente enquanto fico deitada de barriga para cima em minha cama, olhando para o teto sem fazer nada.
Isso é o tédio. Um sentimento duradouro e persistente. Pelo menos para mim. Tirando meu trabalho e os momentos em que saio com Nate, minha vida se resume ao tédio, que é exatamente o que estou experimentando agora. Novidade? Nenhuma. Apenas a realidade.
Independentemente de eu gostar ou não disso, não posso reclamar, não tenho o direito de protestar contra. Escolhi viver assim, na verdade, eu escolhi sobreviver dessa forma. O que é alguns momentos de tédio para quem teve uma infância péssima?
Não tenho a menor ideia de quanto tempo se passa, normalmente isso sempre acontece, o tempo voa e eu nem percebo, mas não deveria ser assim, não foi isso que aprendi quando criança. Infelizmente as coisas mudam, mas é o ciclo da vida, é inevitável a mudança, seja ela boa ou ruim, uma hora chega para todos.
Saio de meus devaneios, quando uma cabeleireira entra em cena, o tom castanho denuncia o sujeito. Nate adentra ao quarto se rastejando pelo chão, assim que chega perto das portas do armário ele se levanta rapidamente, como se fosse um agente secreto, suas mãos imitando uma arma de fogo. Nate respira fundo, elabora com as mãos alguns gestos secretos, que provavelmente devem significar alguma coisa que eu não tenho a menor ideia do que seja, e conta até três para seu amigo imaginário. Ao atacar meu guarda-roupa, ele vasculha seu interior para ver se encontra algo, não encontrando, resolve olhar embaixo da cama, obtendo o mesmo resultado.
Isso está ficando esquisito, é melhor eu acabar com esse teatrinho.
- Nathaniel, que palhaçada é essa? – Falo me sentando na cama.
- Eu que te pergunto Ellery, imaginei que tinha um assassino no armário quando entrei aqui e vi essa estátua morta em cima da cama – idiota. - Fiz o que qualquer um faria, fui investigar.
- Por acaso eu sou a estátua morta? – Pergunto o óbvio.
- Até alguns minutos atrás, era sim. Credo garota, às vezes você me assusta, quem em sã consciência faria uma coisa dessas? – exclama de modo dramático.
- Ficar deitado na cama olhando para cima?
- Se você se refere ao defunto que eu acabei de encontrar, então sim – fala todo debochado. – Só faltou o caixão.
- Saiba que eu não gosto mais de você – minto.
- Ata, e eu gosto de dar o cú – solta um risinho, antes de continuar. – Ellery querida, vamos combinar uma coisa tá, o que acabamos de dizer são coisas que nunca, jamais irão acontecer.
- Meu deus, você é muito convencido mesmo.
- Isso sim é verdade, você me conhece tão bem. É por isso que você é minha melhor amiga, sorte a sua se não eu já teria arranjado outra para te substituir.
Puxo Nate para a cama e começo a bater nele, até ficar por cima de seu corpo.
- Repete o que você disse – um tapa. – Vai repete – outro tapa. – Quero ver você ter coragem.
- Depois que eu te chamo de cavala você não quer acreditar né? – zomba de mim. Ameaço bater nele de novo, mas Nate me para.
- Tá bom, eu repito. Você é minha melhor amiga.
- Sou mesmo – digo enquanto saio de cima dele e da cama.
- Então é por isso que minha melhor amiga vai comigo em uma festa – congelo assim que escuto a palavra festa sair de seus lábios.
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Asas da Fortaleza
RomanceSó porque você mora em uma casa grande e tem uma família rica, não significa que tudo seja perfeito, às vezes aquilo que você mais deseja talvez esteja a milhares de quilômetros de distância e o que mais teme, convive com você. Mas e se o seu maior...