Dia 9 - Parte 1 - **Contra nove**

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  A Cidade Fortaleza de E-Rantel, localizada no ponto de interseção das Três Fronteiras —Teocracia Slane, Império Baharuth e Reino Re-Estize— era uma verdadeira fortaleza, protegida por três grandes muros concêntricos. Cada um desses muros delimitava um distrito diferente, refletindo as diversas funções da cidade.

O distrito mais externo era o coração militar da cidade, repleto de quartéis e instalações estratégicas, onde as tropas do Exército Real se preparavam para a guerra. O distrito mais interno abrigava a administração da cidade e os depósitos de suprimentos alimentares, fortemente guardados para garantir a segurança e a continuidade das operações militares. Entre esses dois estava o distrito residencial, onde os cidadãos de E-Rantel viviam suas vidas cotidianas. Praças repletas de barracas de legumes, especiarias e outros produtos comerciais davam vida ao distrito, com mercadores gritando suas ofertas e idosos negociando pelos alimentos mais frescos. Jovens eram atraídos pelo aroma tentador dos espetos de carne assada, comprando-os e deixando-se perder na suculência dos sucos quentes que escorriam pelas fibras. A energia vibrante desse lugar parecia eterna, durando até o sol se pôr.

Em uma dessas casas, localizavam-se os Governantes da Grande Tumba Subterrânea de Nazarick.

Ra Putin, sendo um meio-golem, não precisava dormir. Ele passou a noite inteira contemplando sua nova realidade, a mente absorta em pensamentos profundos, até ser interrompido por uma voz.

“—O que você está fazendo?” Golyla perguntou suavemente enquanto descia as escadas, seus longos cabelos cor de vinho balançando levemente a cada passo. Sua nova forma era impressionante, quase etérea, refletindo uma beleza melancólica.

“Nada de muito interessante. E você, conseguiu dormir?” Ra Putin respondeu, sem desviar o olhar da janela. Ele passou uma das mãos por seus cabelos dourados curtos, seus olhos verdes fixos em Golyla, estudando cada detalhe de sua expressão.

“Não, a palavra ‘dormir’ desapareceu para mim.” Golyla suspirou, seus olhos vazios de emoção. “O máximo que consegui foi descansar a cabeça.”

“Morto-vivos, meio-golens, robôs, meio-elementais, fantasmas, plantas, anjos...” Ra Putin enumerou calmamente, como se estivesse listando itens em uma velha lembrança. “Devo estar esquecendo algumas raças, mas todas elas não têm necessidade de dormir.”

“Ouvi dizer que os chagama também não conseguem dormir.” Golyla acrescentou, sua voz baixa, quase um murmúrio.

“É sério!?” Ra Putin ergueu uma sobrancelha, a surpresa estampada em sua expressão.

“Sim. Slimes também estão nessa lista.” Golyla respondeu, com um leve sorriso nos lábios.

Aproximando-se de Ra Putin, Golyla inclinou a cabeça de leve, observando-o com olhos curiosos. “Então, vamos dar uma volta? Eu não tenho necessidade de comer, mas sinto uma fome insaciável.” A sugestão veio acompanhada de um brilho enigmático em seu olhar, como se a fome de que falava fosse muito mais profunda do que a mera necessidade física.

Ra Putin assentiu lentamente, seus movimentos calculados e precisos. “Pode ser. Já passamos esses dias coletando informações sobre os aventureiros de E-Rantel. Um pouco de folga será bom.” Suas palavras carregavam uma calma deliberada, mas havia um subtexto de alerta, uma vigilância constante que nunca desaparecia completamente.

Enquanto os dois se preparavam para sair, o ambiente ao redor parecia se ajustar à sua presença. A atmosfera, antes carregada de tensão, agora parecia mais leve, quase como se a cidade estivesse pronta para revelar seus segredos mais profundos a esses novos e enigmáticos visitantes.

