12 Meditação

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Hoje é o segundo dia de retomada da meditação. Durante o último final de semana, fiquei pensando que já era hora de voltar a meditar, com dois objetivos em mente. O primeiro, melhorar o gerenciamento do meu fluxo de pensamentos, que é incessante. O segundo objetivo, entender e gerenciar essa tensão muscular que me causa dores nas costas, ombros, nuca, mandídibula e, às vezes, por toda a cabeça.

Na verdade, eu já vinha pensando em retomar a meditação desde algumas semanas. Eu sou assim, quando quero uma coisa, fico um tempo matutando até sentir que chegou o momento. Com a meditação não foi diferente. Eu não queria simplesmente voltar a meditar, porque senti que precisava ajustar alguns aspectos.

Por exemplo, na minha última temporada de meditação eu fiquei centrado no zazen, que é a meditação do zen budismo. Eu quis praticar apenas essa técnica porque entendi que ela tinha muito a me oferecer. Mas quando parei de meditar, foi porque eu não estava me sentindo livre para explorar a meditação como eu precisava.

No final das contas, acho que o zazen sempre vai ser uma parte importante do meu sistema pessoal de meditação. Mas eu queria aprender outras técnicas. Então na semana passada encontrei um curso gratuito de mindfulness oferecido online. Fiz a inscrição e ontem comecei a estudar.

Eles dão um bom contexto do que é o mindfulness, o que achei interessante. E ensinam diversas técnicas que podem ser adequadas para diferentes tipos de pessoas, nas mais variadas circunstâncias. Um aspecto que achei interessante é que eles procuram relacionar determinadas técnicas a determinados estilos de aprendizagem, ou seja, consideram essa particularidade de como aprendemos, para que possamos escolher as técnicas mais adequadas ao nosso padrão.

Ontem gostei de meditar, hoje gostei mais ainda. Mas eu quero falar um pouco sobre o que é a meditação para mim, pois vejo muito gente falar sobre o assunto sem especificar a que se refere. Sei que existem muitas formas diferentes de meditar, por isso acho importante esclarecer qual é a minha perspectiva em um cenário que parece amplo e impreciso.

Eu comecei a meditar por volta dos dezessete anos, com base em um livro que ensinava um relaxamento progressivo associado ao uso de cristais. Foi na minha fase jovem místico.

Aqueles exercícios que eu fazia me instigaram a querer saber mais sobre assunto, e cheguei ao hinduísmo. [Para quem não sabe, não existe exatamente um "hinduísmo". Esse termo se refere ao conjunto das religiões praticadas na Índia.] Foi quando eu soube, segundo um livro, que seria necessário ter um guru para me iniciar na prática da meditação.

Como seria impossível me mudar para a Índia, tentei encontrar formas alternativas de aprender a meditar, até descobrir que havia um guru indiano na Califórnia que se colocava como gruru de qualquer pessoa interessada em aprender meditação. Ele oferecia um curso gratuito por correspondência.

Periodicamente, eu recebia um envelope contendo as lições impressas (em espanhol), com os ensinamentos do guru Paramahansa Yogananda sobre religião e meditação. Eu estudei com bastante dedicação e realmente pratiquei os exercícios propostos. Mas no meio do caminho entrei para a faculdade e logo passei a ter menos tempo livre - e outras prioridades - de modo que deixei o curso de lado.

Durante a faculdade, tive contato com o budismo de Nichiren Daishonin, uma vertende japonesa do budismo. Eu me interessei tanto pela conexão com a Índia, quanto pela perspectiva japonesa sobre o budismo. Lá aprendi o Daimoku, um mantra que é repetido durante a meditação.

Apesar de ter frequentando o templo durante mais de um ano, eu não me conectava com a prática e nem com alguns aspectos da religião. De modo que também deixei tudo isso de lado.

Anos depois, tive contato com o zen budismo, que para mim era uma retomada desse fio do budismo indiano sob outra perspectiva japonesa. Foi quando encontrei mais conexão entre como eu penso e como uma religião pensa. Embora eu não goste tanto de me referir à "religião budista", uma vez que me interesso mais pela filosofia e ética busdistas.

O zen budismo foi minha última temporada de meditação. Agora estou no que chamo de fase eclética. Ou seja, depois de ter uma base consistente de práticas de meditação consagradas historicamente, eu me sinto livre para explorar a meditação com total autonomia.

Essa liberdade se deve a alguns entendimentos que tenho sobre meditação. Minha perspectiva é formada a partir do que acredito que a meditação realmente pode me oferecer. Eis o que espero da meditação:

- Gerenciar o ritmo de pensamento, melhorando a capacidade de reduzir o fluxo quando necessário

- Melhorar a habilidade de identificar e gerenciar as minhas reações emocionais, fazendo uma leitura mais precisa das minhas emoções e, se possível, direcioná-las para um estado de equilíbrio

- Melhorar a acuidade da percepção de sensações físicas, observando melhor os sinais do meu corpo e compreendendo melhor minhas necessidades físicas

- Praticar uma percepção clara sobre a realidade, observando sem julgar

- Melhorar a habilidade de sair do fluxo automático de pensamentos e me estabelecer no presente, alerta, consciente e relaxado.

Pode parecer muita coisa, mas eu já faço todas essas coisas no dia a dia. A diferença é que não estou fazendo isso com tanta dedicação. Por isso busquei um curso que me desse novas referências a partir das quais eu possa explorar a medição de forma mais livre. 

Além da necessidade imediata de "controlar" melhor meu fluxo de pensamentos e reduzir essa tensão muscular histórica, o que me despertou para a necessidade da meditação foi a identificação das Altas Habilidades/Superdotação.

Isso porque alguns "defeitos" da superdotação são diretamente tratados por meio da meditação. Entre eles, os que mais me afetam são a demanda de trabalho mental incessante e as intensidade emocional.

Se você parar para pensar, tudo isso está interconectado em rede. Um cérebro que capta mais estímulos internos e externos, processa mais dados, faz mais interpretações, tem mais respostas emocionais a partir das interpretações que faz, gera questionamentos, faz análises, criar hipóteses, age na realidade, coleta resultados, analisa, tem novas reações emocionais... Agora imagine isso multiplicado por 100. No final das contas, o corpo inteiro está ocupado com a demanda de trabalho desse cérebro voraz.

Então a meditação busca interromper esse fluxo "incontrolável" de trabalho mental ao conduzir a atenção para os sentidos, para a percepção e observação dos fenômenos do corpo e do ambiente sem julgamento.

Para mim, essa é a grande virada da meditação. Sei que muita gente tem dificuldade para meditar, eu também tenho. Mas quando consigo, ela funciona. Acho que preciso mesmo é de constância. É isso que estou decidido a priorizar agora.

Porque sabendo da superdotação, sei que tenho um cérebro que realmente vai me levar para esse caos. Estar consciente do seu funcionamento e administrar esse cérebro são uma tarefa obrigatória se eu quiser tirar proveito da minha inteligência sem entrar em exaustão [você deve lembrar do micro burnout que tive esses dias. Então.]

Veja bem, não estou pretendendo me "curar". Acho importante destacar isso, porque nós vivemos em uma cultura que busca "extirpar defeitos". Mas não é o caso. Eu estou conseguindo identificar melhor as minhas características e estou buscando meios de lidar com elas, tirando o melhor proveito da situação.

Vou conseguir?

O futuro dirá.

Obrigado por ler mais esse informativo sobre o mundo (rsrs).

Bj

Como ser normal sendo superdotado - DiárioWhere stories live. Discover now