17 - Dacrifilia.

1K 105 51
                                    

O fim de semana inteiro passei com papai dentro do meu carro, dirigindo pelos bairros mais tranquilos da cidade. Foi agradável e ele teve a paciência de me ensinar, eu só precisava ter a noção de espaço e controlar meu nervosismo ao passar do lado de qualquer carro que fosse.

Ah, e também olhar os retrovisores antes de sair.

Hoje eu vou arriscar sair, ir até o shopping e comprar algumas roupas de inverno já que ele está cada vez mais próximo e ano retrasado doamos a maioria das nossas roupas para a caridade, pela ONG que minha mãe também faz parte por ser diretora do hospital.

Fui no limite da via que é 40km, claro que recebi várias buzinadas dos apressados atrás de mim. Não posso andar como louca e pôr em risco minha vida, ainda mais quando ainda nem me formei na faculdade ou vivi metade do que imagino toda noite antes de dormir.

Estacionei o carro e segui para a entrada do shopping, indo direitamente para minha loja favorita. Experimentei sobretudos e alguns suéteres, seguindo os tons claros, marrom, branco e bege, minhas cores favoritas e que combinavam com o tom do meu cabelo.

Ainda bem que nenhuma vendedora procurou me auxiliar, eu queria evitar falar com qualquer pessoa que fosse, só saí porque precisava.

Saio da loja com as sacolas em mãos, com o único objetivo de voltar para o carro sem ser vista por nenhum conhecido que me obrigue a cumprimentá-lo.

Vejo a saída logo a diante e apresso o passo.

Paro abruptamente ao sentir um puxão no meu braço, quase fazendo com que eu derrubasse as sacolas no chão. Preparada para questionar qual o problema da pessoa, eu levanto o olhar das sacolas para ela.

O Professor. Abro a boca para falar algo mas não sai som algum.

– Que coincidência... – Assopra no meu rosto, me puxando sutilmente para mais perto dele. Sinto o tecido gelado da sua jaqueta triscar no meu pulso.

A mesma jaqueta que estava usando no dia da festa. Sua roupa agora é totalmente diferente da que ele costuma usar na aulas, sempre uma roupa social. E agora essas roupas parecem que ele está indo para um show de Rock. É confuso.

Volto para o que está acontecendo e tento me soltar do seu aperto mas isso só faz com que ele reforce ainda mais.

– Não deveria estar em casa? Estudando para a nossa prova na quarta? – Ele olha para as minhas compras.
– Vai usar isso para a próxima festinha? – Rir, amargo. Faço uma careta e me forço a lutar contra o seu aperto, me soltando finalmente.

Não espero ele me agarrar de volta.

– Me deixe em paz – Consigo dizer, virando e correndo para a saída.

Sem olhar para trás eu procuro meu carro, me arrependendo amargamente por ter estacionado em um local mal iluminado do estacionamento, eu nem ao menos vi as horas passarem.

Destravo as portas e ponho minhas compras no banco traseiro, apressadamente eu fecho a porta e tento abrir a minha mas com isso acabo travando novamente e não consigo abrir – Só pode ser brincadeira – Suspiro cansada. Destravo novamente e tento abrir, conseguindo finalmente.

Mas a porta é fechada novamente e a mão dele desenha no vidro dela, minha respiração se torna mais ofegante e eu sinto seu calor atrás de mim.

ALESSOOnde histórias criam vida. Descubra agora