Os dois saíram da casa, caminhando pelas ruas ainda adormecidas de E-Rantel. O ar da manhã estava fresco, e apenas algumas poucas almas madrugadoras se aventuravam pelas ruas. A cidade parecia envolta em uma calmaria melancólica, como a quietude que precede a tempestade.

“—Você já teve a sensação de que, apesar de não precisarmos de certas coisas, ainda sentimos falta delas?” perguntou Golyla, sua voz suave enquanto seus olhos seguiam os primeiros raios de sol que pintavam os telhados das casas com um brilho dourado.

“—Sim, muitas vezes.” respondeu Ra Putin, seu olhar fixo no horizonte. “É estranho, mas acho que faz parte de quem somos, de alguma forma.” Suas palavras carregavam um tom introspectivo, como se ele estivesse explorando um pensamento que lhe era ao mesmo tempo familiar e distante.

Eles caminharam em silêncio, a ausência de palavras criando uma conexão tácita entre eles, enquanto aproveitavam a serenidade da manhã. Ao chegarem a uma pequena praça adornada com bancos de madeira e uma fonte ao centro, sentaram-se, permitindo que a conversa fluísse naturalmente.

“—Acha que vamos encontrar o que estamos procurando aqui em E-Rantel?” perguntou Golyla, sua expressão séria enquanto seus olhos se fixavam em Ra Putin, buscando em seu rosto uma resposta que pudesse aliviar suas preocupações.

“—Não sei ao certo,” admitiu Ra Putin, sua voz grave refletindo a incerteza do momento. “Mas estamos no caminho certo. Precisamos manter os olhos abertos e ficar atentos a qualquer oportunidade.” Havia uma determinação em seu tom que sugeria que ele não permitiria que a dúvida o desviasse de seus objetivos.

“—Concordo.” murmurou Golyla, sua voz quase perdida enquanto seus olhos seguiam um grupo de pássaros que cortava o céu azul. A suavidade de seu tom contrastava com a intensidade de seus pensamentos, ocultos atrás de uma máscara de tranquilidade.

A manhã avançava lentamente, e a cidade começava a despertar de seu sono. O barulho dos comerciantes abrindo suas lojas e o crescente burburinho das ruas trouxeram uma nova energia ao ambiente, como se E-Rantel estivesse finalmente acordando para o que seria mais um dia de incertezas.

“—Vamos voltar e encontrar os outros. Temos muito a discutir e planejar.” disse Ra Putin, levantando-se com um movimento firme, sua mente já imersa nos desafios que o aguardavam.

Golyla assentiu, seu rosto revelando uma nova resolução. Juntos, começaram a caminhar de volta à casa alugada, prontos para enfrentar o que quer que o dia trouxesse. Cada passo que davam parecia ecoar a urgência de sua missão, a importância de não falhar.

Enquanto seguiam pelas ruas, Golyla notou uma pousada à frente, onde várias pessoas se aglomeravam na entrada.

“—Ei, Ra, olha, tem várias pessoas entrando naquele restaurante. A comida deve ser boa, né?” apontou Golyla para o local, seus olhos brilhando com uma curiosidade quase infantil, uma tentativa de encontrar algo de normal em meio ao caos que se tornara sua vida.

Ra Putin desviou o olhar para a pousada, avaliando a cena com olhos clínicos antes de responder com uma voz tranquila, mas carregada de ironia: “—Essa sua lógica não é muito boa. Não é porque tem muita gente entrando em um restaurante que a comida é boa; talvez o preço seja baixo. Mas, se você quiser, tudo bem.” Ele completou com um leve aceno de cabeça, deixando a decisão nas mãos dela.

Golyla sorriu, um sorriso pequeno e reservado, mas que trazia consigo um peso de lembranças de um tempo mais simples. “—Vamos dar uma olhada então.”

Juntos, caminharam em direção à pousada, suas mentes já começando a tecer estratégias e planos, pois, em um mundo tão hostil e desconhecido, até mesmo uma simples refeição poderia se transformar em uma oportunidade ou em uma armadilha.

