Eu estou tentando fazer as coisas de um jeito diferente.
Tenho me culpado, com alguma frequência, por abandonar projetos pelo meio do caminho. Realmente existem muitas coisas que comecei, mas não terminei. Por isso o título do post de hoje.
Quando olho para trás, tenho uma sensação forte de que passei a vida toda construindo castelos de areia. Para deixar mais claro, estou me referindo aos incontáveis projetos nos quais mergulhei de cabeça por um tempo, mas acabei perdendo a vontade de continuar.
Tenho muitos exemplos disso nas artes (teatro, literatura, pintura, escultura, tapeçaria), nas línguas (espanhol, grego e catalão), e também na área de comunicação (já atuai em todos os principais segmentos e fui perdendo o interesse por todos) e na psicologia (longa história, em algum momento vou voltar a falar disso. Sempre volto).
Esses sã alguns dos muitos e muitos projetos que comecei e não concluí.
Esse aspecto em particular do meu histórico me levou algumas vezes a me questionar sobre um possível traço de TDAH. Mas depois que descobri a superdotação, estou olhando para isso de uma perspectiva nova.
Um dos aspectos que considero mais marcantes da minha superdotação é o grande interesse por temas incomuns. Acho que essa é uma característica comum em superdotados. Vou dizer como acontece comigo:
Estou vivendo a minha vida cotidiana até me deparar com uma coisa completamente inusitada, que, por algum motivo, desperta a minha atenção. Por exemplo, a língua catalã.
Eu decidi começar a estudar catação depois de assistir à série Merlí, que se passa em Barcelona. Enquanto asssitia à série, me lembrei de um livro que li anos atrás sobre Gaudí. E também que tenho uma amiga morando em Barcelona. E teve todo aquele trecho artístico-erótico do filme Vicky Cristina Barcelona, do Woody Allen, que se passa na "cidade feiticeira", conforme Robert Hugues. Com tudo isso, concluí que, portanto, eu precisava aprender catalão.
Qual a lógica disso? Acho que não tem muita lógica. Acho que eu quis ser exótico, orgulhoso, inteligente e erótico como acho que os bacelonenses são.
De fato, a língua é muito bonita. Tem um je ne sais quoi de espanhol, obviamente. Mas umas particularidades que a tornam especial. Ganhou meu coração. Porém, quando me vi às voltas com a rotina de estudar catalão, comecei a me questionar qual seria o benefício de tanto esforço. E acabei desistindo.
Esse é um exemplo tosco. Tenho outros mais complexos. Vou mencionar o meu interesse por artes plásticas em geral. Estão comigo desde que o mundo é mundo. De tempos em tempos, me sinto absorvido pela necessidade de me expressar plasticamente. O que tenho a dizer para o mundo através das minhas artes? Não sei. Só sei que preciso canalizar minha energia dessa forma. Mas nunca estudei arte formalmente. E a necessidade de pintar vai embora tão rápido quanto vem.
Isso tudo talvez não fosse nada demais. Talvez você tenha um amigo que se interessa por uma língua incomum e por artes plásticas. Mas tem todo o resto, e é muita coisa. Por exemplo, as dezenas de projetos de livros que eu já desenvolvi, com muito suor e lágrimas - mas raramente cheguei a concluir algum.
Castelos de areia. É a isso que me refiro. Horas e mais horas de dedicação a edificar belíssimos castelos que se esvaem com as ondas da maré, sem deixar rastros.
A sensação de olhar para trás e não ver nada construído é tensa. Eventualmente me sinto como se eu tivesse fracassado. Mas tem o outro lado da moeda.
O outro lado da moeda
Assim como os superdotados em geral (segundo a literatura a que tive acesso até o momento sobre o assunto), pessoas superdotadas têm um grande envolvimento com as tarefas que são do seu interesse.
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Como ser normal sendo superdotado - Diário
Non-FictionParecia que eu já tinha conseguido vencer na vida. Afinal, eu meio que tinha descoberto como ser normal sendo gay. Mas é como dizem, quando você encontra uma resposta, vem a vida e muda todas as perguntas. E foi isso o que aconteceu quando descobri...