Capítulo 25 🌻

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Duas semanas atrás

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Duas semanas atrás

Han SiWoo

Depois de bastante tempo andando e procurando pelo endereço que Nami me passara, eu estava lá, em frente a casa que costumava morar em vida.
Por fora realmente parecia o lar dos sonhos para qualquer um, mas olhando por dentro...a sala de estar não parece tão convidativa igual a da vovó Im. É tudo tão branco, cinza e preto que sinto como se nuvens carregadas de uma tempestade forte estivessem nublando meu coração. É exatamente o tipo de casa que você sente arrepios toda vez que termina seu expediente e pensa: Vou encher a cara. Porque cair bêbado na rua é melhor do que voltar para sua própria casa; pelo menos é essa a minha primeira impressão.

Eu tenho algum tempo até que Nami chegue da escola, então decidi olhar a casa um pouco, procurando por memórias perdidas na minha cabeça; talvez eu possa desbloqueá-las já que com certeza passei mais tempo aqui do que na escola ou qualquer outro lugar.
Como o previsto, a casa de Nami é muito mais aconchegante. Todo cômodo que entro aqui é sério demais... É mais do que óbvio que cada decoração foi inteiramente projetada por um adulto sem esperanças e que vive cada dia como se fosse o mesmo.
Ainda esperando que meu lugar de criação fosse um pouco melhor do que apenas grande e espaçoso, procurei por quadros que tivessem uma foto com minha família toda reunida e sorridente, porque tinha esperança de que pelo menos isso se parecesse com o lar feliz de Nami; tudo o que encontrara foram duas grandes molduras douradas, uma com uma foto minha e a outra com SiWan,ambos com expressões sérias e vazias, o que me deu arrepios dos pés a cabeça, me lembrava fotos que são colocadas em velórios.

Atravessei rapidamente pela porta de madeira, encontrando a sala de jantar, que não tinha muito além de uma grande mesa de vidro com pernas escuras, as cadeiras tinham a mesma cor. A única decoração que foge dos tons apagados que a casa possue, é um pequeno vaso de flor, que logo constatei ser artificial quando me aproximei para sentir o perfume que as rosas vermelhas tinham.
Suspirei de desânimo ao puxar uma cadeira, me sentando na mesma, passando a mão pelo vidro liso e nem polido da mesa, deitando a cabeça na mesma...não pensando muito, só desanimado por não ter conseguido uma memória sequer em quase meia hora andando nessa casa; talvez eu encontre mais em meu quarto, queria olhar o primeiro cômodo antes de subir para o segundo, mas foi uma tremenda perca de tempo, então decido ir para lá.

Quando estava levantando a cabeça, notei uma pequena estrutura de madeira na parede, que guarda algumas garrafas de vinhos caros. Abaixo da mesma uma pequena prateleira com uma garrafa vazia do que eu suponho ser whisky, um copo de cristal ao seu lado. Me levantei para conferir, achando o copo muito bonito e atrativo. Posso jurar que parece ter diamantes encrustados nas suas laterais, mas provavelmente era essa a impressão que quem o fez queria passar.
Levei minha mão até o copo, que estranhamente estava me atraindo feito uma mariposa atraída pelo calor, e no instante que meu dedo indicador tocou sua superfície, minha visão escureceu com o choque estonteante que me atingiu repentinamente.
Em um momento eu estava em pé perto da prateleira, mas em um abrir de olhos estava sentado na mesa novamente, porém...é como se tivesse uma antiga e mais jovem réplica minha, porque eu estou em pé ao seu lado. Há um belo jantar servido por toda a extensão da mesa, e no final dela uma pessoa cujo a face está borrada, mas presumi ser um homem pelo terno escuro que o mesmo veste. O semblante do Han sentado é de nervosismo, e ele revesa seu olhar entre o vidro transparente e o homem na outra ponta da mesa, que parece encará-lo com rigidez.
Escutei um som rouco e soube que vinha do estômago de Han, e o mesmo engoliu em seco quando levou sua mão direita até o garfo e a esquerda a faca, ambos distribuídos de lados diferentes, o prato com um pedaço grande de bife, disposto no meio entre os talheres.
Han cortou um pedaço da carne com as mãos trêmulas, mal conseguindo fatiar a mesma, mas levou até a boca o pedaço de bife mal passado quando obteve êxito. O observei mastigar a carne suculenta, engolindo com uma dificuldade aparente, como se estivesse tendo cuidado ao ser obrigado a comer uma pedra que, a qualquer momento, entalaria em sua garganta.