Eles entraram na taverna, seus passos ecoando fracamente enquanto subiam os degraus desgastados até as portas dos salões em estilo ocidental. Com um movimento sincronizado, empurraram as portas, que se abriram com um ranger leve. O interior do estabelecimento era ligeiramente escuro, com as janelas fechadas, bloqueando a maior parte da luz exterior. Para alguém acostumado com a luminosidade lá fora, seria um desafio enxergar mais do que sombras indistintas no ambiente à frente. No entanto, para Ra Putin e Golyla, que possuíam a habilidade de enxergar no escuro, a falta de iluminação não representava qualquer obstáculo.

O primeiro andar era um amplo refeitório, dominado por um balcão de madeira ao fundo, com prateleiras alinhadas que exibiam fileiras de garrafas de álcool de qualidade duvidosa. A porta ao lado do balcão levava, presumivelmente, à cozinha. Uma escada em espiral no canto direito indicava o caminho aos andares superiores, onde os quartos ficavam, conforme lhes fora informado pela recepcionista da guilda.

Os olhos de Ra Putin passaram pelos ocupantes do salão. Grupos de homens mal-encarados estavam espalhados pelas várias mesas redondas. A atmosfera era carregada, como se a qualquer momento uma briga pudesse eclodir. O ar era pesado, impregnado com o cheiro de álcool barato, suor e o fedor de comida estragada. O olhar de Ra Putin era calculista enquanto cada olhar hostil dos presentes o avaliava, tentando determinar se ele seria uma ameaça, uma presa fácil ou algo mais. A única figura que não demonstrava interesse era uma mulher sentada no canto, o olhar fixo em um pequeno frasco que segurava sob a mesa. Sua concentração total no objeto a tornava uma anomalia em meio àquela cena.

Ra Putin sentiu uma irritação crescente ao absorver o estado deplorável do ambiente. O chão estava imundo, coberto de restos de comida e manchas de líquidos de origem questionável, enquanto as paredes carregavam marcas e fuligem, talvez até mesmo sangue seco. Pedaços de uma substância fúngica, de cor cinzenta e esverdeada, se agarravam nos cantos do salão, como se estivessem se espalhando lentamente pelo espaço.

“Este lugar é... interessante, para não dizer outra coisa.” Ra Putin comentou, o desdém mal disfarçado em sua voz. Suas palavras eram frias, um reflexo de sua desaprovação pelo ambiente.

“Sim, realmente interessante. Vamos encontrar um lugar para sentar.” Golyla respondeu, tentando manter um tom leve, embora a tensão fosse evidente em sua voz.

Ambos se dirigiram para uma mesa vazia no canto oposto ao da mulher com o frasco, movendo-se com a graciosidade de predadores que sabiam que estavam em território potencialmente hostil. Ra Putin continuou a analisar os arredores, seus sentidos aguçados captando cada movimento, cada som, em busca de qualquer indício de perigo ou, talvez, de uma oportunidade.

Ao se acomodarem, um garçom de aparência cansada e roupas sujas se aproximou, entregando-lhes um cardápio amarrotado e manchado. Golyla pegou o menu com uma expressão que alternava entre nojo e curiosidade, seus olhos percorrendo as opções com alguma dificuldade.

“Você consegue entender alguma coisa?” Ra Putin perguntou, espiando por cima do ombro de Golyla, suas sobrancelhas franzidas em uma expressão de leve ceticismo.

“Não muito, mas acho que podemos pedir algo simples.” Golyla respondeu, levantando o olhar para sinalizar ao garçom que voltasse. Havia uma nota de resignação em sua voz, como se ela já estivesse preparada para o pior.

“Vamos ver se a comida vale a pena.” Ra Putin murmurou, mais para si mesmo do que para Golyla, enquanto relaxava ligeiramente na cadeira. Mesmo assim, seus olhos continuavam a vagar pelo salão, monitorando a movimentação dos outros clientes, antecipando o que poderia acontecer em seguida.

