ALESSO

08 - Azar.

– Ah, Elowen... não fica assim, amiga – Missy me abraça pelos ombros e eu fungo, sentindo ainda as lágrimas molharem meu rosto. Sinto como se todos os meus esforços fossem inúteis.

– Já pensou em se soltar um pouco mais? – Ela me afasta, me olhando séria, será que ela também acha que o problema é mesmo eu? Nunca fiz nada de errado para esse professor.
– Acha que pode ser isso? – Pergunto e ela concorda levemente com a cabeça como se não tivesse certeza sobre o que está concordando.

– Talvez ele veja o quanto você se sente travada nesse curso – Ela diz o que eu já sei. Simplesmente decido me calar e não dizer mais nada

– Elowen? O que aconteceu? – Ouço a voz de Kevin, subitamente me afasto da Missy e limpo meu rosto. Ele tem o olhar preocupado quando finalmente levanto meus olhos até ele.
– Nada, está tudo bem – Forço um sorriso.

Ainda estávamos parados no meio do bloco do curso e eu só desejava ir logo para casa.

Procuro Missy com o olhar e não a acho mais.

– Você tem certeza? – Kevin pergunta, confirmo que sim com a cabeça enquanto ainda procuro pela minha amiga, olho em direção ao corredor da saída e vejo o professor parado na saída com o celular no ouvido. Seus olhos encontram os meus no exato momento em que sinto mãos em meus ombros.

– Elowen? – Kevin me balança levemente, volto para ele e forço novamente um sorriso. Minha mente estava rodando pela a troca de olhares. Precisava ir para casa mas teria que passar por ele.

– Vamos jantar por aqui, você vem? – Missy surge do nada do meu lado, de costas para a saída, onde consigo ainda ver o professor com o olhar fixo em mim, ou... em Missy, será que ele sentia algo por ela? Ou estou ficando louca?

– Não, meu pai já deve estar vindo me buscar. – Digo e ela sorri de lado, parecendo triste, mas em seguida abre um sorriso para Verônica e Kevin, que ainda me olha preocupado.

Missy se despede de mim e sai caminhando com Verônica, observo elas passarem pelo professor dando risinhos, e ele segue as duas com o olhar, isso faz com que eu suspire de alívio, talvez ele só... não sei, sinta ciúmes de mim perto da Missy.

– Me manda mensagem qualquer coisa, está bem? – Noto que Kevin ainda está a minha frente, balanço a cabeça pedindo desculpas pela minha distração. Ele sorrir para mim e eu o agradeço, ele está sendo muito gentil.
– Claro. – Sorrio e ele me dá uma abraço rápido, e sai em passo apressados atrás das meninas.

O sigo com o olhar até ele passar pelo professor e então ele tira o celular do ouvido e olha para mim.

Puxo o ar com força. Não posso deixar de ir para casa por conta dele, tenho que ter coragem e além disso, faço esse curso para isso também: parar de ser besta e ficar nervosa assim.

Quando dou os primeiros passos para a saída, meu telefone vibra na minha mão.

"Querida, não poderei buscá-la hoje, eu e sua mãe vamos sair para jantar de última hora... sabe como as folgas dela são raras, se importa de vir de táxi?"

Mensagem do meu pai. Que porcaria.

Respondo sua mensagem com um "ok" e um emoji de coração azul que amo usar com ele.

Me arrependo de não ter ido jantar com a Missy.

O professor ainda me encara quando eu bloqueio o celular e guardo na bolsa, mas decido aproveitar a minha curta raiva por ter que voltar de táxi, para passar por ele e fingir que ele não me afeta.

Quase sorrio em vitória quando consigo, mas em seguida meu coração acelera ao escutar seus passos firmes atrás de mim.

O caminho até o estacionamento nunca me pareceu tão longo, enquanto caminhava, eu esquecia até mesmo como se andava, sentia o calor do seu olhar nas minhas costas e reprimo o pensamento intrusivo que acabei de ter: sua mão tocando na minha nuca.

Com a imaginação fértil além do meu período, um arrepio passa por todo meu corpo e eu me culpo por ter imaginado uma imbecilidade dessas.

O som de um trovão me faz parar de caminhar e eu olho para o céu escuro, reparando que um vento começa a balançar as árvores. Volto a caminhar ainda olhando para o céu e sinto algo bater na ponta do meu pé direito, mas antes que eu me desequilibrasse e caísse, uma mão forte agarra meu braço.

Não preciso olhar para saber que se trata do professor Grant.

– Presta atenção! – Reclama alto, sua voz ecoa como se fosse outro trovão.

Meus lábios tremem e eu me viro para ele.

– Obrigada – Agradeço olhando rápido para seus olhos e em seguida para a sua grande mão que circula meu braço. Inevitavelmente um outro arrepio passa por todo meu corpo através do local onde ela está.

Tento me soltar do seu aperto mas ele segura mais forte.

– J-já por me soltar – Gaguejo assustada, ele parece não me ouvir e mantém o olhar em mim com força.

Na verdade eu estava fraca com a sensação anterior, isso com certeza é culpa do meu período fértil.

Fecho meus olhos quando ele me solta e quando os abro ele já havia passado por mim e saído do corredor, seguindo o caminho até o estacionamento.

Sem perder tempo eu pego meu celular com a intenção de chamar um táxi, mas nenhum número atendia... e o pior que quando eu tentava chamar algum carro de aplicativo, todos cancelavam a viagem, não me restando alternativas.

Tento até chegar no estacionamento, no lugar onde costumo esperar meu pai.

Droga!

A chuva começa a cair de uma vez e eu corro até o outro lado da rua, para onde vai o estacionamento, pego a direção oposta, onde já vi que na esquina há uma parada de ônibus. Voltar para dentro da faculdade toda molhada não estava nos planos.

No meio do caminho eu desisto. A chuva estava forte demais e eu fico totalmente ensopada em dois minutos.

Começo a caminhar com a chuva mesmo caindo sobre a minha cabeça, fixo meu olhar no chão, vendo meus pés abrirem caminho na água que cai na calçada. Eu sou muito azarada, não é possível...

Um apito de carro me faz saltar em meio aos passos rápidos.

– Entra no carro! – A voz... Professor?
Olho para meu lado e o vejo com o vidro do carro semi-aberto. Enquanto me segue devagar
– Não, Obrigada! – Agradeço rapidamente e volto o olhar para os meus pés.

Ele apita novamente, mas desta vez com mais força.

– Entra no caralho desse carro, Elowen! – Sua voz soa alto, movida pelo medo, eu me vejo parando e abrindo a porta do Mustang negro.