Prólogo

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A maioria das histórias começam quando tudo se inicia, mas a minha vai começar diferente, vou começar pelo dia em que tudo acabou - talvez começou, é difícil saber - vou tentar contar como exatamente aconteceu.
A estrada estava movimentada como sempre, pessoas seguindo suas vidas, voltando para suas casas. Segui o caminho meio que no modo automático, conhecia aquela estrada como as palmas de minhas mãos. Cheguei no bar Black Star, a letra "L" do letreiro estava apagada fazendo parecer que estava escrito "Back Star" .
Entrei no bar, mesmo em uma segunda-feira estava cheio. Ali dentro estava a mesma coisa, as paredes pintadas de vermelho e preto, os mesmos tipos de pessoas se embebedando para afogar as mágoas, as luzes piscando deixando minha visão ofuscada. Andei até o balcão, o balconista cheio de tatuagens veio até mim.
- O que a linda garota deseja hoje? - Perguntou.
- Duas tequilas. - Falei.
Ele saiu e depois de alguns minutos voltou com dois pequenos copos e colocou em minha frente. Entornei o líquido em minha boca de uma vez só, desceu queimando pela minha garganta, o que foi muito bom. Peguei o outro copo e fiz o mesmo. O balconista me olhou e sorriu.
- Agora um cerveja, por favor. - Pedi.
Eu não conseguia acreditar no que o Jason fez, mais uma vez estragou tudo, mais uma vez fazendo minha vida um inferno, depois de tudo não deveria sentir mais nada por ele, mas ele bagunçou tudo, até escutar seu nome fazia com que meus órgãos parecessem está sendo revirados. Aqueles olhos, que mesmo olhando tanto para eles nunca conseguia saber se eram verdes ou azuis.
Soquei o balcão e gritei um palavrão, senti os olhos de todos se virando para mim, mas não me importei, continuei bebendo até meus dedos ficarem dormentes. A música ecoava em minha cabeça que já estava latejante e rodopiando. Me levantei e andei até a pista de dança, isso me impedia de lembrar do idiota do Jason e de todo o mal que ele me fez. Não vi o garoto se aproximar, e no minuto seguinte já estava dançando com ele e depois o beijando, sem nem mesmo ter olhado direito em seu rosto.
- Vamos para um lugar mais reservado? - Ele sussurrou em meu ouvido.
Dei um sorriso torto e o puxei para fora do bar, olhei para meu relógio já era 2h30 da manhã de terça-feira, meus amigos deviam estar preocupados comigo, mas eu não me importava. Ia levar esse desconhecido para meu carro dirigir para um lugar deserto e transar com ele, tirar a imagem do Jason da minha mente.
Olhei para o rosto do garoto, ele tinha cabelos pretos, a pele morena e os olhos de um castanho claro, era bonito, graças a Deus.
Ele me puxou para seu colo e me beijou, sorri e o puxei até meu carro.
Dirigi igual uma louca, o cara passava a mão em minha perna, e eu ria igual uma vadia. Olhei para ele, mas não vi seu rosto, vi os olhos azuis/verde, o cabelo loiro e o enorme sorriso, mas tudo se apagou dois faróis altos vinham em direção do meu carro me deixando cega, uma bucina alta, e então o choque do caminhão contra carro nos arrastando, o mundo girou quando o carro capotou e eu não vi mais nada. Só lembrei de um poema que eu adorava quando era mais jovem.

"Lá se vai a doce menina
que de tanto amor quase enlouqueceu,
que de tanto chorar aprendeu.
Inocente menina
correndo pelo campo
saboreando de cada doce fruta da vida
amor,
carinho
e compreensão.
Mas depois de tanto tempo e sofrimento
os sabores não são mais os mesmo.
É tudo amargo, se tornou
ódio,
apatia
e dor."

O carro capotou mais uma vez, uma dor devastadora em meu braço.

"Corre,
querida menina,
seu amor está para chegar
você tem que se embelezar."

Um grito abafado.

"E ele chegou, ela toda linda
perfumada e vestida com seu mais belo vestido.
Disse que o amava,
mas ele não a respondeu.
Sozinha chorou,
o seu grande amor a deixou."

O carro parou de girar, eu estava de cabeça para baixo, sangue escorria em meu queixo.

"E então ela saiu
com suas amigas bebeu
e quase enlouqueceu,
inocente menina,
deitada em seu travesseiro
chorou
e ali ela sangrou
isso pela dor
de perder
seu grande amor."

Podia ver as estrelas brilhando acima de mim, e aqueles olhos azuis/verdes que sempre me perseguiram. E o mundo se apagou.

Cicatrizes: Quanto um amor machuca?Onde histórias criam vida. Descubra agora