Han SiWoo
Quando o relógio apontou sete e quarenta da noite, Nami finalmente se deu por vencida e decidiu deixar para escrever o resto de seu discurso em casa; isso mesmo, Minho estava certo: Nami conseguiu se tornar representante de turma. E sim, eu ouvi a conversa deles. Se é que pode chamar aquilo de conversa...
Acompanhei Nami em seu trajeto silencioso até sua casa, a garota colocou seus pequenos fones de cor lilás e ignorou o mundo — inclusive eu.
Após poucos minutos estávamos na frente do portão de grades brancas, a garota deu um "olá" para o segurança que conferia as pessoas que entravam e saíam antes de seguirmos nosso caminho para casa.Seria estranho dizer que seu condomínio parece com um lugar criado por anjos? Isso realmente passou pela minha mente mais vezes do que poderia contar; todo o trajeto da portaria até onde ficam as residências é coberto por pequenas flores de variadas cores que enfeitam as calçadas, as árvores tem folhas bem verdes e cheias,com tamanhos e formatos igualados que trazem um sentimento de conforto e a rua é bem preenchida e regular, os tijolinhos das calçadas...São pintados em diferentes tonalidades de amarelo, justo a minha cor favorita!
Agora sim eu entendo as reportagens constantes que passaram na televisão sobre a competição por uma casa neste condomínio, ele tem uma estética calma e relaxante, então quem não gostaria de morar aqui?
Eu não me considerava realmente um escritor, mas era algo que eu amava fazer em meus tempos livres, e tudo que eu queria agora era me sentar em um desses bancos de madeira envernizada — que ficam sempre debaixo de alguma árvore — e passar horas escrevendo algo que se parecesse com esse condomínio maravilhoso.— Eu já volto, não toque em nada. — avisou, jogando a mochila para dentro de seu quarto e agarrando a toalha estendida na porta do mesmo.
Cerrei os olhos para a garota, que sequer respirou ou bebeu um pouco de água antes de entrar feito um foquete para dentro do banheiro.
— Não é como se eu pudesse tocar em algo, de qualquer forma...— murmurei.
Escutei a porta do banheiro bater e logo depois o estalo da tranca.
Nami frequentemente se esquecia que eu estou morto e me dá ordens ridículas como a de agora pouco, por isso fiz questão de irritá-la o final de semana todo pedindo que ligasse a televisão e mudasse de canal várias e várias vezes. Bom, foi divertido por um tempo, até ela desconectar da tomada e dizer que ninguém usaria a televisão até que sua avó voltasse... ela realmente sabe acabar com a graça dos outros.Suspirei pesado, observando os arredores da casa... amava fazer isso. Bom, não em vida, mas quando se é um fantasma não há muito o que fazer para se divertir; agora entendo porque existem lugares assombrados: é simplesmente tédio!
Felizmente eu sou um fantasma bonzinho e só gosto de irritar as pessoas, na verdade, só a Nami.Nunca me canso de dizer o quão bonito é esse lugar...A Vovó Im tem realmente um bom gosto; a casa toda tem uma decoração alegre e calma, com cores não tão fortes ou chamativas que trazem conforto para os olhos, junto de um ar tranquilo desde a entrada. É como se te convidasse para entrar.
Tão difícil quanto deixar de amar essa casa é deixar de notar os muitos quadros de família espalhados pelas paredes...todos tão sorridentes que me dão inveja; perto da lareira, mesas de centro e canto e paredes...mesmo que as molduras sejam pequenas, ainda cabem grandes sorrisos.
Em momentos sozinho, quando Nami está dormindo ou ocupada com algo, eu me pego olhando para casa uma dessas fotos, tentando me lembrar se havia pelo menos uma imagem em minha casa em que eu estivesse sorrindo com meus familiares...
Bom, se há, certamente nenhuma me vêm à memória.
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Faíscas Espectrais - Livro 1
EspiritualO que você faria se recebesse a notícia que seu maior rival da escola cometeu suicídio? Pior: o que faria se o mesmo aparecesse em sua casa no meio da madrugada...como um fantasma?. Essa é a história de Im Nami e Han SiWoo, dois jovens que tiver...