A L E S S O
Os cabelos dela eram em um negro que brilhavam no sol. Lembro-me de esperar ansiosamente para que o verão do próximo ano chegasse novamente para que eu pudesse ver o seu balançar e o brilho deles. Mas no próximo, eu não voltei a vê-la.
Amanda Floweers era a garota mais popular do colégio, extrovertida e rebelde, ela sempre tinha uma resposta na ponta da língua, arisca. Durante os 3 anos do ensino médio, eu a observava como um animal à espreita, ela me assustava como também me atraía.
Já eu, o mais inteligente da turma, o que fazia consequentemente que ela recorresse a mim procurando respostas e um parceiro para os trabalhos acadêmicos até eu me tornar o parceiro que a socava sempre que ela tivesse carente o suficiente para não ter paciência de fazer jogos com os caras populares. E eu admito amava ser usado por ela.
Depois da primeira vez, não demorou muito para que assumíssemos um relacionamento, o que durou apenas o verão.
Consigo me lembrar com riqueza de detalhes o seu corpo se contorcendo e seu suor se fundindo ao meu, naquela terça-feira de verão, foi o dia mais quente do ano. Ela se deleitava com o prazer que eu a fazia ter ao ponto dela mesma esquecer da popularidade e seus preconceitos internos. Eu não era o cara mais bonito da escola e muito menos atraente, mas eu sabia fode-la para que isso tudo se tornasse apenas um detalhe.
Até aquele dia de volta às aulas.
No dia do meu aniversário de 18 anos. Ela chegou com o sorriso mais largo do mundo enquanto eu pegava meus livros para a próxima aula, conversava com a sua amiga, e o mundo parecia ter parado enquanto ela caminhava. Lembro até mesmo que arrumei meus óculos no nariz para que eu pudesse enxerga-la com mais detalhes.
Mas ela passou reto por mim no corredor, seus amigos até mesmo me sorriram com deboche.
E no fim das aulas ela decidiu ser sincera comigo.
"Estou grávida, e não é de você, espero que entenda." Ela virou as costas mas deu um suspiro antes de virar de novo como se tivesse sentido que precisava falar mais alguma coisa, e ela disse: "Ah, e além disso, sabemos que você não pode me dar um bom futuro sendo pobre e vindo também da família francesa mais pobre já existente."
E me virou as costas como se eu fosse um ninguém. Dias depois os boatos se espalharam, ela aos seus 18 anos, estava grávida do melhor amigo do seu pai. Um homem de 26 anos de idade e pai de um garoto de 6 anos.
Chorei por tantos dias que disso não consigo me lembrar, como se meu cérebro tivesse bloqueado esse período de puro sofrimento.
A garota mais popular do colégio havia me dado atenção e parecia estar apaixonada por mim, e agora estava grávida de outro?!
Agora com 18 anos depois e eu com 36 anos. Fiz meu doutorado em Literatura dramática, formando na melhor faculdade de Artes Cênicas do mundo além da formação também em bacharel. E tudo isso apenas com 36 anos. Ganho mais do que um dia imaginei seguindo uma profissão.
Nos anos seguintes á sua rejeição a mim, minha família recebeu uma herança de um avô distante. E não preciso dizer que pude parar de sobreviver para viver, estudei na mesma intensidade com que me esbaldei em todas as casas noturnas do mundo, como também me deslumbrei com a arte de causar dor e me alimentar disso como um viciado. Mas que mesmo assim tudo isso não afetava em nada no meu trabalho. Me possibilitando ter a vida dupla.
E eu sabia que em algum momento a oportunidade ressurgiria e eu poderia causar com ainda mais intensidade, toda a dor que Amanda me causou e eu estaria preparado para isso. Eu só precisava esperar. Com calma e paciência.
E L O W E N
Não consigo explicar quando a Arte se tornou importante para mim. Mas eu sabia bem o quanto me deixava entorpecida com os sentimentos que ela me fazia sentir.
Tinha um constante significado que me cativava cada vez mais, por trás de cada traço desenhado por um artista ou as perfomances cobertas de significados que não importa em quantos ângulos é vista, cada um tem um significado dependendo do olhar de quem vê. E eu amava profundamente e sempre tentava enxergar por todas as possibilidades, o que era uma busca incansável já que a arte tem infinitas possibilidades.
Ou talvez ela tenha se tornando importante quando vi meu irmão treinando perfomances de madrugada no quarto, noites a fio em que eu escutava sua voz ecoando testando os diversos níveis que ela podia chegar. Ou os alongamentos que ele fazia no chão da sala dizendo que era essencial para o artista se sentir dentro do próprio corpo e ser liberto para quem estivesse assistindo.
Ou eu estou apenas perdida no que quero para minha vida e tentava procurar algum caminho.
Meu irmão se formou a alguns anos atrás, ele sempre pareceu tão decidido no que fazer, que assim que fez seus 18 anos, já ingressou no curso e hoje trabalha como dublador. Mesmo com nossas brigas quase constantes. Eu sentia falta de tê-lo em casa.
– Então, meu amor, está mesmo decidida? – Meu pai pergunta em tom baixo. Como se não quisesse me assustar. Vivo constantemente nos meus próprios pensamentos que esqueço do mundo ao meu redor, o que me faz ter diversos sustos de graça quando falam comigo abruptamente.
– Sim, papai! – Sorrio para ele. Tentando ao máximo passar convicção. Ele levanta as sobrancelhas, me olhando por cima dos óculos e em seguida baixa o livro que está lendo. Senhor Ivan ler muito no seu tempo livre quando não está no seu consultório. Ele é um psicólogo excelente.
– Fico tão feliz, minha filha – Ele se inclina no sofá, me dando um beijo na bochecha.Eu vivia para tentar e fazer meus pais orgulhosos, sempre fui quieta e reservada, completamente decidida em ser a filha perfeita. E tentava lidar com a pressão que minha mãe colocava na minha vida. Ela era ausente na minha vida. Mas sempre estava por perto para me cobrar do que deve ser feito. E ela estava certa. Eu só tenho que manter tudo sempre alinhado.
– Mamãe não volta hoje? – Pergunto, me batendo mentalmente por ter feito essa pergunta. Meu pai puxa o ar com força e pousa a mão na minha coxa, dando dois tapinhas como se quem precisasse de conforto fosse eu.
– Não, novamente em um plantão. – Seus lábios ficam em linha reta e ele volta a atenção para o livro.E eu pego meu celular, abrindo o quadro de horários da próxima semana, o início das aulas.
Tento reprimir qualquer pensamento de auto-sabotagem. Me sentia velha por estar começando tudo com 19 anos e não com 18 como meu irmão.

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ALESSO
Teen Fiction+18 🚫 DARK ROMANCE + PITCH BLACK! Alesso, um professor universitário, está obcecado pela traição de sua ex-namorada na adolescência. Seu desejo de vingança o leva a perseguir a ex por onde ela vai, até que ele conhece sua filha, Elowen. Sem que Elo...