CAPÍTULO 7 - KILLIAN

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Ai que ódio. Essa garota me tira do sério. E ainda por cima me deixou de pau duro. Filha da mãe.

Vou ter que trabalhar de graça agora, que droga! Esse dinheiro seria muito bem vindo.

Ela com certeza não gosta de mim, mas confesso que estou adorando tirar ela do sério. Uma baixinha agressiva com raiva é muito sexy. 

- Quem era aquela que acabou de sair? Ela parecia estar muito puta com você. Não me diga que era uma cliente e você a espantou com essa sua cara feia? – meu tio Jorge chega me perguntando. 

- Quanta consideração que você tem por mim, tio. E não, ela não é uma cliente, é só alguém pra quem eu to fazendo um favor.

- Que história é essa Killian? Você não faz favores pra ninguém. Me explica direito o que tá acontecendo, porque pelo jeito a situação não acabou muito bem, já que o carro dela está com a lateral amassada – ele fala enquanto olha para o carro de Racing, ao mesmo tempo em que eu procuro disfarçar minha expressão de culpa, assobiando. – Ah, espera um pouco ai, foi você, não foi? Você é o responsável por isso?

- Culpado – levanto as mãos. - Mas pra deixar claro, nunca tive a intenção de que isso acontecesse 

- Agora não importa mais. Vamos arrumar essa belezinha, mais ação e menos papo – dei risada quando tio Jorge se retirou. Caminho em direção ao automóvel para verificar o estrago. O Mustang GT está com um grande amassado na porta esquerda do passageiro, provavelmente vai precisar ser trocada, bem como o espelho retrovisor externo que também foi destruído.

Em seguida, fui constatar os danos sofridos pelo meu carro, que claro, ficou bem pior. Além de apresentar os mesmos estragos do veículo de Ellery, está com a parte traseira toda danificada, o vidro estilhaçado, o para-choque e as luzes quebradas. 

É, vou ter bastante trabalho, espero não encontrar mais nenhum problema. Tenho trabalho suficiente para mais de uma semana.

***

Sentado na cadeira do escritório, mergulho em pensamentos destrutivos.

Às vezes me pergunto se as coisas não teriam sido diferentes se ele estivesse por perto. Grande parte da minha vida, nunca quis que ele estivesse presente, mas não posso negar que gostaria de saber como seria essa outra realidade. O que teria mudado? Quais seriam as lembranças boas que me fariam feliz hoje em dia? 

Não sei dizer as respostas para essas perguntas. 

O meu eu criança gostaria muito que esse sonho tivesse se realizado, porém nada foi como ele queria. Em geral, é foda por a culpa em alguém, mas remorso é a última coisa que sinto, tenho certeza que se meu pai participasse da minha vida, nada teria acontecido da forma que aconteceu, ou quem sabe, talvez tudo poderia ter sido mil vezes mais complicado. Sinceramente, não sei. Mas a criança em mim teria gostado se ele estivesse ao seu lado nos piores momentos, ou ter lhe aconselhado em alguma situação.

Não adianta pensar mais no passado, nada vai voltar a ser como antes. Ele fez a escolha dele e sua família não fazia mais parte de seu futuro, sua esposa e seus dois filhos não eram importantes.

E essa é a verdade, não lembro mais do meu pai e nem quero ter a oportunidade de relembrar. Esse foi o preço que ele pagou por ter ido embora e esquecido de nós. 

A culpa é dele, sempre será dele.

O meu eu atual odeia pensar nesse assunto, mas é inevitável, de vez em quando ele surge em minha mente e a raiva domina tudo. 

Por que ele nos abandonou? Por que nunca ligou? Porra, ele ainda me considera seu filho?

Porque para mim, ele não é mais meu pai. 

Asas da FortalezaOnde histórias criam vida. Descubra agora