•Lenta e serena

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Nala...

Acariciando o rosto da Gabi, permaneço deitada, enquanto eu tento assimilar tudo o que acabara de acontecer... Essa é a minha primeira experiência com uma mulher, e principalmente, com a pessoa com quem eu sou muito fã!

Eu realmente me sinto totalmente extasiada, como se eu estivesse num sonho. Um sonho erótico, mas realmente, muito bom. É incrível como ela é incrivelmente boa nisso. Ela sabe exatamente como me tocar, como me deixar louca, como fazer com que eu me sinta a mulher mais desejada do mundo.

Sentindo a sua respiração ficando um pouco mais leve, levanto um pouco da minha cabeça, e noto que ela dormiu. Um sorriso bobo se forma nos meus lábios espontaneamente. Distribuindo alguns beijos carinhosos no seu rosto, me aninho novamente ao seu peito, adormecendo junto com ela.

Acordei com uma sensação familiar e pesada no peito, como se uma mão invisível estivesse apertando meu coração. Meu estômago se revirava, e eu sabia o que isso significava antes mesmo de meus olhos se abrirem por completo. O distúrbio alimentar, que tantas vezes consegui manter à distância, estava de volta, me rondando como um fantasma que nunca se vai.

Senti uma náusea crescente, misturada a uma angústia que era difícil de explicar. Era um vazio enorme, um buraco negro no meio do meu peito que parecia sugar todo o meu controle. Tentei não pensar nisso, mas era impossível. Os pensamentos vinham em ondas, cada um trazendo uma maré de culpa, de vergonha, como se eu estivesse à beira de perder tudo aquilo que eu estou construindo. Eu não posso permitir essa autossabotagem.

Levei a mão ao estômago, na tentativa de acalmar a sensação, mas só consegui sentir mais intensamente o quanto meu corpo parecia estar em guerra contra mim mesma. As sensações me empurravam para um abismo conhecido, onde eu já havia caído tantas vezes antes. Só que dessa vez, estou com a Gabi. E isso só aumentava minha vergonha.

Gabi ainda dormia com os braços em volta da minha cintura, respirando tranquilamente, e isso me deu uma pontada de culpa. Como eu poderia deixá-la ver essa parte de mim? Eu simplesmente não posso fraquejar nesse momento.

Ao mesmo tempo, o impulso de correr para o banheiro era quase incontrolável. Eu sabia o que precisava fazer para aliviar essa angústia, mas também sabia o quanto isso me destruiria mais tarde.

Levantando a cabeça, olho para ela, tentando focar na sua respiração, buscando um ponto de estabilidade. Cada inspiração dela era como um lembrete de que o mundo não tinha parado, que ainda havia vida ao meu redor, que eu ainda estava aqui, e que agora, eu estava livre para viver a minha vida. Mas, por dentro, eu estava quebrando. E lutar contra isso era exaustivo.

Fechei os olhos com força, tentando segurar as lágrimas. Eu não podia deixar isso me controlar. Não de novo. Mas, ao mesmo tempo, eu me sentia tão fraca, tão vulnerável. Queria acordar Gabi, queria que ela me dissesse que tudo ficaria bem, mas não podia. Eu precisava ser forte. Só que, naquela escuridão, a força parecia me escapar, e tudo o que restava era o medo de não conseguir sair dessa.

Depois de muito tentar, consigo apreciar totalmente o peso leve e reconfortante dos braços da Gabi ao meu redor, como se ela quisesse me proteger de tudo. O sol ainda entra pelas frestas da cabana, e a luz dourada cria sombras suaves nos cabelos dela. É um momento tão simples, mas ao mesmo tempo, tão carregado de significado que quase sinto meu coração apertar.

A respiração da Gabi é calma, mas posso sentir que, assim como eu, ela está desperta. Sua presença é tão viva, tão quente contra mim, que quase parece um sonho. Meu rosto está próximo ao dela, e cada movimento pequeno que ela faz, como ajeitar-se ou respirar mais profundamente, me faz sentir como se estivesse sendo levada por uma correnteza lenta e serena.

Eu não me lembro de ter me sentido tão vulnerável e ao mesmo tempo tão segura. Há uma paz estranha nesse momento, algo que não consigo colocar em palavras. Talvez porque não haja palavras suficientes para descrever o que ela faz comigo. Como, ao mesmo tempo em que meu corpo relaxa em seus braços, meu coração bate mais rápido, como se estivesse aprendendo a dançar um novo ritmo.

Quando ela desperta, os eus olhos encontram os meus. Há algo ali, algo que me faz querer dizer tantas coisas, mas que também me faz querer apenas ficar quieta e aproveitar. Gabi sorri, um sorriso pequeno, mas que ilumina tudo ao redor, e eu sei que, qualquer que seja o caminho daqui para frente, eu quero que ela esteja ao meu lado.

Gabi: Está tudo bem?

— Sim, linda! E você? Eu perdi a noção das horas, a Mariana deve estar estranhando a minha demora para retornar.

Gabi: Se eu já estive melhor do que estou, eu não me recordo!

Sorrindo, ela me puxa para ela novamente. O que começa com leves selinhos acaba se tornando um beijo molhado e repleto de intensidade. O sabor do seu beijo é incrivelmente bom. Nenhuma de nós duas deseja encerra-ló, até que nós nos afastamos por falta de fôlego.

Gabi: Nem precisa se preocupar com isso, porque ela entenderá. Qualquer coisa, assumo a responsabilidade de ter lhe sequestrado.

— Me sequestrado?

Fazendo uma carinha de afirmação que é típico dela, ela dá um sorriso e começa a me beijar, fazendo-me deitar no chão, tendo uma crise de riso.

Gabi: Sim!!! Está oficialmente sequestrada! Será minha, só minha. Passaremos muito tempo aqui, só você e eu, sem ninguém para nos atrapalhar.

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