11 Um mundo nas costas

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Durante ese final de semana eu decidi que preciso tomar atitudes importantes em relação ao meu bem-estar.

Quem me conhece sabe que sou relativamente focado em saúde. Não sou cem por cento em tudo o que faço, longe disso. Mas faço musculação, aulas de alongamento e mobilidade, cuido razoavelmente da alimentação, faço análise, entre outras coisas. Porém, tudo isso não está suficiente, porque carrego comigo uma sensação de tensão que raramente me deixa descansar.

Agora mesmo, enquanto escrevo, sinto a pressão da tensão muscular nas costas e na nuca. Essa tensão às vezes se estende para o maxilar e, em casos mais extremos, causar dor generalizada na cabeça.

Por que me sinto tão tenso?

Isso é um enigma para mim. Semana passada me deparei com uma postagem no instagram em que uma pessoa informada que esse tipo de tensão que eu sinto está relacionada ao medo. Ou seja, a retração dos ombros ajudaria a proteger a jugular no caso de ameaça.

Acredito que a minha emoção predominante seja o medo. O que é um tanto estranho de adminir. Medo de quê, afinal?

Eu não vivo sob ameaça. Quer dizer, estamos no Brasil. Mas não estou em uma área tão complicada assim. Não existem ameaças ambientais imediatas. No entanto, esse medo perene. A que está relacionado?

Alguma svezes cheguei a considerar que esse estado de meto tinha relação com uma sensação intensa de desamparo durante a minha infância. Lembro de estar consciente e de me sentir responsável desde muito cedo. Por exemplo, quando tinha entre quatro e cinco anos, quando minha irmã nasceu. Eu me lembro de estar sempre atento a ela, como se minha mãe não fosse capaz de cuidar dela com toda a atenção necessária.

Acho que essa sensação de descrença em relação á minha mãe pode ser um sinal de que ela talvez realmente deixasse muitas falhas. Mas quando eu era pequeno não enxergava falhas. Eu achava que a minha mãe era perfeita.

Apenas depois de grande, ali um pouco antes da adolescência, é que comecei a ter mais consciência de que a minha mãe deixava muitas falhas. Sem entrar em muitos detalhes, estou em referindo a coisas básicas como se interessar e compreender o que se passava comigo, cuidados com a casa e nossa alimentação. Se você já lei o livro "O castelo de vidro", posso dizer que tive uma infância naquele esquema, embora com intensidade bem menor.

Hoje percebo claramente como a minha mãe é diferente de mim. Acho que por toda a vida analisei a minha mãe sob a minha perspectiva. Ou seja, eu era uma criança perfeccionista, intensa, consciente. Achava que minha mãe era relapsa, apática e alienada.  acreditei kpor muitos e muitos anos (muitos mesmo, até bem pouco tempo atrás), que ela só não tinha despertado para a maravilha que era fazer as coisas com excelência, dedicação, comprometimento etc.

A verdade é que, durante a infância, eu estava sempre tentando tapar os buracos deixados pela minha mãe. Eu tentava compensar a falta de interesse dela, a negligência, Fui uma criança comprometida com os cuidados da minha irmã - tanto que ela considera que eu fui a sua principal referência de adulto (e eu só tinha cinco anos quando ela nasceu!). 

Quando eu era criança, estava sempre me virando para cuidar da casa, da alimentação, da educação da minha irmã e ainda achava tempo para sonhar com o que queria para mim.

Obviamente não acho que eu fazia todas essas coisas bem. Nem acredito que eu teria conseguido sobreviver se minha mãe não estivesse lá. Portanto, não estou dizendo que minha mãe era descartável e eu era o grande salvador da pátria. Mas era como eu me sentia - tenso, preocupado, ocupado e responsável por tanto.

Acredito que tenha sido por volta dessa época que eu comecei a desenvolver essa tensão que carrego comigo até hoje. Eu fui uma criança que conviveu com o medo.

Como ser normal sendo superdotado - DiárioWhere stories live. Discover now