•Momento

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Mariana, percebendo a conexão entre nós, deu-me um leve empurrão e murmurou:

Mariana: Vou esperar ali.

Agradeci com um sorriso nervoso, e ela afastou-se, deixando-me a sós com Gabi.

Gabi: Gostou do treino? - perguntou com um sorriso acolhedor.

- Adorei! Foi incrível lhe ver jogar ao vivo. A tua energia em quadra é contagiante! - respondi, tentando controlar o nervosismo.

Gabi: Obrigada! É sempre bom ouvir isso dos fãs. Mas é ainda mais especial quando é de alguém como você.

- Alguém como eu?

Gabi: Sim, alguém que parece realmente apreciar o jogo e que me observa com tanta atenção, - disse ela, piscando um olho. - Gostaria de manter contato. Acho que seria bom lhe ter por perto em mais treinos.

Surpreendida, sorri.

- Eu adoraria isso.

Pegando o seu celular, ela me olha com sorriso, me desconcertando por inteira.

Gabi: Posso adicionar o teu número?

Assentundo com a cabeça em afirmação, sinto o meu coração batendo de maneira totalmente descompassada no momento em que ela me entrega o celular. Tentando não tremer de emoção, digitei o meu número. Quando devolvi o celular, ela guardou-o no bolso e sorriu novamente.

Gabi:Pronto, agora já podemos falar fora dos treinos.

Ouvimos o treinador a chamar ao longe, sinal de que Gabi precisava de se juntar às outras jogadoras.

Gabi: Parece que preciso de ir,
- disse ela, com um toque de desapontamento na voz. - Mas vou lhe mandar uma mensagem assim que puder, está bem?

- Está bem, - respondi, sentindo-me eufórica. - Vou esperar pela mensagem.

Ela inclinou-se ligeiramente e, para minha surpresa, dando um beijo rápido na bochecha.

Gabi: Foi ótimo lhe conhecer, Nala. Até logo.

- Até logo, Gabi.

Enquanto Gabi se afastava, senti como se eu pudesse flutuar. O que começou como uma simples ida a um treino transformou-se em algo muito mais significativo. Trocar contato com a Gabi era mais do que eu poderia ter imaginado, e não conseguia conter a felicidade que sentia.

Fui até Mariana, que estava à espera, com um sorriso enorme.

Mariana: Então? Como foi?

- Melhor do que eu jamais poderia ter sonhado -respondi, abraçando-a. - Passei o meu contato para a Gabi!

Mariana riu e abraçou-me de volta.

Mariana: Estou tão feliz por ti. Eu tenho certeza que esse momento ficará marcado para sempre! Ela tá tão na sua!

- Na minha? Não, amiga... É somente um carinho por uma fã, não viaja.

Mariana: Eu me retirei, porque sento que eu realmente estava atrapalhando algo. Na verdade, todo mundo daquele ginásio quase pergunta se vocês duas queriam que todos nós saíssemos!

- Ficou tão na cara assim?

Mariana: E como!

Dando risada, Mariana entrelaça o braço dela ao meu. Seguimos caminhando até a casa dela, onde a louca pula e começa a cantarolar no meio da rua, fazendo planos para Gabi e eu, uma fic totalmente montada na cabeça dela.

Quando finalmente chegamos em casa, ela começa a esquentar o jantar para nós duas, enquanto eu começo a colocar a mesa depois de uma discussão entre nós, já que ela não queria que eu fizesse nada.

Enquanto nós estávamos jantando, muitas coisas passaram pela minha cabeça. Acabei voltando no tempo, mais especificamente onde eu comecei a dúvidar da minha sexualidade. Eu nunca entendi muito bem como que eu realmente me sentia naquela época. Eu sempre senti que algo estava errado comigo, porque eu não sentia o mesmo interesse que as minhas colegas tinham por meninos. Eu nunca tive aquela fase de se apaixonar por um garoto da mesma classe ou da mesma escola.

Um crush na época e juízo, foram coisas que eu não tive. Eu realmente passei a me interessar por mulheres, mas eu nunca fiquei com nenhuma em toda a minha vida. Eu nunca tive coragem, porque o meu medo da minha família descobrir sempre foi muito maior. Hoje, olhando para o presente, relembrando o que eu senti quando vi a Gabi, me pergunto se eu realmente gosto de homens. Será que o meu medo em desagradar a minha família me fez mentir para mim mesma?

Até que ponto eu coloquei os desejos da minha família a cima dos meus? Até que ponto eu deixei as minhas vontades para depois? O que exatamente eu sacrifiquei somente porque queria ser amada pela minha família?!

Mariana: Amiga? Você está bem?

- Oi? Falou comigo?

Mariana: Sim, amiga... Você está com os pensamentos distantes, nem tocou direito na comida.

- Ah... Eu estava pensando em tudo o que aconteceu durante toda a minha vida. Eu nunca parei para refletir em quanto tempo eu realmente perdi tentando agradar a minha família, nem o que eu verdadeiramente perdi. Será que sempre fui eu mesma? Ou será que só fui uma boneca moldada aos gostos da minha família? O que eu verdadeiramente gosto? O que eu verdadeiramente quero fazer? Quais os meus sonhos? As minhas perspectivas de vida? Será que eu verdadeiramente me orgulho do que fiz até aqui? Ou só me contento em ter realizado aquilo que era o sonho da minha família? Será que eu sou quem sou? Ou somente carrego o fardo de ser alguém que os meus pais desejaram?

Levantando-se da cadeira, a Mariaha caminha até mim sem dizer absolutamente nada, envolvendo-me num abraço acolhedor e muito carinhoso. O abraço silencioso fala muito mais do que um milhão de palavras. Esse abraço foi como se ela soubesse verdadeiramente do que eu estava precisando naquele momento.

Ficamos assim por mais alguns minutos, e enquanto as lágrimas rolam pelo o meu rosto, a Mariana continua acariciando os meus cabelos, começando a embalar os nossos corpos suavemente para frente e para trás.

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