•Qualquer coisa por ela

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Aquela frase quebrou algo dentro de mim. Eu já sabia do que ela estava falando, mesmo sem que Nala precisasse dizer mais nada. Era o distúrbio alimentar dela. A batalha que ela travava todos os dias, em silêncio. Ela já havia mencionado isso algumas vezes, mas nunca vi de perto, e agora, parecia estar vindo à tona.

— Amor... — me aproximei, colocando a taça de champagne de lado e segurando suas mãos. — Você não precisa fazer nada que te machuque, amor. Eu tô aqui, e nada disso importa. O jantar, a mesa, tudo isso é só um detalhe. O que importa é você.

Ela começou a tremer levemente, as lágrimas já acumulando nos olhos. A força que Nala sempre demonstrava diante do mundo parecia ter se dissolvido ali, na minha frente.

Nala: Eu sei, vida, mas eu me sinto tão... fraca. Como se fosse incapaz de aproveitar o que você planejou pra nós. Olhar pra essa comida, pra tudo isso... me faz sentir tão pequena.

Eu me ajoelhei na frente dela, segurando seu rosto com as mãos, forçando-a a me olhar nos olhos.

— Você nunca vai ser fraca pra mim, minha princesa .Nunca. Eu te amo do jeito que você é, e nada disso muda isso. Não importa se você não consegue agora. Eu tô aqui com você, e a gente vai enfrentar isso juntas. Você é incrível! Eu tenho muito orgulho de você, de tudo o que você passou para chegar até aqui.

As lágrimas começaram a cair silenciosamente pelo rosto dela. Nala tentou dizer algo, mas as palavras se perdiam em soluços. Ela estava quebrada, e a única coisa que eu podia fazer era segurá-la, mantê-la próxima, e garantir que ela soubesse que não estava sozinha.

Nala: Eu sinto tanto... — disse, a voz quase inaudível. — Eu não quero estragar tudo, Gabi. Não quero que você pense que eu não valorizo o que você fez.

Eu a abracei forte, puxando-a para mim, deixando que ela chorasse no meu ombro, sem pressa, sem cobranças.

— Você não estragou nada, Nala. Isso aqui é pra gente, pra você, do jeito que você é. E eu amo cada parte sua, até as que te fazem sofrer. A gente vai superar isso juntas, eu prometo.

Ela ficou ali, tremendo nos meus braços, enquanto eu a segurava firme, sentindo cada batida do coração dela contra o meu. E naquele momento, mais do que nunca, eu soube que faria qualquer coisa por ela.

Nala se afastou um pouco, ainda em meus braços, mas agora com os olhos fixos em algum ponto distante. O choro havia diminuído, mas sua expressão continuava carregada de dor. Eu a observei, sentindo meu coração apertar. Quando ela começou a falar, a voz saiu trêmula, quase como um sussurro.

Nala: Linda, a verdade é que minha vida sempre girou em torno das expectativas da minha família. Desde pequena, eu aprendi que precisava ser a filha perfeita, a aluna exemplar. Sempre tinha que agradar, atender a todas as expectativas. Era como se minha vida fosse uma série de metas a serem cumpridas, e eu sempre temia não conseguir.

Ela respirou fundo, e pude ver que aquilo era uma luta interna intensa.

Nala: Minha mãe e minhas tias sempre comentavam sobre a aparência, sobre como um corpo “ideal” era importante. Eu cresci ouvindo que minha beleza era a chave para ser valorizada. Isso se tornou uma verdade tão profunda na minha cabeça... E os homens da família, eles também reforçavam isso, sabe? O jeito que olhavam, as piadas que faziam, tudo isso me dizia que eu precisava ser perfeita, não apenas para eles, mas para todos.

Os olhos dela estavam brilhando, cheios de uma mistura de tristeza e raiva.

Nala: Eu me sentia como um troféu. Minha autoestima estava tão ligada a como eu me apresentava. E quando não conseguia atingir essas expectativas, era como se estivesse falhando com todos. Isso me fez entrar nessa espiral, nessa luta constante contra meu próprio corpo. Cada refeição, cada escolha se tornava um campo de batalha. E quanto mais eu tentava agradar, mais distante ficava de mim mesma.

Eu segurei suas mãos com força, tentando transmitir todo o apoio que eu sentia por ela.

— Meu céu, você não precisa carregar esse peso sozinha. Eu estou aqui. Não importa o que sua família pense ou diga. O que importa é como você se vê e como você se sente.

Ela baixou a cabeça, as lágrimas voltando a escorregar pelo rosto.

Nala: Eu só... eu só quero ser eu mesma, mas não sei como. Tantas vezes, eu me perdi tentando me encaixar no que esperam de mim. E isso acabou afetando minha relação com a comida, com meu corpo... É como se eu estivesse sempre lutando contra algo que nunca posso vencer.

— Você não precisa lutar sozinha — eu disse, segurando seu rosto entre minhas mãos. — Eu vou estar ao seu lado em cada passo. Você é incrível do jeito que é, e eu quero que você saiba disso. Sua verdadeira beleza não está nas expectativas, mas em quem você é por dentro.

Nala piscou algumas vezes, tentando conter as lágrimas, e eu a abracei novamente, envolvendo-a em um caloroso conforto. O que ela estava enfrentando era um peso imenso, e eu desejava que ela pudesse ver o quanto era forte e amada, independentemente do que dissessem.

— Vamos enfrentar isso juntas — murmurei, enquanto acariciava seu cabelo. — Você não está sozinha nessa luta. E não importa o que você ache de si mesma, eu sempre estarei aqui, amando você incondicionalmente.

Ela finalmente assentiu, um pequeno movimento, mas já era um sinal de que, talvez, havia esperança. Eu sabia que a jornada seria longa, mas a cada passo que dávamos juntas, eu me sentia mais confiante de que conseguiríamos superar essas sombras.

Depois de um tempo, me sento no sofá observando Nala, e meu coração batia descompassado. A cada segundo, parecia que o mundo ao nosso redor parava, deixando apenas nós duas. Nala, com os olhos cansados, olhava para mim como se buscasse algo que eu sabia que só eu podia oferecer: segurança e amor.

— Eu preciso te dizer uma coisa... — comecei, minha voz baixa, mas firme. — Desde o primeiro momento em que te vi, algo mudou em mim. Você me fez perceber que tudo que eu procurava estava bem aqui, na sua essência, no jeito como você me olha, como você me toca.

Nala sorriu, um sorriso tímido que me derreteu por completo. Eu me aproximei mais dela, segurando sua mão com delicadeza, sentindo o calor de sua pele sob a minha.

— Eu te amo, minha princesa. Não só pelo que você é, mas pelo que você desperta em mim. Com você, eu me sinto completa, e isso... isso é o que mais importa.

Ela não disse nada, mas os olhos dela diziam tudo. Havia uma tranquilidade ali, uma aceitação que me fez sentir como se estivesse exatamente onde deveria estar.

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