Mãos trêmulas e suando ao extremo. Respiro fundo. Odiava o primeiro dia de algo, o começo de alguma coisa e principalmente os gatilhos que isso me dá. Odeio conhecer pessoas, sempre era a mesma agonia. Todas as vezes eu tentava colocar em minha cabeça que ninguém me vê como a forma que penso e que não precisa assim de tanto nervosismo.
E em todas as vezes na primeira interação, eu esquecia completamente disso.
Olho os horários do meu celular, como se já não tivesse feito isso um milhão de vezes na viagem até aqui. Eu já conhecia o bloco do curso graças ao meu irmão e até alguns professores, mas não era as poucas pessoas que conheço que vão sentar comigo no almoço.
Entro na sala 15 minutos antes do horário, não havia nenhuma cadeira mas uma sala enorme com um espelho na parede, do teto até o chão, no fundo da sala. A professora me ver atrás do espelho e se levanta da cadeira, me dando um pequeno sorriso.
– Caloura? – Ela aponta, abrindo um sorriso em seguida. Aceno que sim com a cabeça.
– Eu sou Dulce, professora de dança, trouxe a roupa de corpo? – Aponto para a mochila. E ela assente.
– A aula começa às 8, você pode trocar de roupa agora se quiser.Acabo por aceitar e saio novamente da sala para ir ao banheiro. A roupa de corpo consistia em um legging preta e uma camiseta que vai até o meio das minhas coxas, também preta.
Me olho no espelho e penso: O que eu estou fazendo aqui?
Eu gostava sim de artes e amava tudo que dizia sobre ela. Mas a minha fobia social era algo que com certeza iria me atrapalhar já que preciso interagir em trabalhos que neste curso, a maioria são em grupo.
Meus olhos vagam para a porta assim que escuto vozes animadas chegarem perto demais. Meus batimentos cardíacos aceleram.
Entram 4 meninas no banheiro, uma sorrir levemente para mim e eu sorrio de volta.
A aula decorreu de certa forma normal, não teve uma aula muito prática, ela apenas apresentou a ementa e orientou sobre algumas coisas necessárias ao longo do curso, como sempre tirar os sapatos antes de entrar na sala de espelhos, onde estamos. Roupas sempre pretas e produtos de higiene já que a aula exigia o corpo então é normal que todos tomem banho depois.
Depois ela nos ensinou alguns alongamentos e no final que foi necessária uma apresentação. Falar o nome, idade e o porque da escolha do curso. Estava tão nervosa que nem ao menos lembro o que eu disse. Me sentia estranha quando falava em voz alta, minha voz era horrível.
– Oi! – Pulo se susto quando alguém toca meus ombros. Eu havia acabado de calçar meus tênis.
– Você também é caloura? – Olho para ela, balançando a cabeça que sim, era a mesma garota que me deu um sorriso no banheiro. Ela era um pouco mais baixa que eu. Cabelos negros e volumosos, ela olha para mim arrumando seus cachos que caiam em frente aos seus olhos.
– Sou sim – Minha voz sai baixa demais para o meu gosto, começo a me sentir esquisita.– Eu também! – Agarra meus ombros e começamos a caminhar juntas para a saída do bloco.
– Você se inscreveu em todas as disciplinas? – Confirmo com a cabeça. Ela para de andar e me olha por alguns segundos.
– Que isso? Você só balança a cabeça? – Revira os olhos. Congelo no lugar.
– Não eu... – Sou interrompida por sua gargalhada.
– Estou brincando, você é tão fofa quietinha, ao longo do curso você vai se soltar, tenho certeza! – Comenta. Era o que dizia os sites que li e alguns comentários de alunos veteranos na página oficial da faculdade, no Instagram. – A arte faz isso com a gente.E fazia mesmo.
Algumas semanas depois, Missy e eu nos tornamos amiga como se nos conhecêssemos a anos. Mas eu me sentia tão infeliz comigo mesma. Todos ali ao meu redor no horário do almoço, eram calouros assim como eu. Mas eu parecia a mais atrasada de todos.
Eles falavam animadamente sobre as expectativas do curso, as calouradas que terá na próxima semana e a primeira avaliação do semestre. Eu já estava pensando na avaliação.
– Você é tão calada, está tudo bem? – Uma das minhas colegas de turma pergunta. Lembro de Missy, no primeiro dia, perguntando se eu só sabia balançar a cabeça.
– Estou bem sim – Respondo dando um pequeno sorriso. Ela me sorrir de volta.
– Olha! Ela fala! – Minha atenção vai para um dos calouros mais extrovertido da turma. Filho de uma família rica, e deixa claro para todo mundo que pergunta, que ele vai escolher bacharel quando estivermos no 3º semestre, onde todos nós devemos escolher, fazer licenciatura ou bacharelado.Eu já não sabia nem se tinha feito a escolha certa do curso. Ainda bem que ainda falta muito tempo.
– Quase nunca escutamos sua voz – Comenta, seus olhos eram azuis e os cabelos longos na altura dos ombros. Dou de ombros sem saber o que dizer, apenas sorrio.
– Ela é assim mesmo – Missy me ajuda. Volto o foco para a comida e tento terminar de comer. Me sentia estranha até em comer na frente de toda essa gente.Depois do almoço fomos para uma sala normal, com cadeiras. Não tivemos aula desta disciplina por problemas de saúde do professor. Me dá calafrios só de pensar que teremos de novo que nos apresentar.
Talvez eu tenha me equivocado MUITO em ter escolhido um curso que exige muita interação social. Não gostava muito de ter atenção em mim. Me deixava extremamente desconfortável.
O professor tinha um sobrenome engraçado, mas não consigo me lembrar agora, confesso que desanimei um pouco com a aula dele. Eu sabia da realidade se quem escolhe artes, mas não sabia que era tão ruim assim. Ele disse que era muito difícil se inserir em um mercado de trabalho se não tiver um mestrado ou doutorado, e o pior: sem contatos para ser indicado.
Como eu iria sobreviver quando tivesse meu diplomo?, faria ainda quase 3 anos de mestrado, era um pouco desanimador.
– Ah, vocês desanimaram é? Estou escutando esses suspiros pesados, vão ficar ainda mais ao conhecerem Grant – Ele riu. Não demorou muito para um dos meus colegas perguntarem de quem se trata.
– Literatura Dramática, vocês vão ver a cara dele até o penúltimo ano de curso, o chamamos de peneira, já que ele faz a maioria desistir, só fica quem realmente ama isso aqui – Ele apontou ao redor.
O que ele diz fica na minha cabeça, será eu a primeira a desistir?
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ALESSO
Teen Fiction+18 🚫 DARK ROMANCE + PITCH BLACK! Alesso, um professor universitário, está obcecado pela traição de sua ex-namorada na adolescência. Seu desejo de vingança o leva a perseguir a ex por onde ela vai, até que ele conhece sua filha, Elowen. Sem que Elo...