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JULHO DE 1998

A primeira vez foi um desastre.

Severus pensou que ficaria bem, apesar de sua trepidação. Quando Sirius os deixou sozinhos, ele tinha um plano: seguir seu dia normalmente e interagir com Chara o máximo possível. O apartamento estava bem abastecido com lanches por insistência de Sirius. "Dê a ela uma fatia de calabresa e ela te amará para sempre", ele disse.

"Então por que não está funcionando?" Severus suspirou.

No momento em que Sirius saiu, Chara começou a procurá-lo. "Papai!", ela chamou, cambaleando pela sala de estar compacta, pressionando o rosto contra as paredes de vidro que davam para seu pequeno canto de Londres. "Papai!", ela choramingou, enfiando a cabeça nos dois quartos, fazendo beicinho quando Sirius não apareceu. "Papai!", ela gritou, andando em círculos na cozinha, lágrimas de frustração se formando em seus grandes olhos azul-acinzentados.

Durante todo esse tempo, Severus a deixou vagar. Ele não queria assustá-la perseguindo-a. Mas quando ela começou a fungar e choramingar, ele convocou uma fatia de pepperoni da geladeira, esperando que isso funcionasse.

Ele tinha testemunhado a maneira como ela se acalmava instantaneamente quando Sirius fazia isso, então ele não sentiu medo em se abaixar e oferecer a guloseima a ela. Ele ficou completamente pasmo quando Chara deu uma olhada e começou a chorar.

"Pa-paaaaaaa!" ela gritou, e Severus recuou, deixando cair o pepperoni enquanto recuava.

"Chara," ele disse calmamente, "Sirius está fazendo recados. Ele vai voltar logo." Suas palavras não tiveram efeito. Ela passou correndo por ele, seu trote fazendo um staccato de seus soluços.

"PA- PA- A- A- A- A!" ela gritou, parando no meio do caminho entre a entrada do corredor e a seção entre as salas de jantar e de estar.

Ele não conseguiu lidar com isso. O pânico dela era contagioso, fazendo seu coração bater descontroladamente contra sua caixa torácica. Ele sacou sua varinha e disparou uma faísca prateada dela, a forma da corça mal teve tempo de se formar antes de sair correndo do apartamento. "Ele vai voltar logo", ele disse, embora isso não tenha feito nada para impedi-la de chorar. Ela olhou para ele uma vez, seu rosto manchado de lágrimas era uma agonia para ele, e então correu para a sala de estar para olhar pelas janelas novamente, suas mãos batendo contra o vidro da placa arritmicamente.

Sirius chegou instantaneamente; Severus podia ouvir o estalo de sua aparição do lado de fora da porta. Ele irrompeu por ela um segundo depois, tão frenético quanto o resto de sua pequena família. "O que há de errado? Onde ela está?"

Severus apontou, e Sirius foi até ela, caindo de joelhos e pegando-a em seus braços. "Oy, o que houve? Chara! Qual é o problema?"

O efeito foi instantâneo. As lágrimas de Chara pareceram secar imediatamente. "Dada!" ela o abraçou então, enterrou o rosto no ombro revestido de couro. "Dadadadadada!"

"Ela... Ela não parava de chorar," Severus murmurou, desviando o olhar da cena. Ele não conseguia suportar assistir. Seu coração ainda estava dando cambalhotas no peito, e ele não conseguia lidar com a pressão dele quebrando a cada aperto da mãozinha dela em volta dos dedos de Sirius.

"Está tudo bem," Sirius disse. "Eu não fui muito longe. Tive um pressentimento de que isso aconteceria. Ela não vê ninguém além de mim há muito tempo. Teremos que tentar trechos mais curtos. Começar menor... Sev?"

Severus já estava fechando a porta do quarto, sem se importar com Sirius chamando por ele. Seu rosto queimava de vergonha. Como ele pôde fazer isso com seu próprio filho? Era verdade o que as pessoas estavam dizendo sobre ele: ele não merecia o perdão que recebeu, nem os elogios e prêmios por seu papel na guerra. Ele não era um herói. Ele não podia nem ficar sozinho com sua filha sem aborrecê-la. Ele deveria ter permanecido na prisão, deveria ter sido jogado em uma vala para apodrecer com o resto do lixo da sociedade.

Um morcego e seus cães ( TRADUÇÃO )Onde histórias criam vida. Descubra agora