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Agora a porta está aberta
E o mundo que eu conhecia está quebrado
Não há como voltar atrás

When The Darkness Come - Colbie Caillat

     Olho do tabuleiro para papai e espero sua reação

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     Olho do tabuleiro para papai e espero sua reação. Seus olhos analisam o tabuleiro e suas possíveis jogadas. Quando o escuto gargalhar me empertigo na cadeira. A animação faz meu coração acelerar. Ele bate palmas e o orgulho em seus olhos faz com que eu me sinta importante. Confiante. Esse sentimento enche meu peito e me faz sorrir tanto que minhas bochechas doem.

— Muito bem, Vivi! — me parabeniza. — Muito bem, filha!

— Obrigada, papai.

Sua mão grande e pesada, esfrega meus cabelos, desfazendo o penteado bem feito que mamãe mandou fazerem em mim. Isso me faz rir. Ele sorri para mim, os olhos castanhos como os meus ficando ainda menores. Tenta me dizer algo, mas um estrondo silencia sua voz. Olho para o lado, assustada, e vejo guardas atravessando o corredor as pressas, chamando mais ajuda.

Olho para papai, para perguntar o que está acontecendo e grito. Tem sangue sobre o tabuleiro, sobre as minhas mãos e escorrendo de sua boca. Levanto desesperada e grito mamãe, e depois Dominic e o Chef Bailey. Seus olhos castanhos perdidos em algum ponto distante.

— Papai! Papai! — o chacoalho.

Me viro para gritar novamente mamãe, mas o som trava na metade da minha garganta. James corre na minha direção. Mais alto, veloz e com uma faca em mãos, parecendo um animal selvagem, descontrolado. Vejo seus olhos sem emoção de perto no momento em que seu braço move a faca na minha direção.

Me sobressalto.

Abro os olhos e tateio meu abdômen por reflexo, bem na altura onde tenho certeza que a faca me atingiu. Meu peito sobe e desce acelerado, o resquício desse sentimento ruim ainda fazendo meu corpo formigar. O coração parece pesado dentro do meu peito.

Deito novamente e encaro o teto do meu quarto. Fecho os olhos, inspiro e expiro devagar, os batimentos pulsando em meus ouvidos. O sonho foi real demais, podia sentir a frieza de James quando estava prestes a me esfaquear. Naquele segundo, não tive dúvidas de que mataria com facilidade. Como se só após se livrar de mim, fosse ter uma boa noite de sono. Suponho que seja assim também na vida real.

A memória da primeira vez que ganhei do papai no xadrez, não era assim. Comemorávamos, ele me deixava comer uma parte da sobremesa antes do jantar com ele, os dois escondidos em seu escritório. Me ensinava sobre xadrez e me mostrava como as peças e as regras eram só um reflexo da nossa sociedade. Conversamos e jogamos juntos por horas e é uma das minhas melhores memórias com ele.

Mas a memória parece ter se fundido com meu pesadelo sobre seu acidente. Ou, pelo menos, como acredito que aconteceu. Não sei muito, só ouvi sobre escondida no escritório onde a mamãe e o guarda conversaram. Só consegui ouvir sobre como o encontraram e desde então, isso vem assombrando meus pensamentos. E como se esse pesadelo não fosse ruim o suficiente, se entrelaçou a James me matando com as próprias mãos.

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