CAPÍTULO 1 - ELLERY

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Não sei como descrever as sensações que percorrem meu corpo. Toda santa noite é a mesma coisa, pesadelos e mais pesadelos. Eles nunca param e não sei se um dia irão. Meus medos os tornam cada vez mais reais, o impacto é avassalador, por isso nunca imaginei que dormir tornaria minha vida um caos.

Toda noite é sempre igual e, quando acordo, não consigo compreender o que sonhei, nunca consigo. Mas a sensação sempre fica, aquela que faz com que meu sangue congele, os pelos do meu corpo se arrepiarem e minha garganta fique seca. Aquela que me assombra diariamente, a todo o instante, a morte deles. Pior pesadelo impossível. Mas se de uma coisa eu tenho certeza é que isso jamais vai acontecer. Não vou permitir.

De certo modo, acredito que meus sonhos são algum tipo de aviso, talvez algo ou alguém esteja se aproximando, não tenho certeza, ainda assim sinto que mudanças vão acontecer e pretendo que sejam a meu favor.

Saio da cama e começo a me arrumar para mais um dia da minha pacata vida em São Paulo. Durante o dia, trabalho como babá para a família Parker, eles tem dois filhos, Melissa e Lucas. Normalmente, a menina é tranquila de lidar, apenas quando ela quer se comportar. Aos cinco anos de idade, ela já gosta de me deixar com os cabelos em pé, não para quieta um minuto e adora conversar, meus ouvidos chegam a doer de tantas perguntas que Melissa me faz e o pior é que na maioria das vezes eu nunca sei o que responder. Sou uma péssima babá.

- Bom dia Senhora Parker - cumprimento-a assim que passo pela porta.

- Bom dia Ellery, pronta para mais um dia com as crianças? - ela me pergunta como se eu já não soubesse o que esperar.

- Nasci pronta - não preciso nem questionar onde posso encontra-los quando ouço uma voz de criança gritando e correndo até mim.

- Elleryyyyy, você chegou. Olha o que eu achei ontem no parque, é uma pena preta e branca - Melissa fala com seu jeito doce.

- Nossa, que linda. Nunca tinha visto uma pena diferente assim.

- É porque é pena de zebra - fala rindo.

Não consegui segurar o riso. É cada coisa que essa menina inventa que pelo amor de Deus. A criatividade dela é impressionante.

Direciono-me até o quarto de seu irmão, sei que ele vai estar lá, o menino vive trancado em seu cantinho. Lucas nunca me dá trabalho, com sete anos de idade, ele ainda é quietinho, adora ler e passear com Ralph, seu Pastor Alemão.

Bato na porta e o encontro deitado na cama lendo um livro.

- Tá lendo o que amigão?

- Harry Potter, você gosta Ellery? Eu gosto do Rony, eu tenho o cabelo igual ao dele, isso não é demais! - fala todo empolgado quando me vê.

- Viu que legal. E você que dizia nunca gostar do seu cabelo né.

- Agora eu gosto - responde com um sorriso fofo e envergonhado, ao mesmo tempo em que tenta se esconder atrás do livro.

- Fico muito feliz em ouvir isso.

Aproveito para organizar seus brinquedos e guardar algumas roupas que estavam espalhadas pelo cômodo.

- Que tal irmos tomar um banho de piscina? - ele olha para mim pensativo.

- Ralph pode entrar também?

- Se eu disser que sim, você vai entrar?

- Sim! - Lucas grita enquanto corre para procurar o cachorro.

- Não esquece sua roupa de banho - dou risada, claro que ele não vai pegar.

Procuro Melissa e a convido para se juntar a nós, lógico que ela não recusa. Aquela ali é viciada em uma piscina.

Asas da FortalezaOnde histórias criam vida. Descubra agora