Ariany POVHoje foi um dos plantões mais difíceis que já enfrentei. Uma jovem de 17 anos morreu após uma parada cardíaca. Nossa equipe tentou de tudo, mas, infelizmente, não conseguimos salvá-la.
Parei para tomar um café, tentando afastar a imagem daquela garota da minha mente. Sua juventude, o futuro que ela nunca terá. Mas o pior de tudo foi dar a notícia para a família. A dor que vi nos olhos dos pais dela foi devastadora. Sofre quem fica.
Sentei-me em uma cadeira na sala de descanso, segurando a xícara de café com as mãos trêmulas. A imagem dos pais desolados, o choro incontrolável da mãe, e o olhar perdido do pai me assombravam. Tentei me concentrar na minha respiração, mas a realidade daquele momento era esmagadora.
Fernanda, que também fazia parte da minha equipe, chegou até mim. Ela parecia tão mexida com a situação quanto eu, mas tentei me manter forte para não deixar transparecer meus sentimentos. Afinal, eu era a chefe da equipe e precisava ser o apoio para meus colegas.
— Ariany, como você está? — perguntou ela, sua voz cheia de preocupação.
— Estou bem, Fernanda. Só precisava de um momento para processar tudo isso, e você está bem? — respondi, tentando soar mais confiante do que realmente me sentia.
Ela assentiu, sentando-se ao meu lado. — Na medida do possivel. Foi um plantão difícil para todos nós. Eu... não consigo parar de pensar na garota e nos pais dela.
Suspirei, sentindo o peso das palavras dela. — Eu sei, é devastador. Mas precisamos continuar fortes. Nossos outros pacientes precisam de nós agora mais do que nunca.
Fernanda olhou para mim, seus olhos estavam tristes. — Você sempre parece tão forte, Ariany. Não sei como consegue.
Dei um pequeno sorriso, tentando transmitir alguma segurança. — Não é fácil, Fernanda. Mas estamos aqui para fazer o nosso melhor, mesmo quando é difícil. E nos apoiamos uns aos outros. Isso é o que importa.
Ela respirou fundo, parecendo se acalmar um pouco. — Você tem razão.
Levantamos juntas e voltamos ao trabalho, tentando deixar para trás o peso do que aconteceu. Cada paciente era uma nova oportunidade de fazer a diferença, e precisávamos nos concentrar nisso.
Enquanto caminhava pelos corredores, verificando os pacientes e coordenando a equipe, sentia uma nova onda de determinação. A dor e a tristeza ainda estavam lá, mas transformadas em um impulso para continuar fazendo o melhor possível.
A noite passou mais tranquila, com alguns pacientes que precisavam mais de nossa atenção, mas nada muito fora do controle. A equipe estava coordenada e focada, e conseguimos manejar todas as situações com eficiência.
Finalmente, estava dirigindo para casa, exausta mas aliviada por ter superado mais um plantão. Enquanto o carro deslizava pelas ruas ainda silenciosas, meus pensamentos se voltaram para Gabriel. Fazia tempo que não passávamos um momento especial juntos, e sabia que ele sempre conseguia iluminar meus dias mais sombrios.
Pensei no que poderíamos fazer. Talvez uma ida ao parque, ou quem sabe um passeio de bicicleta. Gabriel adorava atividades ao ar livre, e eu sabia que precisava de um pouco de ar fresco depois de uma noite tão intensa.
Ao chegar em casa, fui recebida por um silêncio tranquilo. Subi as escadas, tentando não fazer barulho, e espreitei o quarto de Gabriel. Ele ainda dormia, abraçado ao seu dinossauro de pelúcia favorito. Senti um calor no coração ao vê-lo tão sereno.
Sempre mantive o pensamento de nunca falar muito sobre nada que acontecia no hospital. Não queria misturar o pessoal com o profissional. Tomei um banho rápido e refrescante, sentindo a água lavar a exaustão do plantão.
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Amor sem medidas (LÉSBICO)
FanficHelena Smith, uma ex-consultora de negócios de Londres, retorna ao Brasil após um doloroso divórcio e a doença de seu pai. Sob sua aparência firme, ela esconde um coração partido por sonhos desfeitos. Em outra parte do Rio, Ariany Savoia, destemida...