Um morcego e seus cães ( TRADUÇÃO )

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MARÇO DE 2005

Apesar da imagem de atleta idiota que as pessoas tendiam a ter dele na escola, Sirius não era, de fato, estúpido. Remus sabia disso. Muitos de seus professores também sabiam, embora ele nem sempre se concentrasse em atividades acadêmicas. Suas notas nunca eram ruins, mas ele achava o trabalho de classe um pouco chato. Ele preferia muito mais a emoção de resolver um quebra-cabeça, descobrir um problema ou encontrar maneiras de contornar as regras. O trabalho escolar era tão rígido, e havia tantas outras coisas fascinantes para estudar.

Como um tal de Severus Snape.

Ah, ele era obcecado naquela época, e ele admitia isso. Ele pode até se considerar obcecado agora. Observar Severus já foi seu passatempo; ainda era. Ele achava o homem infinitamente fascinante, e o casamento não havia diminuído sua curiosidade nem um pouco.

Ele estava bastante confortável em dizer que agora sabia mais sobre Severus do que qualquer outra pessoa viva. Severus era uma contradição ambulante, alguém que se importava profundamente, mas afetava um ar de perfeita indiferença para com aqueles ao seu redor. Ele era frio, rígido, cruel às vezes; ele também era terno e chorava rápido nas circunstâncias certas. Ele tomava seu café preto e seu chá sem açúcar ou leite, mas com um toque de limão. Seu sabor de doce favorito era alcaçuz. Ele gostava de sentar do lado de fora à noite e assistir ao pôr do sol. E ele nunca, nunca dizia às pessoas abertamente o que estava sentindo.

Isso não incomodava Sirius nem um pouco. Que Severus nunca lhe dissera que o amava, bem, isso era apenas parte de quem ele era. Sua resposta às admissões de Sirius, quando provocado com um "Eu te amo", era um suave e quase tímido "E eu, você". Ou então ele sorria daquele jeito doce e cauteloso dele e se inclinava para um beijo. Ou ele bufava e se virava, se Sirius estivesse dizendo isso para apaziguar uma discussão entre eles (sempre funcionava). Nunca ele mesmo dissera essas palavras, nem expressara verbalmente tais sentimentos sem primeiro ser provocado.

A única vez que Sirius o ouviu dizer isso foi para os filhos, quando eles eram pequenos e propensos a se aproximar dos pais com um descarado, "Eu te amo, mamãe! Eu te amo, papai!" Então Severus retribuía o sentimento em um murmúrio, quase inaudível, exceto para aqueles que estavam ouvindo. Mas ele nunca dizia isso a eles diretamente, até onde Sirius sabia.

O que ele fez em vez disso foi mostrar seu amor. Foi por isso que Sirius nunca duvidou do que sentia. Severus era alguém que demonstrava suas emoções por meio de ações e gestos. Frequentemente, Severus olhava para ele com tanta ternura nos olhos que Sirius quase conseguia ouvir as palavras no ar entre eles. Eu te amo era expresso na maneira como Severus sempre cozinhava suas refeições sem reclamar (embora ele insistisse que isso era porque a comida de Sirius era péssima). Ele prestava muita atenção a todos os pequenos detalhes, planejando cada dia com uma dedicação tão meticulosa que Sirius se sentia completamente inútil. Ele preparava poções difíceis para abastecer seu armário de remédios, não confiando nos boticários famosos para cuidar de sua família. Ele tolerava outros entes queridos de Sirius, incluindo Remus, e esse era um ato que dizia, eu te amo MUITO.

Quando as palavras foram ditas, então, pela primeira vez, Sirius ficou um pouco desprevenido.

"Eu te amo!"

Sirius abriu os olhos. Era bem tarde. Momentos atrás, ele tinha experimentado o orgasmo mais intenso de sua vida (sem se importar com as outras vezes em que pensou isso) e eles tinham acabado de se separar com os lençóis grudando em seus membros suados. E essa frase tinha sido proferida enquanto a tempestade o varria, enquanto seus corpos ainda trabalhavam um no outro. Só agora o eco disso estava voltando à vanguarda de sua mente.

Ele virou a cabeça para olhar para Severus, uma mera sombra na escuridão do quarto deles. "O quê?", ele perguntou, inseguro de ter ouvido direito.

Silêncio foi a resposta. Ele escutou enquanto a respiração de Severus se estabilizava; ele já estava dormindo.