7 Cidadezinha

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Hoje o assunto é relacionamento aberto. Se você é sensível a esse tópico, fique à vontade para pular para o próximo. Mas quando me sento para escrever, existem coisas que são imperiosas. E uma delas diz respeito ao meu último dilema moral - sobre contar ou não a respeito da minha experiência extraconjugal [previamente aprovada pelo acordo de abertura de relacionamento].

Recentemente expus aqui minha dúvida sobre contar ou não para o meu marido que estou tendo esses encontros. Para refrescar a sua memória, minha questão era em parte alimentada pela culpa de estar fazendo algo moralmente errado, apesar de termos entrado em acordo sobre abrir a relação. Mas também tem uma questão mais psicológica minha, que vou resumir da seguinte maneira: nos últimos anos, tenho aberto mão das minhas vontades e permitido que as vontades dele prevaleçam. De tal modo que fui entrando em uma zona de amortecimento, me tornando incapaz até mesmo de perceber e validar meus próprios desejos.

Abrir a relação era também uma forma de eu explorar a minha sexualidade e os meus desejos fora da zona de avaliação e julgamento dele. Como estou sentindo culpa, se eu contasse agora, correria o risco de querer me ajustar aos julgamentos que ele venha a fazer. E acabaria me afastando desse trabalhi fundamental de experimentar um contato mais próximo com os meus desejos.

Não se se fui claro. Mas o ponto principal é que decidi por não contar nada por enquanto. Mesmo depois do que aconteceu hoje.

Eu e meu parceiro de aventuras fora do casamento, vou chamá-lo de Ivan, estamos gostando dessa experiência. Posso dizer que ele se encaixa muito bem na minha fantasia de encontros sexuais. Acho que também me encaixo em uma certa fantasia dele. De modo que a sintonia está excelente.

Acontece que parte dessa ralação consiste em cponversas interessantes sobre diversos assuntos. E, inevitavelmente, mencionei o meu marido algumas vezes. Várias vezes notei que Ivan estava atento a tudo o que eu dizia sobre o meu marido. E diversas vezes ele falou, em tom de brincadeira, que queria ver uma foto dele "porque vai que eu já fiquei com ele".

Acontece que hoje eu mostrei uma foto. E Ivan disse que eles já ficaram.

Na hora, aquilo me deu um choque. Fiquei com ciúme. Ivan percebeu o meu constrangimento, mas acabei disfarçando mais ou menos bem.  Apesar desse impasse emocional, eu percebi que ele estava disposto a contar o que houve e eu incentivei a falar.

Ivan estava na academia conversando com "esse cara" pelo app de relacionamento. Eles estavam muito perto e combinaram de se encontrar só pra bater um papo. Ivan entrou no carro do meu marido, eles conversaram um pouco, deiram uns beijos e fim. Meu marido tinha um compromisso em seguida, Ivan foi para casa.

Ainda agora enquanto conto isso, sinto vontade de me vingar do meu marido. O que não faz o menor sentido. Especialmente porque esse fato ocorreu depois que já tínhamos combinado de abrir a relação.

Acho interessante como as nossas emoções são confusas e nem sempre acompanham nossas ideias. Com isso quero dizer que acho o relacionamento aberto ético e até mesmo necessário em diversos casos. Mas não se pode negar o peso da cultura e também a ameaça inerente de perder o que nós temos de mais valioso.

Mas, a moral da história: vivemos na pequena bolha de uma cidadezinha com meia dúzia de gays que inevitavelmente se encontram em um momento ou outro. Ah, e a moral dois: ele não me contou da experiência dele, to mais em paz de não falar sobre a minha. Pelo menos por enquanto.

Sinto que estou me expondo muito nesse diário [outra vez]. Queria não falar sobre esse assunto. Mas é o que ta pegando hoje.

Talvez amanhã eu conte porque resolvi não fazer uma avaliação formal da minha neurodivergência. Veremos.

Obrigado por andar comigo nessa corda bamba que é a vida.

Bjs.

PS: o mais incrível é que, quando acordei hoje de manhã, tinha acabado de sonhar que meu marido estava me dizendo que ia sair com um cara, e que esse cara era o Ivan. 

Como ser normal sendo superdotado - DiárioWhere stories live. Discover now