Victória perdeu tudo.
Mutilada, abandonada e com sua reputação destruída, agora é conhecida como a vilã na história de sua irmã, a brilhante e amável futura rainha.
O Baile que era pra ser o começo do seu final feliz se tornou o ponta pé que empur...
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A água gélida acolhe meu corpo. O frio percorre lentamente minha pele e se infiltra em meus ossos. Aos poucos a dor no meu peito se esvai e meu corpo fica mais leve. Flutuando em pleno ar.
Quando abro os olhos, estou tremendo. Sentada em frente a lareira. As roupas secas — mas eu ainda sinto-as molhadas e pesadas, grudando em meu corpo como uma segunda pele.
O fogo crepitando emana calor para todo o cômodo, algo se movimenta ao meu lado e eu pulo de susto. Demoro um segundo para reconhecer o papai, sentado na sua antiga poltrona. Por um momento, desconfio que estou sonhando, depois, tenho certeza que estou morta. Nem nos meus melhores sonhos, veria o rosto de papai com tantos detalhes.
Os olhos azuis calorosos, o cabelo loiro como areia — penteado para trás do jeitinho que usava em ocasiões importantes. Até mesmo as linhas de expressão. Jamais sonhei com seu rosto assim, muito menos tão realista. O que é um grande indicativo de que eu posso estar morta agora.
Levo a mão ao peito, tentando acalmar meu coração acelerado enquanto ele se diverte com a minha reação. Até sua risada é real, do jeitinho que me lembro. Jovial e calorosa. Continua sorrindo enquanto dobra o jornal e o deixa na mesinha entre nós dois. Ao me olhar, sua expressão suaviza ainda mais.
— Olá, querida.
— Oi, papai.
Avalio o ambiente, atenta a estrutura do lugar. Sem dúvidas é a Biblioteca Principal. Porém, não reconheço as paredes azul-petróleo, dos dois andares, nem os móveis claros. O cheiro, por outro lado, é inconfundível. Idêntico ao da minha infância. Uma mistura de páginas de livros e do chá de hortelã com mel favorito de papai.
— O que achou do lugar? — pergunta e eu volto a olhá-lo. Vejo que papai também avalia a decoração, como um pintor contemplando o próprio trabalho, enquanto equilibra sua xícara de chá em uma das mãos.
— Estou morta, papai?
Minha pergunta parece totalmente justa diante da situação, mas sua resposta é franzir a testa, como se não entendesse o que estou dizendo.
— Estamos juntos na biblioteca de casa. Para isso ser possível, ou estou sonhando, ou estou morta e o meu paraíso é uma versão reformada da Biblioteca Principal.
Minha morte tem sido uma situação com a qual estou familiar depois de tudo o que fiz nos últimos meses. A lista de pessoas que gostariam de me ver morta tem crescido exponencialmente. Talvez uma delas — como a Rainha Calliope, por exemplo — tenha tido sucesso. Ela é esperta o suficiente para aproveitar meu estado de vulnerabilidade e se livrar de uma de suas dores de cabeça. Quem sabe, a minha queda no rio não foi tão bem planejada quanto eu achei que seria.
— Você não parecia tão preocupada com essa possibilidade quando pulou daquela ponte. — comenta sobre o ocorrido e traz minha atenção de volta ao que está acontecendo. Seu tom repreende levemente minha escolha.