•Inefável

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Quando Gabi quebrou o beijo, sua respiração estava pesada, assim como a minha. Ela encostou sua testa na minha, nossos olhos se encontrando em um olhar que dizia mais do que qualquer palavra poderia expressar. Eu podia sentir seu coração batendo contra o meu, um ritmo descompassado que combinava perfeitamente com o turbilhão de emoções dentro de mim.

Gabi: Você não tem ideia do quanto eu desejei isso, Nala, —  murmurou, sua voz rouca, quase um gemido. —O quanto eu te quis assim... aqui, comigo.

A intensidade de suas palavras me atingiu em cheio, e antes que eu pudesse responder, ela me beijou novamente, com uma necessidade que parecia não ter fim. Eu correspondi com igual fervor, cada beijo, cada toque nos aproximando ainda mais, como se estivéssemos tentando apagar qualquer distância que ainda existisse entre nós.

As mãos de Gabi exploravam minhas costas, meus braços, como se quisesse memorizar cada contorno, cada curva. Ela me puxou ainda mais para ela, nossos corpos se encaixando de uma maneira que parecia perfeitamente natural, como se fôssemos feitas para estar assim, juntos.

O calor entre nós aumentava, e cada movimento, cada toque, só alimentava ainda mais o desejo que crescia dentro de mim. Gabi me segurava com firmeza, mas com uma suavidade que me deixava à vontade, completamente entregue ao momento. Eu sabia que, naquele instante, estava exatamente onde queria estar, e não havia lugar no mundo onde eu preferisse estar do que nos braços dela, sentindo o desejo que fluíam livremente entre nós.

Perdidas uma na outra, nós nos entregamos àquela dança silenciosa, onde palavras eram desnecessárias, e tudo o que importava era o sentimento avassalador que nos conectava, cada vez mais forte, cada vez mais profundo.

O nosso beijo continua com muita intensidade, até que ouvimos o celular da Gabi começar a tocar. Encerrando o nosso beijo com alguns selinhos, ela se desculpa e atende a chamada. Durante a ligação, ela mantém os olhos em mim, me fazendo sorrir ao sentir os seus beijos no meu pescoço.

Ao encerrar a chamada, ela me olha com sorriso, ela entrelaça as nossas mãos.

Gabi: Então... Me fale um pouco mais sobre você, já sei um pouco mais depois de chamada de ontem, mas quero lhe conhecer um pouco mais.

— Como você sabe, eu tenho vinte e quatro anos, sou formada em arquitetura, gosto de pintar, escrever, correr na natureza e estudar sobre alguns assuntos. Atualmente, sou poliglota, pretendendo aprender mais alguns outros idiomas. Como comecei a lhe contar ontem por ligação, era para eu ter me casado com um homem com quem a minha família fez um acordo que benificiaria ambas as partes. Com o tempo, eu aceitei que aquele seria o meu destino, acreditando que eu estaria com uma pessoa que me amava, que seria diferente, que eu poderia ter um casamento feliz, mas descobri que ele me traiu numa despedida de solteira. O pior de tudo, é que as pessoas das nossas famílias começaram a falar para mim que eu deveria perdoar, que é assim mesmo, que essas coisas acontecem com muita frequência e as pessoas seguem com o casamento. Eu sempre estiver a mercê de tudo o que a minha família sempre quis. Quando digo sempre, é ao ponto de eu questionar até mesmo se eu realmente gosto dos Hobbes que citei, ou se somente os prático por influência da minha família.

Gabi: Compreendo. Deve ter sido muito complicado crescer em meio á todo esse caos. Você é muito corajosa, sabia? Admiro você por isso! Você está recomeçando a sua vida, cortando o cordão umbilical e tomando as rédeas da sua própria vida. Passos arriscados são um ato de coragem!

Sorrindo para mim, Gabi me abraça carinhosamente, depositando um beijo na testa. Me puxando para mais perto, ela me envolve num abraço carinhoso. O mundo pareceu paralisar naquele momento para que tudo isso pudesse acontecer. Eu não consigo explicar como ela consegue fazer com que eu me sinta assim em tão pouco tempo. A única coisa que sei, é que eu desejo continuar sentindo.

Inefável. Essa é a única palavra que me vem à mente quando Gabi me puxa de repente, com aquela força gentil que só ela tem. Não dá tempo de pensar; meu corpo apenas reage, seguindo o impulso irresistível do momento. Antes que eu perceba, estou no colo dela, sentindo o calor do seu corpo contra o meu, cada músculo tensionado de maneira quase protetora, como se eu fosse algo precioso.

Seu olhar encontra o meu, e por um segundo o mundo inteiro desaparece. Eu não vejo mais nada, não ouço mais nada, exceto a batida acelerada do meu coração e o som suave de sua respiração. É como se o universo inteiro se comprimisse naquele espaço minúsculo entre nós. A tensão cresce, carregada de significados não ditos, de sentimentos que ainda estamos descobrindo.

Então, Gabi inclina a cabeça e me beija, com aquela mesma intensidade suave. É diferente desta vez, há uma certeza no gesto, uma decisão que não estava ali antes. Sinto sua mão segurando firme na minha cintura, enquanto a outra toca levemente meu rosto, o polegar roçando minha pele com um carinho que faz meu corpo inteiro se acender.

O beijo dela é quente, profundo, cheio de sensações que agora se derramam, como um rio rompendo uma barragem. Eu me perco na sensação, me entrego completamente, deixando que Gabi me conduza. É como se, ao beijá-la, eu finalmente encontrasse um pedaço de mim que estava perdido, um pedaço que eu nem sabia que faltava.

Quando o beijo termina, ela não me solta. Fico ali, nos braços dela, com a cabeça apoiada em seu ombro, ouvindo o ritmo de sua respiração começar a desacelerar. Sinto um sorriso nascer no canto dos meus lábios, um sorriso que ela logo captura ao encostar a testa na minha, os olhos ainda fechados, como se quisesse prolongar esse momento por mais alguns instantes. E eu deixo. Porque no colo de Gabi, eu sinto que pertenço a algum lugar, finalmente.

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