24 Direto ao ponto

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Recentemente, falei sobre os inúmeros projetos de livros que desenvolvi sem nunca realmente escrevê-los. Comentei que coloco toda a minha energia na criação do projeto, mas depois perco o interesse quando o processo se torna mais burocrático e menos criativo. E, de algum modo, é nesse ponto que encontro a resposta para o enigma: por que não consigo escrever meus livros?

Minha energia se concentra na geração de ideias, a parte que considero a mais criativa. O problema é que os projetos acabam ficando ricos demais, complexos demais, e isso me acorrenta ao planejamento. Nesse momento, começo a perder a liberdade de inovar, porque já não estou mais criando – estou executando. E não dá para inovar o tempo todo sem acabar em um ciclo infinito de reescritas, onde a história vira uma colcha de retalhos, cheia de pontas soltas.

Vou dar um exemplo clássico. Lá pela página 200, tenho uma ideia genial, mas para concretizá-la preciso reescrever sete capítulos. Ao reescrever, novas ideias surgem e isso implica em refazer outros quinze trechos. No final, a história vira um verdadeiro Frankenstein, costurada de pedaços desconexos.

Agora, estou tentando encontrar um meio-termo: um roteiro completo o suficiente para me manter na rota, mas simples o bastante para que eu possa continuar exercendo minha criatividade sem cair nesse loop de remendos. No entanto, não posso ignorar meu perfeccionismo disfuncional. Sempre buscando o ideal inatingível, acabo prejudicando o resultado, que seria melhor se eu aceitasse imperfeições.

Tenho pensado em criar um esquema mais enxuto, e isso me leva a refletir sobre algo maior: minha dificuldade de ir direto ao ponto. Sempre sinto a necessidade de contextualizar, de rodear o assunto antes de realmente dizer o que quero. No fundo, talvez isso seja mais sobre evitar confrontar diretamente as coisas.

Essa tendência de rodear o tema também se reflete nas conversas pessoais. Quando o assunto é delicado, faço de tudo para contornar, tentando evitar problemas. Mas, às vezes, rodear demais impede que eu diga o que realmente precisa ser dito. E isso se conecta à minha dificuldade em finalizar meus livros. A escrita é, para mim, uma forma de desnudar minha alma, e talvez por isso eu tenha tanto receio de concluir algo que revelaria quem eu sou em profundidade.

Escrever, para mim, é mais do que colocar palavras no papel. É expor quem eu sou, meus medos, meus desejos. Cresci mascarando minha verdadeira essência, e a escrita me obriga a confrontar essa vulnerabilidade. É quase como um desnudar da alma – mais íntimo e revelador do que qualquer outra coisa.

Ultimamente, venho tentando ser mais objetivo, tanto aqui no diário quanto na análise. Esse movimento de ser mais direto talvez seja o caminho para que eu finalmente consiga criar um roteiro mínimo e funcional, que me permita desenvolver uma obra longa sem sufocar meu processo criativo.

Só não sei ainda como farei isso. Mas espero que em breve eu tenha uma resposta.

Como ser normal sendo superdotado - DiárioWhere stories live. Discover now