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JANEIRO DE 2002

Momentos como esses fizeram tudo valer a pena.

No fundo de sua mente, Severus ainda achava que não merecia nada disso. Um lar, uma vida, um marido amoroso e dois filhos adoráveis; nenhuma dessas coisas deveria ter sido feita para ele. Ele era muito feio, muito perverso, muito danificado para qualquer uma dessas coisas. Mas desde o fim da guerra, essa voz foi lentamente sendo abafada pelas outras.

Por Potter, que insistiu que era um herói e não um covarde egoísta.

Por Minerva, que afirmou ter sacrificado muito mais do que o necessário.

Por Molly, que estendeu a mão em sinal de amizade.

Por Sirius, que o defendeu veementemente de qualquer um que lhe fizesse mal, que afirmou com força e ênfase seu direito de amar e ser amado.

Acima de todos os outros, porém, eram seus filhos cujas vozes eram mais altas. Com um deles com menos de um ano de idade e o outro ainda muito jovem e cheio de energia, eles o deixaram com pouco tempo para duvidar de si mesmo. Quando aquela velha voz falou, quando sussurrou que ele ainda era a mesma criatura desagradável que sempre foi, seus filhos intervieram com alguma nova necessidade ou desejo - exigindo sua atenção, roubando seu tempo e efetivamente silenciando quaisquer pensamentos de que ele não era mais necessário neste mundo.

Ele se dedicou inteiramente à paternidade porque não lhe restava mais nada. Era exaustivo na melhor das hipóteses. Deixava-o completamente esgotado de corpo e alma. Mas tudo valia a pena para ver seus filhos prosperando, crescendo e se tornando pequenas pessoas por direito próprio. E Severus ficava satisfeito nos momentos de silêncio, como este momento agora, sentado na janela e embalando Asterion para dormir.

Lá fora, havia uma cena chocante e ofuscantemente branca: neve pesada caía no chão, sufocando a paisagem em um mundo de branco e branco e mais branco. As árvores estavam carregadas dela. O muro de pedra que cercava sua propriedade estava enterrado em montes dela. O céu parecia refleti-la, até mesmo, com as nuvens cinza mais claras que Severus conseguia se lembrar de ter visto. Estava um frio congelante lá fora. Gotas de orvalho escorriam pelo parapeito da janela enquanto o ar gelado encontrava o encanto de aquecimento atmosférico que amplificava o calor da lareira no andar de baixo. Era um mundo de silêncio, deixando apenas o rangido da cadeira de balanço enquanto ele empurrava o chão com os dedos dos pés.

Asterion estava doente na semana passada e estava apenas começando a se recuperar, seu narizinho entupido e suas bochechas manchadas de olhos lacrimejantes. Ele também estava estranhamente agitado, necessitando do uso da cadeira de balanço para colocá-lo para tirar sonecas. Era eficaz e oferecia um tempinho de descanso para qualquer pai que mais precisasse de paz e sossego. Na maioria das vezes, era Severus; Sirius não tinha paciência para sentar, balançar e esperar o bebê dormir, sempre acordando cedo demais e tirando Asterion de sua calmaria.

Na pálida luz do sol de inverno, as bochechas de Asterion pareciam macias e quentes, e Severus não conseguiu resistir a passar um dedo levemente sobre elas. Com seus cílios tremulando apenas levemente, Asterion deu um suspiro satisfeito e aninhou-se no contato, e Severus sentiu seu coração enredado novamente. O que quer que ele pensasse sobre si mesmo e seu direito de aproveitar esta vida, seus filhos eram tão incomparavelmente queridos para ele. Apesar de si mesmo, ele podia sentir o sorriso puxando seus lábios.

"Oi mãe!"

Ele suspirou enquanto Asterion choramingava em seu sono e se virou para ver a origem do barulho: Chara, entrando na sala com um bastão de ouro brilhante na mão.

"Fale baixo," Severus a advertiu. "Acabei de fazê-lo dormir."

"Desculpe," Chara disse sem nenhuma tentativa de manter a voz baixa. "Você viu meu Sparkloscribe?"

Um morcego e seus cães ( TRADUÇÃO )Onde histórias criam vida. Descubra agora