•A viagem

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Desembarquei na cidade vizinha, o lugar mais próximo onde eu poderia fazer algumas compras decentes. A pequena cidade tinha um charme acolhedor, com suas ruas arborizadas e lojas antigas.

Precisava de roupas novas, cremes, perfumes e uma mala para carregar tudo isso. E, claro, ainda tinha que confirmar com minha amiga Ana se eu poderia ficar na casa dela, já que ela morava em outro estado.

Minha primeira parada foi uma boutique de roupas. A vendedora foi muito atenciosa, ajudando-me a escolher algumas peças básicas e confortáveis. Saí de lá com algumas calças jeans, camisetas e até um vestido bonito que estava em promoção. A sensação de ter roupas novas e limpas me dava uma pequena sensação de controle sobre a situação.

Em seguida, entrei em uma loja de cosméticos. O aroma dos perfumes me envolveu assim que pisei na loja, e logo estava experimentando diferentes fragrâncias. Escolhi um perfume suave e fresco, além de cremes hidratantes que eu tanto precisava. Aproveitei para pegar alguns itens de higiene pessoal que estavam faltando.

Carregando várias sacolas, encontrei uma loja de malas. Havia uma variedade enorme de tamanhos e cores, mas optei por uma mala média e resistente, que seria perfeita para minha nova coleção de itens. A essa altura, minhas mãos já estavam cheias e comecei a me sentir um pouco sobrecarregada, mas a satisfação de ter tudo que precisava superava o cansaço.

Enquanto esperava o caixa embalar minhas compras, tirei meu celular e disquei o número de Mariana. Eu estava nervosa, com medo de que ela não pudesse me receber, mas precisava tentar.

Mariana e eu somos amigas desde a infância. Ela é a pessoa em quem eu sei que posso confiar em cada um dos momentos da minha vida. Ela não compareceria ao meu casamento, porque ela verdadeiramente não se dá muito bem com a minha família. Afinal, quem em sã consciência se daria vem com aquele sanatório de alta classe, não é mesmo?

— Alô? — a voz de Mariana atendeu, soando um pouco distante.

— Mariana, sou eu, Nala — falei, tentando soar calma. — Amiga, estou precissando muito da sua ajuda! Preciso que me ajude, depois eu lhe explico tudo com calma. Estou na cidade vizinha fazendo algumas compras. Você acha que pode me receber na sua casa? Preciso de um lugar para ficar e seria ótimo te ver.

— Ah, Nala! Agora eu fiquei preocupada! Claro que pode vir — respondeu com entusiasmo. — Vou adorar te ter aqui. Como mudei o meu endereço, vou te mandar o endereço e todas as informações pelo WhatsApp, ok?

Suspirei de alívio, sentindo um peso enorme sair dos meus ombros.

— Obrigada, amiga. Você não sabe o quanto isso significa para mim.

Terminando minhas compras, chamei um táxi e dei o endereço da rodoviária. Com a mala cheia de novas esperanças e um pouco de perfume fresco me acompanhando, estava pronta para começar essa nova jornada, com a certeza de que teria uma amiga me esperando no outro estado.

Eu estava aflita, com medo do que o destino estava reservando para mim, mas eu não poderia permitir que isso me impedisse de ter a minha liberdade. Passei muitos anos tendo medo de ser quem eu sempre quis ser. Foram anos tentando ter uma personalidade que não me pertencia, somente porque eu queria me sentir amada, me sentir o suficiente para merecer a atenção dos meus pais, mas nada do que eu fiz foi o bastante para que eles pensassem um pouco na minha própria felicidade.

Talvez, a culpa de eu ter me perdido de mim seja minha, já que eu sempre senti essa absurda necessidade de ter a aprovação da minha família. A perfeita família publicamente, mas que nos bastidores só existe mentiras e traições. 

Falando na minha família... Como será que está o clima por lá? Pensando bem, não tomei atitudes sábias de uma pessoa que está praticamente fugindo de casa. Esses erros podem facilitar o meu rastreamento, mas eu verdadeiramente não estou me importamto com isso á essa altura do campeonato. Eu agora preciso pensar em mim, em me encontrar.

Está na hora de parar de fugir dos meus problemas, encarando-os de frente nesse momento.

Fechando os meus olhos para tentar descansar um pouco, acabo dormindo na viagem, e após algumas horas, estou na casa da minha amiga. Eu poderia ter pego um avião? Sim. Porém, eu tenho muito medo de voar, então não seria uma opção.

Desembarcando na rodoviária, logo vejo a Mariana acenando entusiasmada para mim, correndo na minha direção, fazendo com que eu tente equilibrar o meu corpo no momento em que ela pula em mim.




Desembarcando na rodoviária, logo vejo a Mariana acenando entusiasmada para mim, correndo na minha direção, fazendo com que eu tente equilibrar o meu corpo no momento em que ela pula em mim

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Mariana: Que saudade!!!

— Nem me fale! Como é que você está?

Mariana: Eu estou bem, amiga. E você? Eu estou muito preocupada desde que você me ligou, mas eu também estou muito feliz por saber que você não irá se casar com aquele macho de beleza rústica.

— Eu estou bem, amiga. Ainda estou tentando processar tudo, organizar os meus sentimentos e pensamentos. Eu me sinto perdida, sabe?

Mariana: Eu entendo. Bem, o que verdadeiramente importa é que você está aqui. O primeiro passo para a sua liberdade já foi dado, agora é continuar nesse caminho.

Num abraço emocionado, ficamos ali por mais alguns instantes, até que chegamos na casa dela.

— Ainda bem que você foi me esperar na rodoviária, porque eu facilmente me perderia aqui nessa cidade!

Mariana: Concordo! Você conseguiu se perder no banheiro, nada mais me surpreenderia.

— Em minha defesa, eu estava bêbada.

Mariana: Do mesmo jeito, amiga! Qual a diferença de você sóbria para você bêbada?

— Não tem, né? Se eu tô bêbada, a cachaça quem me humilha. Se eu estou sóbria, é você quem me humilha... Que vida!

Mariana: Deixa de ser boba! — ri — Nós vamos aproveitar que você está aqui para sairmos.

— Sair?

Mariana: Sim! Hoje tem treino da seleção feminina de vôlei e nós vamos assistir.

— Vamos?

— Vamos!

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