Parte I: Prólogo

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Uma figura solitária observava de longe uma luxuosa mansão nos arredores de Cheongdam, de onde se descortinava Seul. Das janelas da residência, até mesmo à noite, tinha-se uma vista maravilhosa dos contornos da cidade.

Não que a figura conseguisse focar nessa perspectiva.

Seu verdadeiro objeto de interesse era quem ali residia, o ser com poder para subjulgar qualquer outro de sua espécie. A meio quarteirão da residência, que mais parecia uma fortaleza, ele passou a se sentir cansado e esquisito, e seus músculos começaram a tremer. Não era de espantar que ela governasse o seus sem nenhuma objeção. Ninguém conseguia sequer pisar dentro de seu domínio sem permissão, quanto mais desafiá-la fisicamente.

Em breve, porém, ela seria desafiada. E sua posição tomada.

Perto dali, um carro estacionou e sua porta se abriu. As costas da figura se retesaram e seus sentidos se puseram em alerta.

Um homem de físico imponente começou a andar na sua direção com as mãos nos bolsos do terno caro.

A figura deixou a proteção das sombras e caminhou até o homem de maneira rápida e silenciosa.

– Estou aqui – chamou.

O homem parou a sua frente.

– Consegui o que queria – murmurou, em tom sério.

O homem pegou a pasta que lhe era oferecida e a abriu. Suas mãos pálidas vasculharam, ansiosas, a pilha de documentos de valor inestimável enquanto ele imaginava o que aquelas informações lhe proporcionariam em breve.

Ele ergueu os olhos e fitou a figura a sua frente.

– Está tudo aqui?

– Sim, tudo que consegui reunir nos últimos meses.

– Alguém viu você?

– Não. E se tivessem visto jamais desconfiaram de alguém como eu.

– As vezes me esqueço da sua posição dentro da Irmandade – Ele encarou a figura com um olhar cético. – Por gerações imaginei que sua espécie fosse incapaz de trair uns aos outros. Estou impressionado.

– Você nos subestima.

– Acredite, eu jamais faria isso. Agora vá, não podemos ser vistos juntos sobre hipótese alguma.

A figura assentiu e voltou pelo caminho de onde viera.

O homem o observou escalar um edifício com facilidade, depois desaparecer nas sombras. Murmurou uma maldição e cuspiu no chão. Trabalhar com seu inimigo era algo que desgostava. Durante anos, ele se mantivera distante, observando, à espera do dia em que poderia limpar aquela cidade.

Minha cidade.

Naquela noite, sua paciência parecia ter sido recompensada. Ele havia desferido um golpe contra a confiança dela na segurança de sua própria Irmandade e se aliado a um dos seus preciosos membros. Com certeza podia esperar mais um pouco antes de se movimentar para poder destruí-la.

Seus olhos recaíram sobre a pasta em suas mãos, então a fechou e voltou para o seu carro. Em um segundo, acelerou de Cheongdam para a rua mais abaixo e desapareceu na noite.

Moonless Night - WinRinaOnde histórias criam vida. Descubra agora