– Vamos nos atrasar! Acorda logo! – Abro meus olhos sentindo as mãos da Missy apertar meu braço enquanto me balança freneticamente.
O quarto dela está completamente claro, como eu vim parar aqui? Pisco os olhos várias vezes sentindo como se tivesse areia neles, mas logo lembro que dormi de maquiagem.
– Veste isso... – Sigo minha amiga com o olhar mas logo minha visão é tapada com ela jogando roupas em mim.
Tratei de tomar um banho para ver se amenizava minha cara de idiota e que fez merda na noite passada mas nada parecia estar funcionando.
Saímos do quarto dela apressadas, nem mesmo o lugar eu pude observar melhor. Missy caminhava em passos rápidos a minha frente.
– Onde estão seus pais? – Solto minha dúvida genuína. A casa era imensa mas nada era ouvido além das nossas vozes e nossos passos.
– Eles viajam muito – É tudo o que ela responde antes de abrir a porta. Eu não lembro mesmo como cheguei aqui.
Mas lembro perfeitamente do professor antes de apagar. Ou será que ele realmente esteve ali? E tudo não passou de uma ilusão de uma mente alcoolizada?
Missy destrava as portas de um carro e me manda entrar rápido assim como ela. É um carro caro. Então Missy também faz parte da elite?
Tenho a sensação de que perdi alguma coisa em saber detalhes da sua vida que jamais me passaram pela cabeça, vai ver não somos mesmo tão amigas assim.
– Ontem foi uma loucura! – Comenta rindo, parando em um semáforo. De súbito eu pego meu celular na bolsa, droga! Esqueci que avisar que estou bem e viva para os meus pais.
Assim que acendo a tela do celular, surge no mínimo 15 mensagens do meu pai e 7 ligações dele e apenas 2 da mamãe.
Estou ferrada...
– Como chegamos em casa? – Pergunto bufando e bloqueando novamente o celular, não querendo pensar nas consequências do meu "sumiço".
– Um amigo do Kevin deixou nós duas aqui, a propósito, te encontrei beijando o gramado da casa no fim da festa, completamente apagada. – Gargalha alto. – Kevin fez questão de te colocar no carro, você perdeu toda a diversão do fim da festa com a presença especial da polícia. – Ótimo, podia ser pior. Eu ter ficado mais horas jogada no gramado, sabe Deus o que poderia ter acontecido.
Balanço a cabeça em positivo para o que ela diz, não tendo vontade de comentar mais nada. Eu rezo para que o professor realmente tenha sido fruto da minha imaginação.
– Antes de você apagar, você viu o Professor Grant? – Sua pergunta faz meus lábios secarem assim como minha saliva. Engulo em seco.
– Ele esteve mesmo lá? – Pergunto.Missy desvia o olhar do trânsito para mim, franzindo as sobrancelhas.
– Sim, pelo o que disseram ele mora ali perto e foi reclamar do som alto, inclusive achamos você assim que a polícia chegou, ele é um gostoso estraga prazeres – Percebo que ela força uma gargalhada.
Então ele falou comigo e em seguida chamou a polícia para acabar com a festa.
Missy estaciona e saímos do carro em direção ao bloco.
Meus celular ainda está em 23% de bateria, tento fazer uma nota mental para pôr para carregar durante a aula de dança.
São exatas 7:15 da manhã.
Sendo assim, caminhamos juntas para o RU, enquanto Missy conta como foi dar um beijo triplo com Verônica e Kevin. Que nojo.
Os assuntos deles são muitos espalhafatosos e eu me sinto uma velha conservadora a cada mínima coisas que eles falam.
Alguns veteranos se juntam á nossa mesa depois da chegada de Kevin e a amiga da Missy. Me dava asco em até mesmo pronunciar o nome dela.
Fico calada, tomando meu café em silêncio e o assunto parte para a "poligamia". Definitivamente não acho que eu esteja no curso certo. Aparentemente todos os veteranos se sentiam "livres" sentimentalmente, a maioria está em um relacionamento aberto.
– Não podemos prender alguém e tratá-la como prisioneira dos nossos próprios sentimentos, temos o livre arbítrio por uma razão. Não faz sentido priva-las de aproveitar suas vidas apenas porque os conservadores acham errado se apaixonar por mais de uma pessoas, a monogamia está no passado a muito tempo – Um deles retruca quando uma colega da turma comenta que esteve em um relacionamento mas ela não sabia.
