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Eu estava em casa, era um dia chuvoso lá fora, estava com medo e podia pressentir que algo iria acontecer.

Ouço batidas fortes na porta, levanto e caio. A porta se abre mesmo sem eu ter destrancado, vejo uma silhueta masculina cruzar a porta acompanhado de um clarão de um raio.

- O que é isso? - minha visão é a pior.

- Sina, não achou que iria conseguir esconde-lo de mim pra sempre achou? - a voz de meu chefe.

Tentei me por de pé, mas ele passou por mim antes de eu firmar as pernas.

- Vou levá-lo, você não poderá vê-lo nunca mais está me ouvindo?

Se ouvia um choro, um choro de bebê e ficava cada vez mais alto. Corri para tentar impedi-lo.

No fim das contas não consegui, desejei voltar ao passado, ao dia em que descobri sobre minha gravidez.

Como uma miragem branca, uma névoa tomou me entorno e de repente eu estava no escritório a frente dele.

Noah Urrea a minha frente, trabalhando e revisando quilos de papeladas como sempre.

De repente ele para, abaixa os óculos de leitura e me olha como se atravessando minhas células.

Eu já havia estado naquela mesma cena inúmeras vezes, todas as noites em que trabalhávamos até tarde e o clima parecia bom.

- O que quer Srta. Deinert? - era a voz dele, mas a boca não se mexia.

Parecia estranho.

- Eu... - estava congelada e não tinha a mínima ideia do que estava acontecendo.

- Diga. - disse ele em tom de ordem. - E diga de uma vez.

- Senhor... eu... - comecei, mas sem ter condições de reunir as palavras certas.

Ele se levantou de trás de sua cadeira e veio até mim, parando na minha frente tão próximo que recuei com um passo atrás.

- Quer esconder isso mais quanto tempo, Sina? Diga! - a pressão que ele tinha sobre mim era tanta que em algum momento não tinha a certeza de que estava respirando.

Algo acontece, sinto uma espécie de toque sobre a minha cabeça e meu corpo parece relaxar sem explicação.

- Vamos, Sina!

- Noah. - tomo a coragem que não sei de onde vem. - O bebê é...

Não consigo admitir, travo e antes que tenha novamente a coragem para continuar, sinto meu corpo se chacoalhando.

Abro os olhos, percebo que estava em um pesadelo e tenho Noah a minha frente.

Eu ainda tenho o meu bebê, então me abraço instintivamente protegendo-0.

- Sina, sente algo? Tem algo errado com o bebê? - ele me bombardeai com as perguntas.
- O quê? Não, não, estamos bem. - respondo o que posso entender.

Vejo-o me encarar, desvio o olhar para fora e posso notar o sol raiando do lado de fora.

- Quero ir pra casa. - digo me levantando e saindo do quarto.

Posso sentir seu olhar preso em mim. Não sei o que se passa na cabeça do meu chefe, mas se ele chega a desconfiar de algo...

- Não quero pensar sobre isso. - digo a mim mesma descendo as escadas. - Ficaremos bem. - acaricio meu ventre e sorrio sentindo ele chutar.

[...]

La fora a lua está brilhante no céu, meu pescoço dói de tanto encarar as paisagens da janela do carro.

Não tenho vontade de olhá-lo, não quero olhar para ele. Sei também que ele me olha, minha pele arrepia com a intensidade de seu foco em mim e tento não perder minha sanidade.

- James, preciso de uma parada. - digo faltando menos de uma hora para chegarmos a cidade.

- Sem problemas. - ele responde gentil como sempre.

- Obrigada.

O silêncio é instalado outra vez, dez minutos a frente e paramos em um posto de gasolina.

Coloco o pouco que tenho em meu estômago para fora e quando me dou conta, ele está atrás de mim segurando meus cabelos para trás.

- Senhor, esse é o banheiro feminino. - digo correndo para pia e lavando o rosto.

- Há alguma coisa que eu precise saber? - a pergunta vem do nada.

- E-eu não sei. - falho com o nervosismo.

- Achei que fosse uma pessoa transparente Srta. Deinert.

- Senhor, não há nada que deva saber, posso cuidar de meus assuntos. - respondo firme e saio o mais rápido que posso para voltar ao carro.

Eu e James aguardamos no carro, mas mais de dez minutos e nada dele aparecer. O chofer então resolve ir vê-lo, mas para depois de um passo quando o avista sair da loja de conveniência.

- Tome, este é para você James. - Noah Ihe entrega uma sacola com um pequeno balde fumegante.

- Obrigado, senhor. - James sorri e se afasta para uma mesa no posto de descanso.

- Este é seu, mas se não gostar troque comigo. - ele estica uma sacola com o mesmo de James e aceito para não trocar palavras.

Olho mais de perto e percebo que é lamen. Poderia esperar para chegar em casa e comer, mas já passavam da meia noite.

Havia dormido até às duas da tarde na casa da Sra. Smith, logo tirei outra soneca no carro e por fim adormeci no motel. Se fosse fazer as contas, estava quitando o sono atrasado dos últimos meses.

Voltando para o balde de macarrão e pedaço de carne com legumes, bastou cinco minutos para que já não restasse mais nada.

- Não devia tê-la deixado dormir tanto, mal comeu o dia todo. - ele murmurou enquanto limpava o canto esquerdo de minha boca com o guardanapo.

- O-obrigada. - gaguejei.

Antes de qualquer clima se fazer pesado, sou salva por James que adentra o carro e nos põe em rumo a cidade novamente.

Não demora muito e chego em casa, estou desesperada para me ver longe de meu chefe e quando acredito na liberdade de estar frente a meu apartamento, ele diz:

- Não desfaça as malas, teremos um voo de negócios dentro de três dias.

- O quê? - sem me dar mais resposta o carro parte.

Mesmo cansada da demorada viagem, deixei a mala de lado e agarrei o iPad em busca da agenda do fim de semana.

Lá estava. Voo de negócios a Acapulco, Guerrero, para a fase final da entrega do projeto.

O maldito lugar havia sido o começo de tudo, eu só estava nesta situação por culpa da viagem de negócios de agora quatro meses atrás.

- Não irei nesta viagem, nem morta!

𝑺𝒆𝒄𝒓𝒆𝒕𝒔Onde histórias criam vida. Descubra agora