Eu não sou uma pessoa consumista. E quando digo isso, não estou em negação. Mas nem sempre fui assim.
Eu já fui consumista um dia. Não que eu consumisse muito, mas eu estive por muito tempo tomado pelo espírito do capitalismo. Como não tinha dinheiro, não comprava. Mas eu desejava ardentemente comprar coisas.
Isso começou durante a infância. Meu espírito começou a ser satanizado pela propgaganda que passava na TV entre os desenhos animados do Xou da Xuxa (ou será que eu estava sendo satanizado pelo próprio Xou?). Os comerciais eram tão bem feitos, que eu queria todos os brinquedos. O boneco do He-Man, a Barbie, o carrinho X, a mini cozinha Y.
O tempo foi passando e as coisas que eu queria comprar foram se tornando diferentes. Eu já não era mais tão inundado pela propaganda "pornográfica" dos brinquedos. Agora eu queria as coisas que as pessoas usavam nos filmes e nas ruas. Eu queria ser como aquelas pessoas, ter aquele status, aquela imagem. Roupas, tênis, walkman, relógio digital com calculadora.
Apesar de ter passado tantos anos da minha infância e adolescência desejando comprar e comprar, eu nunca tinha dinheiro para nada. Então a verdade é que vivi com grande tristeza essa frustração de nunca ter nada exatamente como eu queria. Meu poder de escolha era mínimo. Os meus pais não só não tinham dinheiro, como sequer entendiam porque motivo eu podia querer tantas coisas sem importância.
O fato é que essa equação de desejar tão instensamente e nada ter resultou em uma pessoa não consumista. Isso, obviamente, depois de estudar um pouco de história e sociologia, evidentemente. Porque eu entendi que as propagandas de TV não são ingênuas. Elas estão na ponta de um esquema muito mais complexo e entranhado socialmente, que incluem desde o sistema econômico do país às políticas de produção e consumo.
Essas noções sobre consumo me ajudaram a apaziguar o dragão em mim que queria devorar produtos. É claro que eu continuava não tendo dinheiro. Quer dizer. O pouco de dinheiro que eu tinha, acabava escolhendo não gastar por impulso. Sempre procurando fazer escolhas ponderadas. Comprando o que era de fato importante.
Hoje sou essa pessoa que compra poucas coisas, porém de boa qualidade - esperando que sejam duráveis. Não me prendo às grifes, não sigo moda, evito ao máximo comprar coisas descartáveis. Fui me tornando um pouco essa pessoa meio "ecochata", sem a parte do chata, porque não fico dizendo o que as outras pessoas devem ou não fazer sobre o próprio consumo.
Mas me sinto bem agindo assim. Acredito que seja um comportamento ético, no sentido de que o meu jeito de consumir impacta mais positivamente a sociedade, o meio ambiente e a economia do que se eu fosse um consumista inveterado. Também gosto de não estar "alienado pelo ideal consumista". Gosto de não operar a minha vida diária segundo a lógica do consumo. Caso você não esteja por dentro desses termos, sugiro pesquisar um pouco por aí.
Então como é esse meu "consumo responsável"? Em primeiro lugar, ele não é perfeito. Cometo erros. Por exemplo, ainda me considero uma pessoa dependente de plástico, já que tantas coisas que fazem parte do meu dia a dia são feitas de, ou embaladas, em plástico.
Eu vejo mais como uma bússola à qual estou sempre atento. Nesse sentido, há inúmeras coisas que eu posso fazer no meu dia a dia e que repercutem na minha forma de consumir. Por exemplo, eu faço 99% da minha comida. Além disso, a minha alimentação é basicamente de produtos naturais. Menos embalagens e menos industrializados em geral.
Preciso de poucas roupas para viver, então realmente não tenho um guarda-roupa lotado. As roupas e calçados são duráveis. Não sou uma pessoa ligada à moda, tenho um estilo fácil e dinâmico. Tudo vai bem com tudo e isso é até um ponto de questão para mim. Mas isso é assunto para outro post. Realmente preciso falar dos meus problemas com moda. Atualmente não posso ser condenado de apoiar os crimes ambientais e sociais da indústria da moda.
Claro, não costumo comprar produtos de origem duvidosa. Mas reconheço que não raras vezes é difícil investigar a origem de tudo o que compro. Mais uma vez, evoco a ideia de uma bússola. Não sou perfeito nessa obsessão do consumo consicente, mas em geral estou atento a questões importantes para a vida na Terra.
Queria dar esse frame da minha vida para vocês porque nunca havia mencionado essa minha questão com o consumo. Mas de onde veio falar disso hoje? Bem, veio da ideia que tive de compartilhar uma dica para evitar o consumo desnecessário. Como eu faço isso?
Através da infalível técnica do Carrinho de Compras, título do post de hoje.
É isso, minha gente, eu vim compartilhasr dica! E no que consiste o "Carrinho de Compras"? Essa técnica consiste em adicionar os produtos desejáveis ao carrinho e, daqui a algum tempo, se eu ainda quiser muito, e se de fato for o momento, eu compro.
Eu faço isso com livros porque tenho mania de querer ler tudo o que me recomendam. Acontece assim: estou ouvindo um podcast, alguém fala de um livro - quero. Um amigo comentou de um livro interessante em uma conversa com outra pessoa no grupo do zap - quero. Estou aqui pensando em determinado assunto, dei uma googada e descubri que tem um livro perfeito - quero. Eu sempre quero.
Aí criei esse método de entrar no site que vende livro e adicionar a minha possível próxima grande paixão no carrinho de compras. E deixo a vida agir. De tempos em tempos vou lá dar uma olhada. Quando percebo que chegou o momento de um livro se materializar na minha vida (ou seja, vou comprar e já começar a ler imediatamente, assim que ele chegar, físico ou digital), eu compro. Ou, como acontece com frequência, vejo que um livro não condiz mais com os meus interesses e simplesmente excluo do carrinho de compras. Poderia ser mais um livro não lido na minha estante. Mas é apenas um produto que voltou para a prateleira à espera de um fim melhor do que o anonimato.
Hoje dei uma olhada no meu carrinho de compras, tem apenas quatro livros - um de gastronomia, dois de psicanálise e um de sexologi.! Total da compra: R$ 440,11. Ou seja, menos de R$ 500,00 para satisfezar o meu desejo consumista do momento. Dinheiro que não vou gastar porque não está no momento de comprar nenhum daqueles livros.
Sendo assim, minha autoavaliação de consumismo:
De zero a cem, sendo zero o nível mais baixo de consumo (pessoa que vive na floresta do que a terra dá) e 100 (patricinha no shopping), acho que meu nível de consumo está aí por volta de 37. E o seu?
YOU ARE READING
Como ser normal sendo superdotado - Diário
Non-FictionParecia que eu já tinha conseguido vencer na vida. Afinal, eu meio que tinha descoberto como ser normal sendo gay. Mas é como dizem, quando você encontra uma resposta, vem a vida e muda todas as perguntas. E foi isso o que aconteceu quando descobri...