Acordo de bom humor e renovado. O dia em San Diego está muito quente, adoro esse calor, principalmente depois da semana estressante que vivi. Consertar o meu carro e o da Ellery não foi fácil, precisei trocar várias peças dos veículos, pintar e montar tudo de novo, tive a sorte que aqui na oficina temos todos os materiais disponíveis, então não precisei encomendar nada, graças a Deus, se não ia demorar muito mais para ficarem prontos, mas finalmente terminei, eles estão novinhos em folha, nem parece que foram desmantelados.
Aproveito e já arrumo o meu quarto, se não, dona Márcia vai brigar comigo e hoje só quero paz e sossego.
Assim que entro na cozinha, encontro-a apoiada no balcão segurando algumas correspondências. Ela parece meio tensa e pensativa com alguma coisa que viu.
Por isso, decido melhorar seu ânimo. Sorrateiramente, me aproximo sem que ela me ver e seguro sua cintura lhe dando um susto. Seu grito ecoa pelo ambiente, deixando cair no chão o que estava segurando e logo em seguida, se vira rapidamente de frente para mim e começa a me bater e xingar. Minha mãe não precisa nem olhar para meu rosto para confirmar que sou o culpado, ela sempre sabe quando sou eu e dessa vez não foi diferente, só eu teria coragem de provocá-la e de enfrentar as consequências da sua raiva.
- Seu filho da puta! Quase me mata do coração. Quer me fazer ter um ataque cardíaco? Olha que se eu morrer antes de ser avó eu volto para puxar seu pé de noite - fala com a mão no peito e com a respiração ofegante, mas ainda mantendo a cara de irritada.
- Percebeu que você acabou de se chamar de puta? – Dou risada enquanto ela me encara indignada com o que acabei de dizer.
- Só eu posso me chamar de puta, ninguém mais pode.
- Isso ai mãe, devemos sempre respeitar os mais velhos, mesmo que eles não se respeitem – minha cara séria se transforma em uma risada, não consegui evitar.
- Ei, eu ainda sou sua mãe mocinho.
Ajudo-a recolher o que estava no chão e coloco tudo em cima do balcão.
- O que você estava vendo que te deixou tão estranha? – Pergunto de uma vez.
- Nada não, meu filho – sua maneira de tentar me enganar não funciona.
- Mãe? – A encaro com uma sobrancelha arqueada e de tanto insistir ela acaba cedendo.
- São só algumas contas do hospital. Como eu disse, nada de mais – passo as mãos no cabelo preocupado com a situação. Será que é só isso ou ela está escondendo algo? – E antes que você diga que quer ajudar, esse é um problema meu, então você não vai se meter – seu jeito doce é encantador.
- Como não, dona Márcia? É lógico que vou ajudar, e isso é um problema nosso – digo com firmeza.
- Killian, vou repetir, não quero sua ajuda – cerra os olhos em minha direção.
- Tô nem aí, vou ajudar sim – acabo me excedendo e gritando. - Você passou por quase tudo sozinha, isso não vai acontecer outra vez. Você venceu o câncer e agradeço todos os dias pela senhora ter sido forte e corajosa, mas eu não pude estar ao seu lado fisicamente e sabe que tentei fazer de tudo para estar. Não te ajudei antes, mas agora que posso não vou ignorar a situação e deixar você arcar sozinha com todos os custos dos tratamentos – minha mãe me analisa com um olhar triste, sei o que ela está pensando, já que é a mesma coisa que eu estou, infelizmente.
- Filho... – a interrompo.
- Não mãe, vou fazer o que é certo e quero estar ao seu lado em todos os momentos – a abraço e sussurro em seu ouvido. - Eu amo a senhora e sinto muito por tudo.
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Asas da Fortaleza
RomanceSó porque você mora em uma casa grande e tem uma família rica, não significa que tudo seja perfeito, às vezes aquilo que você mais deseja talvez esteja a milhares de quilômetros de distância e o que mais teme, convive com você. Mas e se o seu maior...