Um homem corpulento, vestindo um avental sujo e gasto, estava atrás do balcão. Seus braços fortes e robustos, que se projetavam das mangas enroladas, estavam marcados por inúmeras cicatrizes, conferindo-lhe uma aparência imponente, quase bestial. As cicatrizes em seu rosto e a cabeça completamente raspada completavam o visual intimidador. Segurando um esfregão em uma das mãos, ele observava os dois recém-chegados com olhos penetrantes e críticos, como se tentasse decifrar suas intenções.

“Quer um quarto, huh? Vai ficar quanto tempo?” Sua voz rouca quebrou o silêncio, reverberando pelo ambiente com um tom rude e direto.

“Não queremos um quarto. Eu e minha companheira queremos algo gostoso para comer.” Ra Putin respondeu, mantendo a calma em sua voz, como se o tom ríspido do estalajadeiro não o afetasse.

O homem atrás do balcão resmungou, estreitando os olhos em desconfiança. “...A comida mais gostosa e barata custa uma placa de cobre, huh? A mais cara é cinco cobres. Bebida custa um cobre extra. Pode escolher entre suco ou chá. Cerveja custa dois cobres e vinho, quatro.”

Ra Putin analisou as opções brevemente antes de responder. “Se for possível, eu gostaria de duas refeições da mais cara e uma cerveja.”

O estalajadeiro bufou, claramente pouco impressionado com a escolha. “Nesta cidade, há três pousadas que atendem aventureiros. A minha é a pior das três... sabe o porquê?”

Ra Putin manteve a compostura e respondeu calmamente. “Não. Poderia me dizer o porquê?”

Ao ouvir a resposta de Ra Putin, o estalajadeiro franziu a testa, um brilho de irritação cruzando seu rosto enquanto seus olhos endureciam. “Use seu cérebro, rapaz! Ou dentro dessa cabeça bonita e oca, huh!?”

Ra Putin, no entanto, permaneceu inabalável. Sua expressão não mudou; era como se as palavras do estalajadeiro fossem vento passando por suas orelhas. Essa tranquilidade era um reflexo do controle que ele exercia sobre suas emoções, resultado de anos de experiência e da percepção de sua própria força. Ele havia aprendido, ao longo de sua jornada, que o verdadeiro poder não reside apenas na força física, mas também na capacidade de manter a calma diante da provocação.

O estalajadeiro pareceu surpreso com a reação contida de Ra Putin. Seu tom se suavizou levemente, embora ainda carregasse uma certa aspereza. “Você é bem durão, hein... O pessoal que fica aqui é, na maioria, aventureiro, placas de cobre ou de ferro. Se tiver alguma força, pode entrar na guilda de aventureiros e formar um grupo por aqui, se tiver sorte. Não há lugar melhor do que esse pra encontrar membros pro seu grupo, com força como a sua...”

Ra Putin observou o homem com atenção, notando o brilho que passava pelos olhos do estalajadeiro, algo entre interesse e respeito relutante. Ele não respondeu imediatamente, permitindo que o silêncio pesasse por alguns momentos antes de responder com um simples assentimento.

“Sem problemas se só quiser duas refeições.” O estalajadeiro finalmente disse, sua voz mostrando uma nota de aceitação, embora ainda carregasse um resquício de desdém.

“Duas refeições e uma cerveja.” Relembrou Ra Putin, seu tom firme, mas desprovido de hostilidade.

“Tch, outro metido a besta que não aprecia a gentileza dos outros... ou tá tentando... Ah, deixa pra lá, isso vai te custar 12 cobres. Adiantado, é claro.” O estalajadeiro estendeu a mão, o movimento suave, mas carregado de expectativa, como se estivesse acostumado a lidar com aventureiros e suas manias.