– Falam muito da monogamia mas impõe regras até para isso! Se são tão livre assim e adeptos a amar sem regras, porque insistem em estar em um relacionamento aberto com apenas uma pessoa e pegar geral? Não faz sentido! Isso não é uma prisão também? Para mim são pessoas que querem trair mas querem pagar de bons moços e dizer que tem "responsabilidade afetiva" mascarado de "relacionamento aberto". – A garota retruca, revirando os olhos. A partir daí eles começam a debater alto, chamando a atenção de todo o restaurante universitário.
Gostei do posicionamento dela.
– Ela é tão caladinha, mas tem opiniões fortes – Missy sussurra para mim. – Estou com você Beatrice! – Exclama, incentivando o bate boca a ficar ainda mais forte.
Após os ânimos terem se acalmado. Eu encaro nossa colega com curiosidade, ela tem a pele pálida, é um pouco mais alta que eu e longos cabelos pretos.
Só então reparo que ela é bem na dela, mas entrega tudo nas aulas práticas.
Queria ser como ela, expor minhas opiniões sem medo de ser julgada.
A professora Dulce, nós desafia a uma prova prática para fechar o semestre da matéria dela. Eu sinceramente não acho que me sai bem e recebi olhares nada amigáveis dela. Será que os professores assim como eu, perceberam que eu não me encaixo nisso aqui?
Sinto vergonha alheia, lembrando da "perfomance" que fiz. Mas que merda.
– Não foi tão ruim assim – Missy diz ao meu lado, estamos no banheiro e eu me encaro no espelho, pensando no que estou fazendo da minha vida.
Já Missy parecia ser uma professora de dança, pelo menos estou vendo-a assim depois da incrível performance, agora ela tem um olhar confiante e uma nota 10.
E eu com o meu mísero 7,5. Pelo menos eu passei. A professora não pode me reprovar pela falta de habilidade já que frequento as aulas e nunca faltei. Pelo menos isso.
– Vamos tomar um sorvete antes do almoço? Tem um quiosque aqui perto, depois do estacionamento. – Escuto a voz de Kevin, vindo da porta do banheiro sem adentrar o lugar, é claro.
Missy e a sua amiga respondem no mesmo segundo e ela me puxa pelo braço.
Bebo um pouco da água na minha garrafinha enquanto passamos pelo corredor em direção ao estacionamento. Inevitavelmente me vejo procurando o Mustang do Professor, já que a próxima aula é dele.
Encontra ele com os olhos, mas quando volto o olhar para frente. Meu pés grudam no chão.
Harry está parado no fim do corredor, com as costas contra o último pilar que sustenta o mesmo. Ele meche no celular distraidamente até seus olhos encontrarem os meus e ele acenar.
Meus amigos viram em direção ao quiosque e eu fico para trás, atômica. O que ele está fazendo aqui?
– Harry? – Falo quando chego perto. Ele guarda o celular no bolso e me encara sério. – O que está fazendo aqui? – Pergunto. Medo dele encontrar com o Professor, medo das mentiras que ele pode inventar ou revelar meu processo que até então só ficava atrás dos muros da universidade e não um assunto na mesa de jantar em casa.
– Alesso me ligou, disse que precisa conversar comigo – Fala, olhando o relógio no pulso. – Daqui 15 minutos. – Engulo em seco. – Tem ideia do que pode ser? – É a vez dele perguntar, mas algo me dizia que ele já sabia.
Encolho os ombros, se eu usasse a boca para respondê-lo me entregaria.
– Elowen! – A voz da Missy me safa e eu quase respiro de alívio.
– Tenho que ir, até mais tarde – Digo, supondo que se ele está por aqui, significa que vai jantar em casa.
Sem esperar ele responder, eu praticamente corro até o quiosque.
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ALESSO
Teen Fiction+18 🚫 DARK ROMANCE + PITCH BLACK! Alesso, um professor universitário, está obcecado pela traição de sua ex-namorada na adolescência. Seu desejo de vingança o leva a perseguir a ex por onde ela vai, até que ele conhece sua filha, Elowen. Sem que Elo...