Antes que meu eu antigo, que tem cabelos escuros e ondulados, pudesse cortar um novo pedaço do bife, algo atingiu seu rosto, assustando a mim. Han soltou os talheres ao ser atingido repentinamente. Soube que o objeto era um copo pelo som estridente do cristal que quebrou ao colidir com a parede; em estado de choque, pelo susto, observei paralisado um líquido amarelado espalhar pelo chão, os cacos de vidro também estavam presentes por parte do cômodo,e o cheiro de álcool forçou entrada pelas minhas narinas, me deixando mais tonto pelo susto.

A última coisa que vi foi o Han de cabelos negros levantar trêmulo e com hesitação a cabeça para olhar o homem que o ferira na sobrancelha, o sangue escorrendo rumo ao seu olho, sujando o chão de vermelho. Quando um clarão repentino me obrigou a fechar os olhos com força, eu estava em um quarto, e soube que era o meu quando vira a mesma prateleira que apareceu em minha memória. Tentando ignorar o que ocorrera agora pouco, mesmo com o corpo ainda em choque,me aproximei para pegar um dos diários, mas fui interrompido por vários flashes brancos, que vinham sem intervalo, deixando-me sem rumo, sem qualquer reação, e eu apenas consegui ceder a dor das minhas pernas, que começaram a falhar, me fazendo deitar no chão que é coberto por um carpete cinza; cada clarão era como um pequeno flash de memórias, mas tão rápido e borrado que não me permitia vizualizar nada além da dor que comprime minha cabeça, como se a mesma estivesse prestes a explodir e espalhar meus miolos por todo o cômodo.

Os flashs eram intermináveis, seguindo um pós o outro, não me dando qualquer escolha se não gritar em plenos pulmões para que parassem, e mesmo assim era inútil.
Quando finalmente deram-me algum descanso, eu ainda me sentia dolorido, marcado pela dor; permaneci deitado, o peito correndo acelerado, todo meu corpo trêmulo e as lágrimas ainda terminavam seu trajeto pelo meu rosto. Não tenho qualquer coragem de abrir os olhos pelo medo de que mais memórias me atinjam dolorosamente como agora pouco.

Pior do que sentir toda essa dor, é saber que não obtive nenhuma resposta. As memórias estavam completamente embaçadas, e tudo que eu escutava era uma voz distorcida que gritava palavras indecifráveis. A única coisa que sei é que o corte em minha sobrancelha foi causado por um copo...e isso explica porque a marca só aparecera quando eu tocara nos cacos de vidro na casa de Nami; a avó da garota me dissera que a cicatriz tinha alguma relação com meu passado, e agora eu sei bem que o homem com a face borrada é o responsável por isso.
Levei a mão até meu rosto, sentindo o relevo em minha sobrancelha, resultado do copo que me acertara, e só então tomei coragem para, aos poucos, abrir os olhos. Minha visão estava turva por conta das lágrimas que ficaram ali, então, com dificuldade, me sentei e esfreguei os olhos com os punhos, melhorando a minha visão.

Todo meu corpo já havia estabilizado...mas meus batimentos voltaram a atrevessar um ao outro, porque agora tudo que vejo é uma vasta escuridão, e não havia nada além do mais puro vazio.
Agarrei meus cabelos em desespero.

— Onde...eu estou?! — Balbuciei com o medo que se instaurou por todo eu.

Não há nada além de mim.
Nada.
É como se eu fosse um pequeno resto de peixe, que foi sendo devorado por vários outros até sobrar uma micro partícula, que foi para o mais fundo e escuro do oceano.
"Socorro", foi o que quis gritar, mas nem forças para isso me restaram. Então voltei a me deitar, abraçando os joelhos e me encolhendo igual uma sardinha enlatada...porque é a única coisa que posso fazer nesse imenso e frio vazio sem saída.

porque é a única coisa que posso fazer nesse imenso e frio vazio sem saída

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