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MAIO DE 2000

Ele gostava de observá-los em momentos como esses.

Com o sol animando o campo, uma profusão de flores irrompeu, competindo entre si em uma batalha de cor e aroma. Brincando em ditas flores estavam dois cães: um tão grande quanto um urso e preto como a noite, o outro ainda apenas um filhote com pelo vermelho-dourado em cachos fofos. Ele podia vê-los além do muro baixo de pedra que cercava sua propriedade, desaparecendo em altos crescimentos de urze e emergindo caindo, rosnando, latindo e abanando seus rabos.

Severus recostou-se no pequeno banco, as palmas das mãos espalmadas na madeira retorcida e o rosto inclinado para cima para saudar o sol, os olhos se fechando contra o brilho. Era um dia ameno, com uma brisa gentil brincando em seus cabelos e o cheiro de flores silvestres pintado sobre o cheiro mais suave do lago próximo. Até mesmo o chilrear incessante dos pássaros canoros era abafado de alguma forma, amortecido pelo pano de fundo de galhos balançando e grama suspirando. O latido dos cães parecia distante, embora estivessem bem à vista.

Ele não merecia essa vida, ele sabia. Ele tinha feito muita coisa errada no mundo para consertar. Mas durante dias como esse, ele conseguia esquecer disso. Ele achava muito mais fácil viver por Sirius e Chara do que viver por si mesmo, e a exibição brincalhona deles era uma garantia de que ele tinha feito a escolha certa.

Snap! O cachorrinho pulou e agarrou-se ao rabo do pai, e-

"YIPE!" Sirius a sacudiu. Ela pousou em um pedaço de trevos e rolou de costas, sua língua balançando e seu rabo chicoteando o chão tão violentamente que pedaços de folhagem voaram para o ar.

Severus nunca foi muito fã de animais, mas tinha que admitir que Chara era completamente adorável - quando ela não estava roendo os móveis.

"Jogo sujo!" A voz de Sirius subiu a colina enquanto ele se mexia, esfregando o traseiro em uma tentativa de aliviar a dor fantasma em sua cauda agora inexistente.

"Você não estava prestando atenção!" Os cachos voaram sobre a cabeça de Chara enquanto ela se levantava sobre suas pernas agora humanas. Ela estava sorrindo descaradamente.

"É mesmo?" Sirius mergulhou para ela, levantando-a no ar enquanto ela gritava de alegria. "Vou fazer você ficar de castigo por isso, eu vou!"

A paternidade combinava bem com Sirius, pensou Severus.

Era apenas uma de uma série de noções semelhantes que estavam cutucando sua mente ultimamente. Sirius era um bom pai, um pai melhor do que ele tinha o direito de ser. Chara o adorava. A energia dele combinava com a dela, e ele podia brigar e brincar com ela de maneiras que Severus era simplesmente reservado demais para sequer tentar.

Você já pensou em ter outro?

Sirius lhe perguntou isso uma ou duas vezes, especialmente desde que se mudaram para esta casa pitoresca. A nova casa deles tinha três quartos no andar de cima. Atualmente, o extra estava sendo usado como um escritório improvisado, mas Severus frequentemente se pegava levando seus materiais para o porão, onde eram mais úteis para seu trabalho.

Aposto que Chara gostaria de um irmão.

Ela já tinha perguntado, na verdade. Ela tinha três anos e estava começando a aprender sobre relacionamentos entre pessoas. Quando soube que a Tia Ginny tinha seis irmãos, ela perguntou por que ela mesma não tinha irmãos. "Eu também gostaria de um irmão", ela anunciou naquela noite enquanto Severus a colocava para dormir. "Posso pedir um para o Papai Noel?"

"Você pode perguntar, minha querida, mas ele não será o único a lhe dar uma", foi sua resposta.

Não era que Sirius o tivesse importunado sobre isso. "Se você nunca quiser ter outro, a escolha é sua", ele disse, mas Severus sabia que ele estava fazendo uma concessão. Sirius lhe dissera uma vez, quando o relacionamento deles ainda era novo e incerto, que queria filhos, ênfase no plural. "Dois ou três", ele dissera com um olhar melancólico no rosto. Depois de tudo que eles passaram com Chara, no entanto, Severus tinha certeza de que Sirius nunca lhe diria abertamente que queria outro. A gravidez era um inferno para a maioria das pessoas; para Severus, trabalhando como espião para a Ordem e o braço direito de Voldemort, tinha sido quase insuportável. E depois...

Um morcego e seus cães ( TRADUÇÃO )Onde histórias criam vida. Descubra agora