Cicatrizes: Quanto um amor machuca?

Capítulo 17

          O mundo ao meu redor ainda estava turvo, era como se eu não pudesse focar em nada, escutar nada, o rosto de Meli e sua voz estavam em todo lugar. Apenas segui Victor e Bárbara até o hospital. Nunca me sentir tão sozinho como naquelas horas e às horas que há seguiu, a culpa me consumia a cada segundo.
        O hospital estava vazio, exceto por uma criança chorando e sua mãe, um homem de cadeira de rodas e um idoso solitário. Andamos até a recepção, e uma mulher com uniforme azul nos recebeu.
         - Boa noite. - Falou com um sorriso cansado.
         - Boa noite, nós viemos procurar pela Meli, em que quarto ela est... - Bárbara chorando diz apressada.
         - Calma, Babi! - Fala Victor, acalmando ela com o braço em seu ombro. - Procuramos por Melina Foster, ela sofreu um acidente agora pouco. - Seu tom calmo era irritante. Como ele podia permanecer assim naquela situação?
        - Claro, recebemos uma acidentada agora pouco. Sigam o Douglas, nosso enfermeiro, ela estar no quarto 18. - Diz a mulher, apontando para um homem que estava vindo do corredor em nossa direção.
         - Senhorita... - O homem checa alguns papeis. - Bárbara Oliver?
         - Aqui. - Bárbara anda na direção dele, o cabelo loiro estava preso em rabo de cavalo, ela parecia tão frágil, os olhos já inchados de tanto chorar.
         - Ótimo, venham comigo.
         Andamos pelos corredores silenciosos do hospital. Odiava tudo aquilo, os cheiros que emanavam daquele lugar... Doença, morte, tristeza. A cada passo meu coração parecia esta sendo encolhido dentro do meu peito. Eu não devia está ali... Meli não merecia. Acho que ninguém merecia, era um lugar horrível. Chegamos no quarto 18, estava nervoso, com as mãos suando geladas. E então a vi, mas aquela não parecia ser a Meli. Tubos entravam e saiam de seu corpo, máquinas e mais máquinas ajudando ela respirar, medindo seus batimentos cardíacos. Aquela não era a minha Meli. Minha Meli era diferente, irradiava uma força através de cada célula do seu corpo, fazia qualquer lugar que estava iluminar com apenar um sorriso. Mas ali, naquela cama parecia outra pessoa. Tão pálida, infeliz, machucada... Vazia. Seu braço direito tinha um profundo machucado, uma das  pernas tinham pontos recém feitos em toda coxa e canela e a outra engessada até um pouco embaixo do joelho. Seu rosto estava com um corte que ia da bochecha ate o queixo, cortando um pouco do lábio. Meu coração e minha cabeça estavam em profunda confusão, medo e dor, não conseguia pensar em nada a não ser em:
        "Foi por minha causa".
         Queria apenas voltar no tempo e impedir aquilo. Andei até ela e segurei sua mão, imaginando como estava segurando aquela mesma mão horas antes, ainda era quente e macia, ainda era a mão da minha Meli. Tinha sido tão idiota, nunca iria me perdoar por aquilo.
        Enquanto analisava seu corpo tão machucado, Bárbara e Victor conversam com Douglas. O enfermeiro passava as informações de como ela se acidentou, de que estava com outro homem e altamente alcoolizada, mas que de acordo com a polícia a errada não foi ela, e sim o motorista do caminhão que vinha na direção contrária.
         - E quanto a ela? - Perguntou Bárbara chorando baixinho - Qual o estado dela?
         Olhei para o enfermeiro, ele mostrava cansaço em cada palavra, gesto.
Victor olhava para Meli, um olhar que transmitia todo o seu amor, amizade e carinho que tinha por ela, vi uma lágrima rolar em seu rosto, ele logo a limpou.
         - O estado dela é grave, ela teve várias fraturas. - Falou o enfermeiro, ele passou a mão nos cabelos pretos. Olhava para Bárbara como se tivesse com... Pena? - Uma lesão cerebral grave, a inconsciência causada por essa lesão pode durar semanas ou meses, e se ela acordar os danos podem ser graves. - Ele fez uma pausa. - Se  ela acordar... Sinto muito.
         Olhei para Meli, as pálpebras fechadas tremiam como se ela estivesse dormindo e tento um pesadelo, como se fosse acordar a qualquer minuto.
         - Acorda, Meli, acorda.- Sussurrei.