03 - Sotaque francês?.

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    Hoje é terça-feira, e a aula foi extremamente tranquila, foi marcado um passeio para visitar alguns museus aqui na cidade nas próximas aulas.

O professor era tão tranquilo que a aula passou muito rápido.

Eu e Missy sentamos em alguns bancos próximo ao bloco e conversávamos sobre a avaliação que estava cada vez mais próxima. Até alguns veteranos sentarem ao nosso lado.

– Nossa, ele é um filho da puta! – Um comenta, com o semblante totalmente fechado.
– Fica assim não, amigo – A garota parecia ser amiga dele.

O rapaz resmunga mais alguma coisa e pega a garrafinha na bolsa antes de virar para nós.

– Vocês são calouras, não são? – Já perdemos as contas de quantas vezes nos perguntam isso.

Eu e Missy balançamos a cabeça que sim. Pela primeira vez na vida, vi Missy assustada.

– Se preparem para o diabo encarnado chamado Grant, ele voltou soltando fogo pelas ventas! – Lembro que o professor de iniciação nos disse quase a mesma coisa. Olho para Missy que também olha para mim com os olhos arregalados. Ele diz que eles haviam acabado de sair de uma aula com ele.

Os minutos seguintes foram de Missy fazendo um interrogatório para os veteranos e a cada um que chegava no bloco e passava por nós, parava para falar algo ainda pior do que já havíamos acabado de descobrir sobre ele.

– O que será de nós? – Missy questiona, alguns dos nossos colegas estavam tão preocupados quanto nos, já outros estavam até mesmo um pouco empolgados.
– É só sorrir e acenar! – Um dos rapazes faz graça, reviro os olhos.

Vou odiar reprovar e chegar contando isso para os meus pais em casa, eu serei uma decepção, preciso conseguir passar ilesa por esse professor.

– Ouvi dizer que ele é um gato! – Verônica, nossa colega de turma comenta. Ela tinha longos cabelos loiros, sempre bem arrumada. Eu sei que artes não tem um rosto, mas ela parecia que estava no curso errado tanto quanto eu. Apesar de não sermos nada parecidas na aparência. Meu Deus, não sei porque pensei isso.

– Sério? – Missy pergunta, interessada, como elas conseguiam pensar nisso? Ele podia nos reprovar se não gostasse do nossos rostos, e elas estão preocupadas com a aparência dele.

– Sim, e que tem um sotaque francês delicioso – Ela morde os lábios enquanto fala, faço uma careta para as suas expressões vergonhosas. Mas ninguém parece notar além de mim.

Missy continua fazendo uma série de perguntas e eu decido ficar calada, minha bateria social já havia acabado a muito tempo.

Depois que ela cansou de falar, fomos almoçar com o resto dos meus quase amigos. Eles conversavam pouco comigo acho que com certeza por eu ser tão calada e quieta. Kevin e Missy era os únicos que tentavam me meter em alguma conversa, com certeza querendo que eu me enturmasse mais.

Após o almoço, tivemos aula de Improvisação. Acho que é a única matéria que eu não me sentia tão cobrada já que todos falavam muito do processo no teatro e pareciam estar bem a frente do que eu. Nesta aula eu não me sentia tão para trás assim, era só mais uma aluna.

Fizemos diversos alongamentos, lembrei de Harry enquanto praticava. Os diversos exercícios que ele fazia no chão de qualquer lugar da casa.

– Elowen? Você se sente bem? – Missy me pega pelos ombros, reprimo uma revirada de olhos, eu só queria chegar em casa logo e estava andando em passos apressados antes dela me parar.
– Sim, estou bem – Forço um sorriso, eu até queria falar que me sentia insegura no curso mas eu já sabia o que iria dizer: "calma, é um processo" ou que ainda estamos no começo e que não faz sentido já ter certeza do que sinto. E também que eu não estava muito com vontade de formular palavras para que ela entenda o que está acontecendo comigo.

– Certo, te vejo amanhã! – Ela se afasta, mas antes que eu dê mais um passo, ela me para.
– Você não vai jantar com a gente? – Nossos colegas chegam atrás dela. Balanço a cabeça que não.
– Não, não, combinei de jantar em casa – Minto. Então ela me dá um tchau com a mão e segue conversando animadamente com Verônica.

Ufa.

Pego meu celular, voltando a caminhar e mando uma mensagem para o meu pai perguntando se já está me esperando. Ele me responde um emoji de uma mão dando "legal"

Assim que entro no carro, murmuro um graças a Deus.

Como foi a aula? – Faz a mesma pergunta de todos os dias, acho que estou perto da tpm já que tudo está me irritando mais do que deveria, mas não devo descontar nunca isso nele.
– Foi incrível! – Forço uma animação.

O caminho de volta para casa foi meu pai me contando de como foi seu primeiro semestre na faculdade, quando era mais jovem. Como sempre, ele sempre foi muito certinho, até conhecer minha mãe.

Eu conhecia a história deles e tentava não julga-los, mas levando em conta que ela foi deserdada da família por conta do relacionamento deles, eu acho que não foi uma coisa muito boa eles terem se conhecido.

Desde então, mamãe assim que me teve, estudou muito para passar no vestibular de medicina para ajudar papai a me sustentar, já que na época ele não tinha tanta estabilidade além de que já era pai do meu irmão, Harry. Então eles tinham que sustentar duas crianças.

Meu pai já era formado na época, então conseguiu segurar as pontas até minha mãe se formar. Hoje em dia, vivíamos muito confortáveis, papai é um psicólogo bem conhecido por aqui e minha mãe é médica chefe de um hospital, ela não precisa fazer plantões, mas faz mesmo assim, tornando sua presença em casa quase como um evento.

Acho que o fato de ter sido deserdada, fez com que ela criasse um vicio em dinheiro, então nunca está bom o suficiente e ela não liga para nada desde que continue ganhando, mais e mais.

– Fiz macarronada, seu irmão vem jantar com a gente – Papai diz animado, parando o carro no semáforo. Ai não, ele vai ser outro que vai perguntar sobre a faculdade. Será que dá tempo de inventar que não estou me sentindo bem e me trancar no quarto?

Minutos depois chegamos em casa e eu já pude ver a sua Mercedez C450, parada em frente de casa. Agora não tinha mesmo nenhuma escapatória para mim.

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