CAPÍTULO 15 - FLASH BACK - PARTE 1 - ELLERY - 8 ANOS

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Hoje em dia, quando os professores perguntam para a turma o que queremos ser quando crescermos, gosto de pensar que eu seria uma boa médica. Me imagino cuidando dos pacientes, receitando medicamentos para melhorar suas saúdes e, principalmente, salvando suas vidas. Isso com certeza seria incrível.

Assim que contei essa ideia para minha mãe, um sorriso maravilhoso surgiu em seu rosto, e sua resposta, claro, animou muito mais meu dia. Ela me disse que independente da profissão que eu escolher, sempre estará me apoiando e ficará orgulhosa da minha escolha, e que se eu realmente quero ser médica terei que me esforçar muito e batalhar para conquistar e merecer essa carreira tão sagrada e aprender a enfrentar a dor e a morte, mas também celebrar a cura e a vida.

Tenho ciência de que não será nenhum pouco fácil, mas como mamãe gosta de dizer, “nada é bom quando se vem fácil”. Suas frases são sempre inspiradoras, queria também ter essa habilidade incrível, saber constantemente o certo a se dizer.

Sei que ainda tenho oito anos e que posso muito bem mudar de ideia daqui a algum tempo, mas por enquanto me imagino sendo a melhor médica do mundo, meus pacientes serão muito bem tratados e medicados, ficando fortes e felizes.

Não cogito mais a hipótese de comentar esse tipo de coisa com meu pai, nunca fomos realmente próximos, mas depois da fatalidade que mamãe e toda família sofremos, ele se distanciou ainda mais. Raramente está em casa, mas quando está, fica discutindo comigo e minha mãe. Ninguém superou realmente o que aconteceu, só se passaram dois anos, foi uma perda que abalou todos nós, eu, por exemplo, penso em meu irmão quase todas as noites, sonho em como seria se ele estivesse ao meu lado quando meus pais brigam, sei que eu estaria o protegendo, cuidaria dele com todo o meu ser.

Mas, infelizmente, às vezes esses pensamentos me fazem ficar mais triste ainda, e perdi a conta de quantas fronhas de travesseiro tive que trocar por conta das minhas lágrimas que as ensoparam.

Papai diz que eu não deveria chorar por algo que não foi forte o suficiente para ter vida.

Discordo completamente do que ele disse.

Sinto nojo quando ele diz esse tipo de coisa. É repugnante. 

Acho que cada um sofre o luto de uma maneira diferente, enquanto meu pai está cagando e andando, o resto de nós se apega às pequenas lembranças que existiram e focamos nelas para seguirmos em frente sem desabar.   

Enfim, cada um é cada um, não posso mudar o que já está fixo em suas mentes como um maldito concreto inquebrável.

Voltando para a realidade, minha mãe me trouxe ao shopping para comprarmos decorações de festa e um vestido para o meu aniversário. Estou muito ansiosa, adoro aniversários, especialmente quando é o meu.

Estamos em uma loja que contém diversas opções de temas decorativos, um mais lindo que o outro.

- Então, querida, já se decidiu? – Mamãe pergunta enquanto passa a mão em meu cabelo.

- Ainda não. Não sei qual escolher – digo, olhando para as princesas da Disney, os super-heróis, a Barbie e o jardim encantado. – Ai, que decisão difícil. 

- Sei que não é fácil, meu amor. Você só precisa escolher aquela que te deixa mais feliz.

- Mas eu gosto de todos – reclamo.

- Querida, tente respirar um pouco e pensar com calma. Abra sua mente.

Faço o que ela disse, fecho os olhos e imagino milhares de possibilidades, mas tento focar na que mais me anima, no meu filme preferido.

- Alice no país das maravilhas – sussurro, ainda de olhos fechados.

- Sabia que ia escolher esse.

Abro os olhos e a encaro.

Asas da FortalezaOnde histórias criam vida. Descubra agora