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Noah Urrea.

Como ela podia esconder? Liana estava certa?

Qualquer pergunta que surgisse a minha mente teria de esperar. O soro correndo na veia de Sina me deixava ansioso, ansioso para acabar e para que ela despertasse.

A minha secretária me devia boas explicações, e apesar do que Liana disse e das sensações e recordações passadas, eu tinha de ouvir de sua boca.

Não queria me iludir e também não queria descontar em Sina se fosse apenas loucura coletiva. Muitas coisas dependiam dela abrir os olhos, mas uma delas não.

Como acompanhante de Sina no hospital, a obstetra me deixou ficar para a ultrassonografia e ali pude ver o quão bem o bebê se movia apesar dela estar desmaiada.

- É um menino mesmo? - perguntei por curiosidade.

- É sim. Um meninão. - a doutora disse e mostrou-me fotos das ultrassonografias passadas.

Eu podia até não enxergá-lo muito bem, mas apenas o fato dele existir já me deixava bobo.

[...]

Enfim, de volta ao quarto pela tarde, Sina despertou. Seus olhos desviaram a vistas dos meus - naquele momento fazer a pergunta foi por pura formalidade - seu comportamento já dizia tudo.

- Sina, quem é o pai do bebê? E dessa vez, não fuja.

- Não importa, de verdade. - ela virou de lado sem responder-me.

- Vamos, esconder mais para quê? - ela se senta a cama.

Me aproximo para ajudá-la com os fios e a agulha em seu braço.

Ela por um instante tateia a barriga, parece estar mais desperta e também preocupada.

- O bebê está bem, eu mesmo o vi. - respondi acariciando o volume.

- Noah... não. - ela retira minha mão.

- Qual o problema, Sina?

- Quer que eu admita?

- É exatamente o que eu quero. - fico de pé ao lado da maca.

- Pois aí vai! - suas palavras saíam altas demais e seus olhos verdes se enchiam de lágrimas. - O bebê é seu!

- Eu sabia. - digo em um misto de alívio e raiva por tanto tempo de espera.

- Mas isso não significa ser pai, Noah.

Suas palavras me confundiram e balancei a cabeça a olhando, queria uma explicação, não tinha ideia do que ela falava.

- Sabe por que sempre escondi? - ela jogou a pergunta, mas não esperou que eu respondesse. - Porque já tive alguém como você em minha vida.

- Alguém como eu?

- Voltamos de viagem e a primeira coisa que fez foi voltar ao trabalho, também me fez trabalhar tanto quanto antes. - ela dizia em tom acusatório. - Isso só provou que você continua o mesmo viciado em trabalho de sempre, Noah.

- Sina, não é assim... - tentei me explicar, mas ela pouco quis ouvir.

- Meu pai era um viciado em trabalho, minha infância inteira não foi importante para ele. Nunca me deu um pingo de atenção sabe... E isso dói mais que tudo em uma criança. - as lágrimas escorrem por seu rosto e eu começo a entender.

- Eu não vou ser assim, eu não sou como ele, Sina!

- É o que diz agora, Noah, mas nem mesmo se lembra de que passamos uma noite juntos.

- Em minha defesa estávamos bêbados.

- E em minha defesa não quis lembrá-lo de algo que preferiu esquecer. - ela diz sem mediação.

Saio de perto e ando de um lado a outro no quarto, parando de frente a sua maca e faço a pergunta que temo a resposta.

- Não me quer com vocês, é isso?

- Não vou privá-lo de ser pai, mas terá que fazer por merecer, Noah. - ela diz tão séria como nunca. - Este bebê precisa de um exemplo e não de uma sombra em sua vida.

- Eu entendo, Sina, e isso muda aqui e agora. - digo convicto e me aproximo beijando sua testa.

- Sabe o que está prometendo? - ela questiona enxugando as lágrimas.

- Não estou prometendo, estou te jurando pela minha vida. - respondo e a vejo suspirar aliviada.

A abraço, quero confortá-la, fazê-la ver que posso ser bom para os dois e no fundo desejo mais que tudo, que ela não saia nunca mais do meu abraço.

𝑺𝒆𝒄𝒓𝒆𝒕𝒔Onde histórias criam vida. Descubra agora