Recentemente, falei sobre os inúmeros projetos de livros que desenvolvi sem nunca realmente escrevê-los. Comentei que coloco toda a minha energia na criação do projeto, mas depois perco o interesse quando o processo se torna mais burocrático e menos criativo. E, de algum modo, é nesse ponto que encontro a resposta para o enigma: por que não consigo escrever meus livros?
Minha energia se concentra na geração de ideias, a parte que considero a mais criativa. O problema é que os projetos acabam ficando ricos demais, complexos demais, e isso me acorrenta ao planejamento. Nesse momento, começo a perder a liberdade de inovar, porque já não estou mais criando – estou executando. E não dá para inovar o tempo todo sem acabar em um ciclo infinito de reescritas, onde a história vira uma colcha de retalhos, cheia de pontas soltas.Vou dar um exemplo clássico. Lá pela página 200, tenho uma ideia genial, mas para concretizá-la preciso reescrever sete capítulos. Ao reescrever, novas ideias surgem e isso implica em refazer outros quinze trechos. No final, a história vira um verdadeiro Frankenstein, costurada de pedaços desconexos.
Agora, estou tentando encontrar um meio-termo: um roteiro completo o suficiente para me manter na rota, mas simples o bastante para que eu possa continuar exercendo minha criatividade sem cair nesse loop de remendos. No entanto, não posso ignorar meu perfeccionismo disfuncional. Sempre buscando o ideal inatingível, acabo prejudicando o resultado, que seria melhor se eu aceitasse imperfeições.
Tenho pensado em criar um esquema mais enxuto, e isso me leva a refletir sobre algo maior: minha dificuldade de ir direto ao ponto. Sempre sinto a necessidade de contextualizar, de rodear o assunto antes de realmente dizer o que quero. No fundo, talvez isso seja mais sobre evitar confrontar diretamente as coisas.
Essa tendência de rodear o tema também se reflete nas conversas pessoais. Quando o assunto é delicado, faço de tudo para contornar, tentando evitar problemas. Mas, às vezes, rodear demais impede que eu diga o que realmente precisa ser dito. E isso se conecta à minha dificuldade em finalizar meus livros. A escrita é, para mim, uma forma de desnudar minha alma, e talvez por isso eu tenha tanto receio de concluir algo que revelaria quem eu sou em profundidade.
Escrever, para mim, é mais do que colocar palavras no papel. É expor quem eu sou, meus medos, meus desejos. Cresci mascarando minha verdadeira essência, e a escrita me obriga a confrontar essa vulnerabilidade. É quase como um desnudar da alma – mais íntimo e revelador do que qualquer outra coisa.
Ultimamente, venho tentando ser mais objetivo, tanto aqui no diário quanto na análise. Esse movimento de ser mais direto talvez seja o caminho para que eu finalmente consiga criar um roteiro mínimo e funcional, que me permita desenvolver uma obra longa sem sufocar meu processo criativo.Só não sei ainda como farei isso. Mas espero que em breve eu tenha uma resposta.
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Como ser normal sendo superdotado - Diário
NonfiksiParecia que eu já tinha conseguido vencer na vida. Afinal, eu meio que tinha descoberto como ser normal sendo gay. Mas é como dizem, quando você encontra uma resposta, vem a vida e muda todas as perguntas. E foi isso o que aconteceu quando descobri...