ALESSO

06 - Mustang.

Sinto como se tivesse apenas piscado o olho. O som do despertador me faz pensar se eu preciso mesmo de um diploma. Ainda sentia um sono absurdo.

Esfrego meus olhos enquanto me levanto da cama e pego minha toalha de banho, entrando no banheiro, por culpa do sono eu me arrumo com toda a leseira do mundo, apenas esperando a hora de ficar atrasada.

Por fim escolho um short saia preto e uma camiseta branca, calço minhas meias brancas e em seguida minha botas. Dou uma olhada no espelho antes de vestir um casaco, já que estava ventando um pouco frio lá fora.

Desço as escadas sentindo o cheirinho de café. Harry dormiu essa noite aqui, faz uns 4 dias que ele está aqui, o que me admirava apenas ontem ele ter comentado algo sobre a faculdade.

Me intrigava muito ele falar tão bem do professor Grant, já que ele é o próprio demônio.

Vejo apenas minha mãe sentada á mesa, tomando seu café enquanto vê algo no celular, sem notar a minha presença.

– Bom dia! – Ouço a voz do Harry enquanto ele adentra a cozinha, vejo nitidamente ele forçar o sorriso para a minha mãe.
– Tenho que ir – Minha mãe diz do nada se levantando e pegando a sua bolsa que está na cadeira ao lado junto com seu jaleco, ela nem ao menos olha para Harry ou para mim.

Eu e Harry trocamos olhares enquanto eu me viro no balcão, bebendo uma água.

Ponho minha mochila na cadeira ao lado e olho para meu irmão, que balança a cabeça em negativo, triste.

O silêncio é sempre muito presente nessa casa, todos nós vemos o que a mamãe faz e o que também deixa de fazer, mas escolhemos o silêncio sem questiona-la, por algum motivo isso chateava meu pai então a solução é fingir que não vemos nada.

Mas é óbvio que não somos a família perfeita e meu pai passa mais tempo tentando fingir que está tudo bem do que conversar com a minha mãe e dizer como ele realmente se sente.

Termino de tomar meu café e Harry continua comendo, eu estranho o papai ainda não ter descido para comer.

Volto a subir as escadas e paro em frente ao quarto dos meus pais.

– Papai? – Chamo, dando dois soquinhos na porta, ele não responde. Suspiro, não vendo outra alternativa, além disso papai é quem me deixa na faculdade todos os dias.

Abro a porta devagar e ponho apenas minha cabeça para dentro do quarto, o vejo deitado na cama, de costas para a porta.

– Pai? – Chamo novamente e ele não se mexe.

– Filha, peça para Harry te levar hoje, não estou me sentindo muito bem – Sua voz sai baixa demais e eu noto que ele tenta ser convincente.
– Está bem... mas você vai me buscar? – Indago.

Escuto o som dele puxar o ar com força, provavelmente se chateado com as minhas perguntas.

– Não sei, filha, você vai se atrasar – Ele continua na mesma posição.

Mesmo sem ele ver, eu concordo com a cabeça e me dirijo para a porta.

– Harry? Você pode ir me deixar na faculdade? – Pergunto assim que chego ao fim das escadas e o vejo na cozinha, ainda comendo.
– Não dá para chamar um Uber? – Pergunta. Torço o nariz não não gostando da sua resposta.

É claro que ele não tem obrigação alguma de me levar, preciso de um carro.

– Posso sim – Respondo e vou até a cozinha pegar minha bolsa.

Dou um "tchau" para o Harry antes de sair de casa. Pego meu celular e abro o aplicativo da Uber.

Suspiro olhando para frente e caminhando até a saída da propriedade. Olho para trás e vejo o carro do papai na garagem, poderia usá-lo mas ainda não tenho coragem para dirigir, ainda mais sozinha, eu sabia que em algum momento teria que enfrentar isso, mas evitaria ao máximo até não haver alternativas.

Meu celular vibra, indiciando que algum motorista aceitou a minha viagem, chegava em 5 minutos, estava em uma rua não muito longe daqui.

Olho o movimento da rua e vejo um Mustang preto passar por mim lentamente. O sigo com o olhar até parar no semáforo mais próximo. É idêntico ao do professor Alesso...

Abano a cabeça e foco no que é necessário.

Olho na direção oposta e reconheço a placa do carro do motorista da Uber, dou uma olhada no celular para conferir e ele paro ao meu lado.

Entro no carro dando bom dia e ele me leva até a faculdade que fica a uns 40 minutos de distância, era até que longe. Isso me faz pensar que tenho que criar coragem e começar a dirigir em breve.

O motorista puxou algum assunto e disse que a filha dele também estudava na mesma faculdade que eu, perguntei por educação quem era ou que curso fazia. E achei muito bonita a forma como ele falava dele, o orgulho brilhava em seus olhos.

Quando chegamos me despeço e saio do carro, percebendo que estou atrasada 5 minutos. O Uber veio devagar, claro que por conta da nossa conversa, mas foi agradável.

Aperto os passos até a sala e no caminho Missy me manda uma mensagem perguntando se irei faltar a aula. Não tenho tempo de responder.

Bato na porta pedindo licença e entro na sala do professor Frank, lembrei seu nome apenas agora. Hoje ele está usando uma saia vermelha e longa e uma blusa regata preta. E estava descalço.

Procuro Missy com o olhar e me sento ao seu lado.

É o mesmo professor que nos desanimou no começo com o valor do salário e etc, acredito que a matéria dele é preferencialmente dada para calouros.

Eu achava um tanto estranho tudo isso, porque aparentemente alguns professores que dão aula no primeiro semestre tentam fazer com que a maioria desistam do curso antes de passar para o segundo.

Isso me dava uma aflição, e se eu realmente tivesse no lugar errado?

Depois da aula fomos almoçar e eu notei olhares de Kevin, o colega rico da turma. Esperava sinceramente que ele não procurasse se aproximar de mim, tenho pavor de me envolver romanticamente com alguém, me dá até calafrios.

Sem contar que isso atrapalharia totalmente meus planos em me formar sem distrações.

Acabamos o almoço e conseguimos descansar por alguns minutos antes da última aula do dia, com o professor Ravi, de Teoria das artes. Já essa aula fizemos algumas dinâmicas em grupo para distrair a mente, foi um tanto peculiar, mas gostei muito da aula.