CAPÍTULO 12 - KILLIAN

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Estou no final do expediente, quando noto alguém entrando na oficina.
Droga, quem aparece em uma mecânica na hora em que está quase fechando? Não estou reclamando. Quer dizer, só um pouco. Por mais que eu adore trabalhar aqui, quero chegar logo em casa para comer, estou varado de fome.

Se for aquele corrupto de merda, juro por Deus que eu o tranco do lado de fora, não quero mais ver ele por longos anos. Mas, para minha surpresa, não é ele quem observo, é Ellery Racing.
Reparo que ela está com uma expressão de alívio, acredito que seja porque viu que a oficina continua aberta. Achei que a primeira coisa que ela ia fazer era me agradecer pelo conserto do carro, mas não, ela já chegou reclamando, como sempre.

- Nossa, como eu odeio ter que pegar ônibus. O jeito como as pessoas me encaram é nojento, principalmente os homens. Acho que devo estar desidratada de tanto que um velho asqueroso me secou - ela passa as mãos pelo corpo como se conseguisse se livrar de alguma energia negativa que percorreu seu corpo.

- Oi para você também – falo mesmo sabendo que isso vai irritá-la.

- De novo com isso? – Faz uma expressão de tédio, me fazendo soltar um risinho.

- Se precisa passar por tanta merda só para andar de ônibus, deveria ter me ligado que eu ia te buscar.

- Por que eu faria isso?

- Porque não quero que outros homens fiquem te olhando – digo sério, cruzando os braços.

Ela me encara por um minuto inteiro antes de começar a soltar a gargalhada mais gostosa que já ouvi. Sinto a sensação de algo vibrando em mim. É como se mil raios solares eclodissem em uma luz então forte que irradiasse energia para todos os lugares, inclusive para dentro do meu peito. Que sensação estranha.

Ellery para de rir limpando as lágrimas que escorreram pelo seu rosto.

- Eu realmente imaginei que você se achava um comediante, mas não é pra tanto.

- Tô falando sério.

- Eu também – meu deus, essa mulher me tira do sério.

Quando penso que ela vai me xingar outra vez, noto que seu olhar está buscando por outra coisa, e assim que encontra, ela solta um gritinho e se joga em cima do capô do carro.

- Como eu estava com saudades do meu bebê! Você está inteirinho de novo. Nunca mais me abandone. Passei um inferno sem você hoje - Ellery fala como se esse carro fosse seu bem mais precioso. Essa foi uma interação bem estranha, ainda mais o que ela sussurra depois – Ainda bem que Domenico não descobriu.

- Você tem TDI? - Questiono.

- O QUÊ? - Ela se levanta do carro, me encarando com o cenho franzido.

- Transtorno Dissociativo de Identidade.

- Eu sei o que é isso, seu idiota. – consigo ver sua raiva surgindo.

- Que bom, porque assim fica mais fácil para você ser diagnosticada.

- Para ser diagnosticada?

- Sim, afinal todos os sinais estão aí - aponto para ela.

- Sinais? - Pergunta confusa, cruzando os braços para frente do peito, fazendo que seus seios se sobressaltem pelo decote da blusa que está usando. Essa mulher é uma tentação.

- É, sinais, veja, uma hora você é legal e carinhosa, pelo visto só com o carro e, outra, parece que foi possuída por um demônio. Viu só, já identifiquei duas personalidades, vai saber quantas mais vão aparecer - e essa é a hora em que ela perde o controle e começa a me bater.

Asas da FortalezaOnde histórias criam vida. Descubra agora