Cicatrizes: Quanto um amor machuca?

Capítulo 1

          Era um sexta-feira, fim de tarde quando cheguei em casa, passei reto na sala, Bárbara,  minha melhor amiga, estava deitada no sofá grande e vermelho, que eu achava horrível, mas ela amava. Sabia que não demoraria para ela correr atrás de mim.
          - Onde você estava? - Perguntou. - Eu fiquei preocupada...
          Ela era um pouco mais baixa do que eu, o cabelo loiro curto, os olhos em um tom de castanho bem claro, era o tipo de garota de aparência pequena e delicada, mas de delicada não tinha exatamente nada. Vestia uma blusa masculina muito maior do que ela.
          - Foi mau Babi, eu tive que passar na casa de uma colega para entregar um trabalho. - Falei. - Esqueci de tirar o frango para o almoço de amanhã, não sei como ele vai descongelar agora e...
          - Calma - Ela riu. - Eu já fiz isso para você.
          Victor, meu melhor amigo, entrou na cozinha e ficou me encarando com preocupação. Os cabelo castanhos claros estavam bagunçados, ele tinha os olhos incrivelmente preto.
          - Você está bem, Melina? - Perguntou indo se sentar em cima da bancada da cozinha.
          - Estou sim.. Sabe que eu não gosto que me chame assim. - Falei irritada. - Por que está me olhando desse jeito? - comecei a rir enquanto pegava um copo com água.
          - Ela esqueceu. - Bárbara suspirou.
          - Não, não esqueceu, a gente nem perguntou.
          - Do que vocês estão falando? - Os dois me encaram receosos, algo estava errado. Eu não me lembrava de coisa alguma. - Andem, me respondam. Do que você está falando, Victor?
          - Ah, eu tinha te avisado, mas você parece ter esquecido... - Ele me olhou cauteloso. - Amanhã... Amanhã o Jason vai chegar. - Falou rápido.
          Crack.
          O som do copo se partindo no chão se espalhou na cozinha. E então eu não ouvi mais nada, e me lembrei do que estavam falando. No começo do ano, Victor recebeu uma ligação do Jason, um antigo amigo nosso, e nesta, o rapaz estava avisando sobre sua volta, e consequentemente, precisava de um lugar para morar. Eu não concordei, briguei com o Victor por dias, não iria aceitar que ele morasse no mesmo lugar do que eu, não depois do que ele fez. Mas Bárbara acabou me convencendo que eu teria que passar por aquilo, e eu cedi... Acabei me esquecendo completamente desse assunto, e agora ele iria voltar, após tantos anos, não iria suportar.
          Ouvi a voz da Bárbara me perguntando se estava bem, mas não sabia o que fazer.
          - Me desculpem pelo copo, eu...
          Saí correndo estática pelo corredor, peguei a chave do carro e segui dirigindo para lugar que tanto conhecia.