Olá, pessoal. O Cara do Blog está de volta!
Estou feliz por ter me sentido motivado a escrever hoje de novo. Eu estive focado em outras coisas nos últimos dias. Até tentei escrever, mas eu estava em outra onda.
Hoje, porém, voltou a acontecer uma coisa que me intriga. Pela complexidade do problema, achei que seria interessante escrever sobre ele. O que aconteceu? O humor do meu marido mudou negativamente quando comentei com ele sobre a hiperestesia, um fenômeno que comumente acontece com superdotados, segundo Christel Petitcollin, autora do livro "Je pense trop", que estou lendo atualmente.
A título de curiosidade, hiperestesia seria um excesso de sensação. O oposto de anestesia, que é a ausência de sensação. Isso significa dizer que superdotados tendem a captar mais informações através dos sentidos - o que resulta em uma quantidade maior percepções sensoriais. Na prática, superdotados seriam, portanto, mais sensíveis à iluminação, sonoridade, sensações táteis, paladar e olfato.
Saber disso que ajudou a entender porque eu sou tão crítico em relação a certas coisas. Por exemplo, tenho muita dificuldade com luz intensa, como do sol - sempre preciso de óculos escuros. Sou altamente seletivo com a comida, de modo que há alguns anos eu mesmo compro e preparo tudo o que como. Sou seletivo com relação aos tipos de tecido das roupas que uso - não suporto o contato da pele com sintéticos. E, como contei naquele post famoso do outro blog sobre os perfumes da vizinhança, sou altamente sensível a aromas, a ponto de ficar enjoado com perfumes muito adocicados/intensos.
Isso resume a minha aprendizagem sobre hiperestesia. O que para mim é importante, tendo em vista que foi um insight importante sobre minhas respostas a diversas estimulações. Eu achava que era fresco. Agora entendo que tenho uma hipersensibilidade e, sabendo disso, posso me tratar com mais acolhimento e respeito - em vez de simplesmente debochar de mim mesmo ou me recriminar.
Eu quis compartilhar sobre essa aprendizagem com o meu marido hoje pela manhã. Porém, em vez de ouvir, entender e talvez apoiar, ele simplesmente entrou no que eu chamo de "modo moai", em referência àquelas esculturas gigantescas da Ilha de Páscoa (foto). Uso essa expressão porque ele fica como aquelas estátuas - inexpressivo, rígido e inacessível.
Obviamente, não foi a primeira vez que isso aconteceu. Desde que surgiu a superdotação na minha vida, ele tem se mostrado resistente a ouvir sobre o assunto. Falei sobre isso na minha sessão de análise dessa semana.
A minha analista comentou que essa "inveja da inteligência alheia" é um problema comum enfrentado por superdotados. Isso ocorre pelo motivo óbvio de que as pessoas se sentem inferiores ou desvalorizadas.
Mas o que é curioso nisso é que eu não considero a superdotação uma coisa que deva ser invejada. Eu não escolhi essa condição, não batalhei por ela. É um fato neurológico. E significa tão somente que eu tenho uma "necessidade orgânica" de "processar dados". Isso tem muitos aspectos positivos, mas também traz muitos problemas. Por exemplo, é exaustivo e atrapalha o meu sono.
Mas, ao falar sobre a reação do meu marido na análise, fui percebendo por que o fato me pegou tanto. E isso ocorreu porque foi uma revivência de um trauma muito antigo - talvez um dos mais antigos da minha vida, que é a rejeição paterna.
Não sei exatamente por qual motivo - sobre isso ninguém nunca fala, é claro - meu pai sempre me rejeitou. Até consigo imaginar alguns motivos, mas o que importa é o fato em si: eu sempre me senti privado da atenção, do interesse e do afeto dele. Então eu cresci com esse incômodo da rejeição.
Posteriormente, ainda durante a infância, eu passei a ser rejeitado pelos outros meninos por ser um garoto feminino. Essa segunda rejeição se configurou para mim como uma revivência daquela experiência traumática mais fundamental. Eu me senti rejeitado por ser quem eu era espontaneamente.
A partir disso começou toda uma neurose de tentar me adaptar para agradar as pessoas (especialmente o meu pai) ou, no mínimo, tentar ficar invisível para evitar o bullying.
Agora que descobri a superdotação, enfrentar essa parede de resistência do meu marido é reviver um pouco dessa rejeição do outro por quem eu sou na minha expressão mais natural.
A boa notícia é que esses traumas da infância, hoje, são como marcas na estrada. Eu passo por eles, sei que aconteceram, mas não perco o rumo. Não me sinto mais tão afetado por eles. Talvez porque eu não me sinta mais tão dependente da aprovação dos outros.
De fato, não dependo da aprovação do meu marido para viver essa experiência de autodescoberta a partir da perspectiva da superdotação. Entei em um caminho sem volta. Apenas gostaria de compartilhar mais sobre esse momento importante da minha vida com ele.
Eu tenho tentado furar essa barreira de resistência de várias maneiras. Uma forma que escolhi foi dizer para ele o quanto isso transforma o status quo da minha subjetividade, o que inclui uma melhoria da minha autoestima e um melhor direcionamento da minha energia. Ele ouve parcialmente, mas não celebra comigo. Eu me sinto extremamente sozinho nessa jornada - como sempre me senti a vida toda.
Minha analista sugeriu que eu tentasse apresentar para ele os aspectos problemáticos da superdotação. O que eu já fiz vez ou outra. Mas estou tão empolgado com as partes positivias que, por enquanto, não tenho interesse em me aprofundar nos problemas. Mas talvez fosse interessante eu estudar o assunto e até escrever um post sobre isso. Acho que pode mesmo me ajudar. Vou deixar esse post it colato na tela do computador.
Apesar da solidão, felizmente tenho a minha analista, que tem sido o meu maior suporte nesse momento (que está sendo altamente positivo, diga-se de passagem), os grupos de whatsapp para superdotados, onde estão concentradas as outras pessoas que vieram do mesmo planeta que eu e, claro, minha legião de seguimores aqui do blog. Obrigado por estarem comigo nessa maluquice.
Obrigado por ler. Perdão pela demora.
PS: Je refuse (no título) é francês e significa "eu recuso", em homenagem a esse meu marido maravilhoso que recusa a minha neurodivergência.
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Como ser normal sendo superdotado - Diário
Non-FictionParecia que eu já tinha conseguido vencer na vida. Afinal, eu meio que tinha descoberto como ser normal sendo gay. Mas é como dizem, quando você encontra uma resposta, vem a vida e muda todas as perguntas. E foi isso o que aconteceu quando descobri...