Capítulo 18

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         Passei a noite ali segurando a mão dela. Não me importava mais nada, somente ela, minha Meli. Imaginar que ela jamais poderia acorda era a coisa mais terrível que já me aconteceu, imaginar um mundo sem Melina Foster era insuportável. Sabe, quando passamos por momentos difíceis nossos cérebros parecem agir como nossos próprios inimigos, imaginamos as coisas mais terríveis. Era como ser destruído a cada segundo. Adormeci segurando a mão dela.
       Quando acordei não tinha noção de que horas eram, Meli continuava no mesmo estado, pálida e vazia. Tentei ignorar a dor em meu corpo provocada por ter dormido sentado em uma cadeira dura. Olhei em volta, o espaço estava mais iluminado, podia ver os outros pacientes deitados em seus leitos, alguns ainda com uma aparência mais doente do que a de Meli, outros já acordados rodeados daqueles que os amava. Tenho que confessar que sentir inveja deles, queria que minha Meli estivesse acordada, queria ouvir a voz dela, ter o prazer de ver seu sorriso, ou gritando comigo como sempre fazia, não me importava, só queria que ela estivesse bem. Chorei baixinho.
        - Ei. - Escutei uma voz me chamar.
        Levantei o rosto, um menino estava parado em frente a cama de Meli. Ele estava vestido com uma daquelas roupas de hospital, parecia ter uns oito anos, não tinha pelos no corpo, exceto os cílios, os olhos azuis se destacavam.
         - Oi. - Falei enxugando as lágrimas que insistiam em cair.
         - Você deveria conversar com ela. - Falou o menino. - Minha mãe falou que eles escutam.
         Olhei para ele por um tempo.
         - Você deve ter razão. - Falei olhando para Meli. - Ela deve ser capaz de escutar.
         O menino se aproximou de mim, passou o dedo em minha bochecha secando uma de minhas lágrimas.
         - Então não chore. - Falou. - Tenho certeza que ela não gosta de te escutar chorando.
         Ele se virou e foi embora, e eu chorei ainda mais, não era como se eu pudesse controlar. Em algumas ocasiões não nos restam nada além das lágrimas.
        - Meli. - Falei baixinho. - Se você puder me escutar, saiba que estou aqui... Desculpa por tudo, tá? Acorda, não faz isso comigo... Estou esperando por ti.
        Não vi Bárbara se aproximar, ela tocou em meu ombro me dando um susto.
        - Jason. - Falou ela me dando um beijo na bochecha.
        - Oi. - Falei forçando um sorriso.
        Ela acariciou meu cabelo.
        - Você deveria ir para casa, descansar um pouco.
        - Quero ficar com ela. - Disse.
        - Jason, você vai acabar ficando doente. Eu fico com ela.
       - Qualquer coisa você me liga?
       - Claro. - Bárbara sorriu. - Pode ir tranquilo.
       Beijei o rosto de Meli e fui para casa. Precisava tomar um banho, preparei a banheira e entrei aproveitando a sensação da água quente em meu corpo dolorido. Meus pensamentos giravam como um pião. Queria paz por um segundo, afundei minha cabeça na água. Talvez no silêncio meus pensamentos pudessem cessar. Na água desprovida de sons o mundo e suas tristezas pareciam desaparecer, permaneci na posição até o ar existente em meus pulmões acabar para assim voltar à superfície. Saí da banheira puxando todo o ar possível para meus pulmões. O rosto dela estava em todos os lugares, todos. Me deitei na cama dela, ainda tinha seu cheiro, chorei até que dormir.

         Dois meses se passaram o estado de Meli continuava o mesmo. Ela já havia passado por três cirurgias, mas ainda tentávamos manter as esperanças. Nesse tempo não conversei muito com meus amigos. Mantínhamos uma rotina para fazer companhia a Meli. Acho que nunca falei tantas coisas para ela como naquele período, mesmo não podendo me responder, sentia um paz quando estava falando com ela, imaginava as coisas que me responderia, como responderia. Sentia tanta falta dela. Observa o rosto dela todas as noites, agora que as feridas já começavam a desaparecer ela parecia está em um sono profundo, era tão linda. Os lábios carnudos, a pele sedosa, traços simétricos e milhares de outros detalhes que podiam ser minuciosamente observados. Fechava os olhos e podia imaginar o lindo sorriso dela, que para mim já era uma lembrança distante. Podia desenhar aquele rosto com perfeição. Todas as noites antes de dormir sussurrava para ela pedindo que acordasse.
         Naquela tarde Victor estava mais estranho que o normal, quando ele chegou para ficar com a Meli, me pegou pelo braço e me levou para fora do hospital. Ele parecia irritado, ou louco. O cabelo estava bagunçado, tinha olheiras profundas, parecia cansado. Imaginei como eu estaria, com toda certeza não muito melhor.
         Do lado de fora, observei as nuvens carregadas que finalmente tomava conta do céu. Uma brisa passou pelo meu rosto, me dando uma sensação de bem estar pela primeira vez em semanas. Aquele céu cinzento sempre combinou mais comigo do que um céu iluminado e colorido pelo sol.
        - Ou, o que foi? - Perguntei.
        Victor respirou fundo.
        - Pode me falar.- Falou Victor.
        - Falar o que?
        - O que aconteceu com você e a Meli, vocês vem agindo estranhos, estavam juntos, não é? E depois ela saiu e aconteceu o acidente. O que aconteceu?
       - Nada. - Menti, não queria contar a verdade para ele, já me sentia culpado, não queria que me apontassem o dedo. - A gente estava bem.
       - Não mente para mim, Jason. - Falou ele apontando o dedo para meu rosto.
      - Não aconteceu nada. - Falei em um tom mais alto.
      Ele me empurrou, engoli em seco. O Victor tendo uma reação violenta era algo raro. Sentir raiva e depois um sentimento de vazio, segurei as lágrimas.
      - Eu e ela transamos. - Falei. - Ela achou que íamos ficar juntos, mas... Ela falou que me amava, entrei em desespero... E falei que não amava ela. Ela saiu e aconteceu isso... É tudo minha culpa.
       Olhei para Victor, ele estava com os punhos fechados, esperei o soco que não veio, mas eu desejei que viesse, merecia aquele soco. Mas ele só me olhou, a decepção visível no olhar. Aquilo me levou a uma grande tristeza, meu coração parecia quase não bater. Era um tum tum fraco. Quase morto.
        - Jason... Some daqui, você é um canalha. - As palavras eram como agulhas penetrando em minha carne, senti meu rosto ficando vermelho, sentia vergonha. - Tem noção de como magoou ela?
      - Victor, eu...
      - Cala a boca e saí da minha frente. - Falou ele.
      Corri para o carro e fui direto para o único lugar que eu conhecia que poderia ficar sozinho.

Cicatrizes: Quanto um amor machuca?Onde histórias criam vida. Descubra agora