ALESSO

04 - A primeira aula.

A L E S S O

    Termino de pôr meu cinto e me olho no espelho. Arrumo a blusa social para esconder todas as tatuagens, não gostava totalmente da atenção das alunas em mim, principalmente as do primeiro período. O impacto que eu gostava de dar é de fazê-las se esforçarem parar passar na disciplina. O que eu fazia de tudo para dificultar.

Nenhum aluno passa por mim sem entender o que verdadeiramente ensino, não dava para me enganar, sentia o cheiro dos que tentam passar forçadamente, de longe.

Agora termino de abotoar os botões no meu pescoço, pego minha pasta de couro, as chaves do carro e saio do apartamento. Todo ano era a mesma coisa e eu odiava, gostaria que os alunos já viessem para mim sabendo o que querem, pelo menos o mínimo da parte teórica de literatura dramática. Assim eu não perdia meu tempo tentando ensinar quem nem vai permanecer no curso depois que tiver a primeira aula comigo.

Acelero meu Mustang, me afastando do meu prédio.

Quando paro no semáforo, pego minha carteira de cigarros do porta luvas, pondo entre os lábios enquanto olho pelos retrovisores quem parou atrás de mim. Uma mania de precaução já que muitos motoqueiros pegavam corredor e tive algumas experiências ruins com alguns que arranharam meu carro. Me fazendo ficar esperto.

Pegou meu isqueiro acedendo o cigarro, o sinal abre, trago enquanto acelero.

Todos os dias de manhã eu pensava na maldita Amanda, a puta que destruiu minha vida. Tive o vislumbre de uma chance quando dei aula para o maldito enteado dela, Harry.

Mas ele era bom demais no que fazia para que eu fizesse a vida dele um inferno, não dava para reclamar dele no conselho e nem nas reuniões de colegiado, todos os professores o adoravam e ele se formou com honras.

Sorrio de lado, ele era um bom garoto e não dava brechas para uma possível humilhação, e ele também me adorava, foi meu melhor aluno. E pelo pouco que soube pelos corredores ele não se dava muito bem com Amanda e tinha problemas em casa. Logo, não dava para me vingar nele.

Desisti da ideia de descontar meu ódio por enquanto, mas arranjaria uma forma, já sabia o hospital que ela é médica chefe, o consultório do filho da puta do marido, só não tinha muitas informações da filhinha dela, o fruto da sua traição. Vadia de merda.

Entro no campus indo em direção ao estacionando, parando na vaga de sempre, debaixo de uma árvore.

A aula começava às 8:30. Verifico o relógio no pulso, exatas 7:50, iria passar na secretaria do curso antes de ir para a sala, precisava pegar a lista dos alunos.

Entro no corredor em direção ao bloco, vendo alguns alunos falando alto e rindo sem motivo aparente, com certeza são calouros. Reviro os olhos. Odiava adolescentes na fase adulta, eles acham que tudo é divertido até a realidade bater com força no seus rostos jovens.

Desvio o olhar deles, olhando para a entrada do bloco, e é então que tudo passa em câmera lenta. Uma garota ao lado de outra com cabelos crespos volumosos.

Idêntica a Amanda quando era jovem, a diferença era que seus cabelos eram em um tom claro e médio. Ela segurava com força uns livros contra os seios, uma saia de colegial com uma blusa social branca.

Ela estava sem expressão enquanto ouvia a outra falar algo animadamente. Os sons ao meu redor pareciam ter ficado incompreensíveis, ela pisca, desviando os olhos da amiga, agora me olhando.

Eu pude ver a inocência em seus olhos, os seus pensamentos inquietos, e pela sua postura com o corpo, era óbvio que se sentia insegura sobre alguma coisa.

Suas pupilas se dilatam enquanto eu passo por ela, mantendo o olhar. Também diferente de Amanda, a garota é mais baixa. Quem é ela?

Ainda sinto seus olhos verdes escuros queimarem minhas costas.

Com meu corpo mais quente que o normal, entro na secretaria, pedindo para o secretário me entregar a lista dos alunos. Olho para trás procurando vê-la através da porta de vidro.

– Aqui está, professor – Ele me entrega as folhas. – Aí também tem a lista da turma do turno da tarde. – Confirmo com a cabeça e saio do lugar.

Solto um suspiro de alívio quando entro na minha sala, o ar estava ligado. Quem caralho era aquela garota?

Pego a lista dos calouros, não é possível que seja filha da maldita Amanda.

Pego minha caneta procurando o nome dela.

Elowen Floweers.

Então era ela mesmo, o fruto da traição. Abro um sorriso, minha vingança está prestes a começar.

Estava ansioso para dar o horário. Tenho tantas ideias...

Quando o relógio bate 8:30, os primeiros alunos começam a entrar, me dando bom dia educadamente.

Ela entra, com a mesma colega que vi no corredor, sigo-a com o olhar. Se um vento batesse em seu corpo, com certeza daria para ver sua calcinha.

– Bom dia! – Digo assim que elas se sentam. – Lembrem que a educação é a chave para uma boa convivência. – Jogo a indireta para as duas, as únicas que entraram sem dar bom dia.

– Desculpe, professor... – A voz dela soa, sinto uma arrepio passar por minha espinha, minha doce vingança.
– Grant – Informo, mantendo meu tom de voz grosso.
– Professor Grant – Ela repete tentando esconder o rosto vermelho de vergonha com as mãos, disfarçadamente.

E L O W E N

Missy me dá uma cotovelada, com os olhos arregalados, todos os colegas nos olham depois do que o professor diz. Meu Deus, que vergonha, como entramos na sala assim sem dar bom dia?

Ele apresenta a ementa que era a pior de todas, vários trabalhos valendo uma mixaria de pontos, forçando o aluno a ser perfeito em todos para conseguir chegar na média, mas eu iria me esforçar.

– Nós estamos fodidas – Missy murmura, concordo com a cabeça.

O Professor era alto e parecia fazer academia já que a camiseta social apertava seus braços. Olho para Verônica, vendo-a morder a ponta da caneta, olhando o professor de cima a baixo. Misericórdia.

Ele tinha os cabelos escuros em um topete, e a pele levemente bronzeada.

– Ele não parece ser professor de artes. – Comento baixo, sem perceber.
– Para ser professor de artes, precisa parecer alguma coisa? – Missy refuta. Não sei.