07 - Potencial.

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Insultos sutis é o que venho recebendo do professor Grant, as últimas 6 aulas dele, foram um verdadeiro inferno, seus olhares durante a aula até se eu não estivesse com a postura correta na carteira era motivo para uma humilhação gratuita.

Ele sempre transforma minhas falhas como exemplos não artísticos para não se seguir, como essa última aula em que estudei para outra matéria na noite anterior e tive que vir cedo para a faculdade ter aula de dança em seguida a matéria dele.

Acabei apoiando meu rosto com as mãos enquanto meus cotovelos estavam na mesa, sendo assim, minha postura ficou um pouco torta, curvada...digamos assim. Foi motivo para ele me chamar a atenção e dizer que um artista deve ter a postura ao se sentar sempre mantendo a coluna em linha reta "como se tivesse um fio no topo da sua cabeça e que te conecta ao céu".

Sinto ódio só de lembrar.

Hoje é sexta e graças a Deus, a última aula dele na qual ele deve aplicar o último trabalho do semestre, antes da prova, e que se eu passar, terei férias adiantadas de duas semanas, caso eu reprove terei que fazer final até sabe Deus.

Mas eu já sentia que iria ser reprovada, tudo isso porque eu simplesmente esqueci de dar bom dia...

Deus, como eu queria ter faltado essa aula.

– Elowen, finamente, vamos? – Missy me puxa dos meus pensamentos assim que chego no bloco. Invés de almoçar aqui eu decidi almoçar em casa, papai estava meio para baixo esses últimos dias.

Antes de Harry voltar para a casa dele, mamãe e ele tiveram uma discussão e meus pais pareciam estar brigados por isso.

– Vamos! – Forço um sorriso, nada animada para a aula. – Espero que hoje ele me humilhe um pouco menos... – Falo baixo para só ela ouvir.

Ela rir um pouco e balança a cabeça em negativo, claro, ela acha que toda a implicância dele é coisa da minha cabeça.

– É só o jeito dele de dar aula! Não fica assim... – Ela me puxa me fazendo encostar a cabeça no seu ombro enquanto chegamos na porta da sala.

Entramos e não o vemos na sua mesa, ainda bem.

Sentamos juntas na cadeira e Verônica vem até nós puxando assunto. Não entendo se até Verônica ver as implicâncias dele comigo, porque a Missy não?

– Espero que ele não pegue tão pesado dessa vez... – Verônica comenta para mim, soltando um risinho enquanto mastiga seu chiclete na boca, me controlo para não revirar os olhos para ela.

Ela olha para frente e se levanta indo para sua carteira.

A porta se abre e o professor entra, dando bom dia para a turma. Todos respondem em uníssono, inclusive eu.

Olho para Missy, notando seu silêncio por tempo demais e ela está olhando cada mínimo movimento do professor.

– Como já devem saber, o trabalho será individual e de pesquisa, e valerá como parte da nota para a avaliação – Começa, pondo as mãos nos bolsos e olhando cada um de nós.

Dessa vez ele não me olha ou me procura com o olhar.

– Escolham um artista e façam uma biografia sobre ele, ponham seus pontos de vista e o que vocês sentem em ver esse Artista. – A sua voz ecoava alto por toda a sala. – Sejam competentes, o trabalho deve ser coerente! – Seus olhos agora me olham, eu congelo na carteira.

– Entendido? – Ele pergunta ainda olhando para mim. Me sentindo em um beco sem saída eu balanço a cabeça levemente em confirmação.

– Ótimo! Vou passar a revisão da prova relembrando o que estudamos nesse semestre, quem prestou a atenção passará, quem não, só lamento, não tenho pena de aluno preguiçoso. – Todo mundo fica em silêncio e ele se vira para o seu computador.

Transmitindo o slide para o quadro enorme branco.

A aula correu de forma normal e eu anotava tudo o que achava necessário.

– Estarei a disposição para ajudá-los com o trabalho, peguem meu contato na secretaria e responderei assim que possível! – Ele avisa quando finaliza a aula. Alguns dizem "tchau" professor, mas eu só queria sair logo do mesmo espaço em que ele está.

Quando vou quase saindo. Escuto ele me chamar em alto e bom som.

– Elowen! – Ele me chama e eu travo no lugar. Missy olha para mim e aponta para o lado de fora, me dizendo que vai me esperar. Confirmo com a cabeça e dou meia volta, me aproximado receosa da sua mesa.

– Sim, Semhor? – Pergunto.

– É irmã do Harry, não é? – Ele se aproxima de mim, pondo a mão em seus quadris, me olhando com as sobrancelhas franzidas.

Engulo em seco com a sua postura e ele dá mais um passo à frente.

Se eu achava que ele faz academia agora eu tenho certeza, um braço seu deve ser a largura da minha cabeça.

O professor da mais um passo e eu me sinto coagida a fazer o mesmo, só que para trás.

O que ele devia ter? 1,90 de altura? No mínimo.

– Não vai me responder?! – Se exaspera e eu dou um pulo de susto me afastando ainda mais dele.

Pisco já nem me lembrando o que ele perguntou, merda... mas o que foi mesmo?

– Não sei – Dou uma resposta imparcial esperando que seja a resposta que ele espera. – É só isso?! Então eu tenho que ir – Viro em direção á porta.

– Perguntei se é irmã do Harry – Agora me lembrando. Pigarreio, sentindo minhas mãos gelarem.
– Ah, eu sou sim, professor – Respondo olhando Para a porta, querendo o quanto antes sair desse lugar.
– Ele foi um dos meus melhores alunos – Conta, se aproximando ainda mais de mim e se curvando, meu coração acelera e ele desvia o olhar do meu e eu o sigo, ele apenas estava pegando uns papéis ao meu lado, estou na borda da sua mesa.

– Ah... eu não duvido – Forço um sorriso e olho novamente para a porta.

– Deveria seguir o exemplo e tentar ser como ele – Me compara. Abro a boca para respondê-lo mas nenhum som sai, fico sem reação.

Eu tento ser perfeita em tudo o que eu faço, confesso que o que ele disse, me fere um pouco.

– Ele é meu meio irmão – Falo sem pensar.
– Ah, sim, deve ser por isso então... você não tem a mesma genética – Ele diz tão sério que é impossível não me magoar.

– Pode ir, queria apenas relembrava-la que alguns tem o verdadeiro potencial – Ele pega a sua pasta em cima da mesa. – Outros, apenas a falta dele – O professor se aproxima mais. – E você? – Ele pergunta no meu rosto, consigo até sentir seu hálito quente.

Sem esperar respostas, ele passa por mim e vai para a porta, passando por ela com toda a calma possível.

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