10 - Estúpida.

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Nunca bati tanta cabeça com um trabalho quanto esse, parecia que as palavras que eu própria escrevia se embaralhavam sozinhas e quando eu relia o parágrafo, nada fazia sentido.

Encosto minhas costas no banco, cansada, me sentia burra. Pouso minhas mãos no teclado do notebook e tiro meus fones, procurando escutar as voz da Missy em algum lugar. Sua amizade com a Verônica se intensificou nos últimos dias, mal nos falamos no fim de semana.

Hoje é quarta e eu tenho que ter ao menos um esboço do trabalho, já escolhi a artista mas não estou conseguindo me expressar e descrever tudo o que ela me faz sentir em ver seus trabalhos.

Escuto a gargalhada da Missy e logo ela aparece na minha visão, entrando no centro do bloco. Ela me vê e sorrir para mim, sentando ao meu lado.

– Ainda nisso? – Pergunta, olho para ela pensando no que respondo, ela masca o chiclete na boca.

Verônica está parada em minha frente, olhando para mim e fazendo uma careta. Ela é a menor das minhas preocupações.

– Sim – Respondo, voltando a atenção para o Word, brilhando na tela do notebook.

– Faz fizemos o nosso! – Verônica diz. Assinto com a cabeça sem olhá-la.
– Ansiosa para o que ele vai dizer... – Missy diz baixo, soltando um riso baixo e encarando Verônica.

Rapidamente entendo o que está rolando.

– Por que você falou desse jeito? – Pergunto, demasiadamente invasiva, mas somos amigas, não é?
– Que jeito?
– Assim... como se tivesse com duplo sentindo ou sei lá, algum interesse – Digo e ela arregala os olhos. – Quer dizer, acho que todo mundo nota o olhar dele em você – Forço um pouco, estou jogando verde.

– Sério? – Ela pergunta, e morde os lábios em um sorriso e em seguida as duas caem em risinhos.

– Eu disse para você! – A loira diz sorrindo para Missy, minha amiga tapa a boca e olha para mim.
– Achei que fosse somente impressão minha ou da Verônica. – Ah, então é isso mesmo, o Professor está interessado na Missy.

– Mas isso não pode dar problemas? – Pergunto. Ela revira os olhos.
– Só se descobrirem... – Depois disso, elas começam a conversar animadamente sobre alguns colegas de turma que sinceramente não me interessavam.

Volto a atenção para meu trabalho e me sinto confiante após ter certeza que a atenção dele não está realmente em mim. E termino o trabalho antes do horário da sua aula.

Não almocei para conseguir terminar. Mas estou muito satisfeita com o resultado, valeu a pena.

Entro na sala assim que da 5 minutos para o início da sua aula e sento na minha carteira habitual, não vejo Missy em lugar nenhum e aproveito que ninguém conversa comigo para dar mais uma revisada.

Ouço a voz das meninas e olho para a porta, as duas passam por ela e Missy nem ao menos olha para mim e passa direto, sentando ao lado de Verônica. O lugar ao meu lado fica vazio. Pelo menos isso significa que o Professor Grant não direcionará a sua atenção para cá.

Sinto sua falta mas também sinto alívio.

– Boa tarde! – Ele deseja, se aproximando da sua mesa e poupando seu notebook que estava em mãos, observo que o mesmo parece muito menor em suas mãos. Engulo em seco, me lembrando da carona.

E isso também me faz lembrar de Harry e a pergunta que consegui fugir.

– Boa tarde – Respondo assim como os outros alunos. Pego o notebook sentindo minhas mãos geladas em nervosismo.

– A aula será toda para vocês, quem não fez a base do trabalho, faça agora e traga para mim, e quem já terminou pode vir me mostrar, um de cada vez. – Ele mal termina de falar e vejo Verônica já caminhar até a sua mesa com seu celular em mãos.

– Porque Missy não sentou aqui? – Olho para Kevin, ele acaba de sentar ao meu lado. Logo quando eu estava adotando ficar sozinha.

Dou de ombros e ele começa a falar sobre o artista que ele escolheu.

– É um trabalho para exercitar a mente e não a língua! – Professor Grant diz, com a sua voz ecoando por toda a sala, os olhares estão todos em nós.

– Desculpe – Kevin diz entre um suspiro e se encosta a cadeira.

O Professor arqueia as sobrancelhas para mim.

– Desculpe, Professor – Peço, ele assente e volta a dar atenção, agora para Missy.

Ela me olha dando um risinho. Estou comentando a desenvolver uma antipatia por ela.

Alguns minutos depois eu crio coragem para levar meu notebook até ele. Mas quando chego perto o suficiente para já conseguir sentir seu perfume, Verônica cruza meu caminho, me fazendo quase derrubar meu precioso.

– Cuidado! – Digo com certa raiva e apertando o mesmo em minhas mãos.
– E só sair do caminho! – Responde prontamente. O Professor alterna o olhar entre nós duas.

– Me mostre, Verônica – Ele da a vez para a loira e eu assinto, me afastando.
– Falei um de cada vez, saia da minha frente e sente-se! – Ele diz olhando para mim. Verônica rir.

Sem responder eu sento uma das cadeiras vagas na primeira fileira. Meu rosto esquenta em vergonha.

Quando ela sai, ele me chama com a mão já que meus olhos ansiosos estavam fixos nele.

Me levanto e sento-me ao seu lado, na cadeira em que Verônica estava. Tento disfarçar minhas mãos trêmulas e abro meu notebook, mostrando para ele meu trabalho. O homem me olha de lado.

– Não precisa ficar nervosa, chéri. – Diz baixo, apenas para mim ouvir, meu corpo esquenta e eu baixo minha cabeça, fitando minhas unhas, nervosa.

Ele passa vários minutos lendo meu trabalho enquanto os demais alunos esperam ansiosos pela sua voz.

"A vida imita a arte", de onde você tirou essa frase? – Pergunta alto. Meu Deus, que ele não me humilhe agora.
– Bem, eu... – Fico sem saber o que dizer, coloquei o que me veio na cabeça.
– Isso não pode vir da sua cabeça, eu pedi um trabalho único, não uma frase que não tem dono! – Esbraveja, ele afasta a cadeira e se levanta.

– Não citem frases de seja lá qual rede social vocês usam! Isso está ridículo! – Aponta para meu notebook e em seguida olha para mim. Me encolho na cadeira. – Saia da minha frente, stupide! – Seus olhos azuis estão escuros em fúria. – Próximo! – Anuncia antes de voltar a se sentar.

Sem dizer uma única palavra eu pego meu notebook e volto para o meu lugar.

O silêncio da sala me perturbava ainda mais.

– Parece que alguns aqui ainda não saíram da adolescência e do ensino-médio, querem escrever um trabalho sem nem ao menos fazer uma breve pesquisa, ninguém aqui conhece o Google Acadêmico?! Ou não sabe diferenciar um artigo para uma pesquisa fajuta?! – Ele diz alto assim que em sento em minha carteira.

Levanto o olhar por breves segundos e seus olhos furiosos estão em mim.

– Revejo seu trabalho no fim da aula! – Engulo em seco.

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