08.1

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Você me apunhalou pelas costas enquanto apertava minha mão.
Taylor Swift - This Is Why We Can't Have Nice Things

     — Uma coisa que esses anos de vida me ensinaram é que não dá para confiar em homens! — A voz de Dona Aleta ecoa pela floresta, estou há uns poucos metros de distância, mas a escuto claramente como se estivesse do meu lado

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     — Uma coisa que esses anos de vida me ensinaram é que não dá para confiar em homens! — A voz de Dona Aleta ecoa pela floresta, estou há uns poucos metros de distância, mas a escuto claramente como se estivesse do meu lado. — Meu pai sumiu quando eu era pequena, meu marido desapareceu há anos com uma mulher dez anos mais nova que ele. Para que eles servem afinal?

A base das minhas costas reclama após tanto tempo curvada. Afasto algumas pedrinhas e me sento no chão. Como decidimos ir um pouco mais adentro da floresta hoje, acabei encontrando essa moita de amoras. Tem uma boa quantidade aqui e mais um arbusto ali na frente, podemos dividir e vender metade delas, o resto usamos para fazer uma torta.

As armadilhas estão vazias então podemos vender as amoras com as raízes que achamos hoje para compensar. Quando me ensinou a fazer essas armadilhas, Dona Aleta disse que o silêncio era essencial, que deveria aprender a como ser silenciosa na floresta ou nunca conseguiria pegar nada. Mas desde que chegamos aqui ela e Ava não param de tagarelar.

— E seu filho? — Ava pergunta.

Mesmo sem olhar sei que ela está sorrindo. É sempre assim quando mencionamos o filho dela, deve ser uma das poucas alegrias que ainda tem nessa vida. Ela diz que ele é lindo, mas nunca o vimos pessoalmente. Ele trabalha nas minas de esmeralda de South Emerald e vem visitá-la só duas vezes por ano, na última vez que apareceu nós não nos conhecíamos ainda.

— Ela é a mãe dele, Ava — me intrometo enquanto arranco uma amora e coloco com as outras em cima do pano que Aleta me deu. — Conheço filhos que gentis e cavalheiros com as mães, mas quando se trata de outras mulheres...

Olho por cima do ombro para ver sua reação. Espero uma careta, mas ela está balançando a cabeça, concordando comigo. Dona Aleta é pequena — não tem mais que um metro e meio —, mas daqui de longe parece ainda menor. Os fios grisalhos estão escondidos no lenço azul com flores brancas que ganhou de presente do filho. Ela faz um sinal positivo para mim. Como sempre ela não está colhendo raízes como disse que faria, nem sei porque ainda espero o contrário.

— Muito bem, Victória. Desconfie de todos os homens. — me parabeniza com palmas. — Vocês são novas, então ainda não tem minha sabedoria para discernir quais são as frutas podres e quais são as boas.

— E quem é que passa no seu rigoroso critério? — questiono, mas sei qual o primeiro nome que sairá da sua boca.

— Andrew — diz sem titubear. — Paciente, bondoso, engraçado...

Ela lista as intermináveis qualidades do ferreiro. Dona Aleta o adora. Suspeito que depois do filho dela, Andrew seja sua pessoa preferida. Ele que nos apresentou e desde que me conheceu, seu passatempo favorito é tentar juntar nós dois. Até me disse certa vez que dependendo dela, já estaríamos casados e com um filho a caminho.

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