Gritos.
Como eu odiava gritos.
-ESTÚPIDA!- ouço o último grito do meu pai, antes de eu colocar meus fones, puxo minha mochila e encaro ele com mágoa.
Eu sabia que meu pai estava gritando, mas seus berros eram apenas uma nota de fundo em minha sinfonia pessoal.
Com os fones de ouvido a todo volume, eu me deixei levar pelas músicas que sempre me pareciam mais verdadeiras do que qualquer palavra que saísse da boca dele. Saí de casa como se estivesse fugindo de uma tempestade, mas na verdade estava fugindo apenas da confusão que ele sempre fazia.
As vezes, não era apenas uma gritaria.
Sempre piorava.
O caminho até o colégio foi uma viagem silenciosa em meio ao caos.
As músicas que tocavam, me tiravam da infeliz realidade, de algo que deveria ser meu primeiro amor, e foi meu primeiro trauma.
Meu pai.
Quando finalmente entrei no pátio da escola, o ruído dos alunos e o cheiro de café e croissants dos vendedores de esquina se misturaram em um panorama de normalidade reconfortante.
Minhas amigas, Beatriz e Babi, estavam encostadas na entrada da escola, conversando animadamente.
Obviamente, estavam fofocando.
Beatriz, com seus cabelos vermelhos e seu olhar marcante, estava contando uma história que, por seu entusiasmo, parecia ser épica. Babi, sempre a mais calma do grupo, estava rindo suavemente, pronta para adicionar seu toque de sarcasmo e sabedoria às palavras de Beatriz.
Enquanto me aproximava, Beatriz lançou um olhar crítico para mim, como se pudesse enxergar a batalha que eu estava lutando para ignorar.
Elas não sabem 100% do que acontece na minha casa com Carlos— meu pai— eu só falo das discussões.
Mas, as discussões, não são apenas discussões.
Babi piscou para mim, como se dissesse que já havia escutado sobre a última discussão em casa. Eu sabia que, ao contrário de minha família, essas duas eram meu porto seguro.
—Continuando, o cara que eu fiquei ontem não sabia fazer as coisas direito, e depois me falou que pegava varias.— Beatriz continuou falando, me olhando com desprezo.
As vezes, tenho dúvida se eu sou uma mulher ou uma cachorra.
Mas, se alguém me chamar de cachorra, com certeza eu falaria que eu sou.
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My favorite angel
Fanfiction18+ Uma vida normal, uma estranha normal, até.. um esbarro nada normal, o coração saltando e a alegria de ter visto algo diferente. Heaven killer, apenas alguém, no meio de vários alguém, é interrompida quando esbarra em algo parecido com um poste...