Capítulo 13

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           - Vai querer de qual sabor? - Perguntou Jason.
          - Hum... - Decidi o sabor de sorvete é uma coisa bem difícil. - Morango.
          - Já volto.
          Ele caminhou em direção ao carrinho de sorvete. Estávamos no parque, o sol escaldante queimando acima de nossas cabeças. Era um dia bonito, o som de pássaros, grilos, das folhas sendo sacudidas pelo vento em meio as buzinas dos carros, gritos de crianças e latidos dos cães. Jason caminhava em minha direção com dois sorvetes na mão, ele balançou a cabeça tentando afastar o cabelo dos olhos. Sorri e ele sorriu de volta.
          - Morango para dama, e chocolate para o perfeito cavalheiro. - Falou sentando ao meu lado.
          - Perfeito cavaleiro? - Perguntei rindo.
          - Mas é claro. Loiro, alto, de olhos verdes... - Respondeu ele.
         - Verdes? - Perguntei rindo.
         - Verdes.- Repetiu. - Por quê?
         Olhei para ele, os olhos brilhavam ainda mais claro por causa da luz do sol. Mesmo ele falando que eram verdes, não conseguia ter certeza da verdadeira cor, para mim sempre seria uma mistura de verde e azul.
         - Nada. - Falei.
         Ficamos por alguns minutos parados olhando o grande gramado e as pessoas que se divertiam em volta de nós. Um homem jogando uma bolinha para seu cão. Um menino brincando de correr atrás de uma menininha.  Um casal que se beijava freneticamente.
          - Me dá um pouco do seu sorvete.- Falou ele por fim.
          - Eu não, você tem o seu. - Falei rindo.
          - Não seja egoísta, Meli.
          - Eu não estou sendo.
          - Está sim.
          - Você é extremamente chato.
          - Eu sei, agora me dá.
          Trocamos os sorvetes.
          - Não gosto de morango. - Falou ele.
          - Então pediu por quê? - Perguntei.
           - Não é porque não gostamos de uma coisa que não devemos dá uma chance de experimentar.
           - Algumas coisas não merecem uma chance. - Falei. - tipo, beterraba.
           Ele sorriu.
           - Você tem razão, beterraba não merece uma chance.
           Tomamos os sorvetes em silêncio e deitamos lado a lado olhando o céu. Jason segurou em minha mão e olhou para mim. Foi como se o mundo inteiro estivesse desaparecido, como se houvesse só nós dois, como se sempre fosse haver nós dois. Não conseguia ficar perto dele sem sentir alguma coisa, sem que eu sentisse tudo, o amava e isso era meio feliz, meio triste, tudo ao mesmo tempo. Desviei o olhar para o céu.
          - Aquela nuvem parece um pão. - Falei apontando para o céu.
         Ele riu.
         - Um pão? - Perguntou.
         - É. - Respondi rindo.
         - Sua imaginação é fértil.
         Continuei apontando para o céu e mostrando nuvens que pareciam coisas bizarras.
         - E se tiver um Deus lá encima? - Falou ele.
        - O que?
        - Um Deus, fazendo exatamente o mesmo, apontando o dedo para nós.
        - Isso é meio assustador, o dedo dele seria muito maior que o nosso. - Falei rindo.
       - E ele poderia apagar nossa existência com ele?
      - Sim, acho que sim.
      Fechei os olhos e podia sentir que ele estava me olhando, como se lasers queimassem minha pele, era uma sensação boa. Segurei para não rir.
         - Por que está me encarando? - Perguntei.
          - Você é bonita. - Respondeu ele.
         Sentir meu rosto corar.
          - E está ficando vermelha. - Completou.
         - Cala boca, Jason.
         Ele riu.
          - Você me odiou, Meli? - Perguntou.
          Abrir os olhos e o encarei.
          - Sim. - Respondi.
         Ele olhou para o céu e depois voltou a olhar para mim.
         - E ainda me odeia?
         - Às vezes.
         Ele engoliu em seco.
         - Você nunca me olha como se me odiasse. - Falou.
          - Olhar é só uma questão de jeito, Jason. - Falei. - Você não sabe o que eu sinto.
         - Eu sei o que eu sinto.
         - E o que você sente? - Perguntei com medo.
         - Que eu quero te beijar.
         Foi como se eu tivesse levado um tiro na barriga, ou tivesse andando na maior montanha russa do mundo. Meu coração parecia querer pular pela boca.
         - Então beija.- Falei.
         Ele segurou meu queixo e tocou os lábios nos meus. No primeiro momento foi um beijo delicado, amoroso. No segundo momento foi algo totalmente diferente, como se estivesse morrendo de sede e aquela fosse minha única fonte de água. Passei meus dedos pelo cabelo dele, logo acima da nuca, e puxei, coloquei toda minha raiva, frustração e tudo que guardei dentro de mim por anos naquele beijo. Quando íamos nos afastar mordi o lábio inferior dele até sentir o gasto de sangue. O encarei, o cabelo lustroso estava desalinhado fazendo ele parecer devasso, a boca cortada já inchando. Ele era tão lindo, cada traço de seu rosto parecia ter sido perfeitamente desenhado. O cabelo, as pálpebras semi-fechadas. Ele me olhava como se não pudesse me perder de vista, como se eu fosse a mais bela obra de arte e ele tivesse que me analisar. Toquei seu rosto como se para ter certeza que aquilo era real, que ele realmente estava ali. Eu o amava de uma forma avassaladora.
          Rolei para cima dele e o beijei de novo, me segurando e repetindo para mim mesma que estava em um lugar público.
          - Vamos para casa? - Perguntou ele.
          - Vamos.- Falei.

Cicatrizes: Quanto um amor machuca?Onde histórias criam vida. Descubra agora