Ra Putin não hesitou. Sem qualquer expressão visível, ele retirou as moedas necessárias e se levantou da cadeira, movendo-se com a calma de alguém que não se preocupa com o ambiente hostil ao seu redor. Ele caminhou em direção ao estalajadeiro, enquanto Golyla continuava sentada, observando tudo com um olhar que misturava curiosidade e cautela. Os olhos dos presentes seguiam cada movimento de Ra Putin, críticos e avaliadores, como predadores observando uma presa.

Quando, de repente, um pé foi colocado em seu caminho, forçando-o a parar. Ra Putin baixou o olhar, encontrando o rosto de um homem que o encarava com um sorriso irritante. O sujeito parecia se divertir com a própria provocação, e seus companheiros de mesa espelhavam o mesmo sorriso, como hienas à espera de um espetáculo.

“Algum problema?” perguntou Ra Putin, sua voz firme e controlada, enquanto seus olhos se fixavam nos do provocador, analisando-o com a precisão de um predador estudando sua presa.

“Só queria ver se você tinha coragem de esbarrar no meu pé, grandalhão.” O homem respondeu, sua voz carregada de provocação enquanto se inclinava para frente, tentando intimidar Ra Putin com um sorriso que mal disfarçava a intenção agressiva.

Ra Putin manteve a calma. Ele já havia lidado com tipos assim antes—homens que buscavam afirmar sua dominância através de gestos infantis, confusos entre coragem e estupidez. “Eu sugiro que você retire seu pé antes que algo ruim aconteça.”

A tensão no ambiente aumentou como uma maré prestes a quebrar. Todos os olhares estavam fixos na interação, aguardando o desenrolar da situação com uma mistura de ansiedade e curiosidade. O estalajadeiro e os outros clientes permaneceram imóveis, seus olhos brilhando com a expectativa de um bom espetáculo. Eles sabiam que, ali, brigas eram comuns e muitas vezes incentivadas.

‘Ah... Fala sério... Esse cara tem mentalidade de criança?’ Ra Putin pensou, internamente desapontado. Ele suspirou, avaliando a situação com frieza antes de agir. Com um movimento controlado, ele chutou o pé do homem, aplicando apenas a força necessária para desequilibrá-lo. O homem caiu pesadamente da cadeira, mas se levantou rapidamente, um brilho de fúria em seus olhos. Ele era musculoso, as protuberâncias de seus músculos claramente visíveis sob as roupas desgastadas. No pescoço, um colar indicava que era um aventureiro de placa de ferro, um sinal de que tinha alguma habilidade em combate.

“Ei, ei, isso doeu.” O homem disse enquanto se aproximava de Ra Putin de maneira ameaçadora. Enquanto se levantava, ele havia equipado uma manopla, que agora rangia enquanto ele cerrava o punho. O som metálico ecoava no silêncio da estalagem, aumentando a tensão.

Os dois homens se encararam, olhos cheios de fúria, suas alturas praticamente iguais, o que intensificava a sensação de um embate iminente. A tensão no ar era quase palpável, como se o ambiente estivesse esperando explodir a qualquer momento.

Ra Putin decidiu que era hora de agir primeiro. Com um sorriso calmo, ele falou: “É mesmo? Eu não esperava que minha força fosse tão grande a ponto de te derrubar... Bem, foi um erro da minha parte. Pode me perdoar por isso?”

A provocação, camuflada sob uma fina camada de cortesia, teve o efeito desejado. O rosto do homem à sua frente se contorceu em raiva. “...Desgraçado.” Ele rosnou, os olhos cheios de ódio.

Mas antes que ele pudesse reagir, seu olhar deslizou por Ra Putin e focou em Golyla, que ainda estava sentada calmamente. Ele a observou por um momento, seus olhos se estreitando em um brilho predatório. “Você é um sujeitinho irritante... Mas eu sou generoso. Contanto que me empreste essa mulher aí por uma noite, ficaremos quites.”

“Fu, fufufu...” Ra Putin não pôde evitar uma risada zombeteira. Ele levantou levemente a mão, um gesto destinado a afastar o homem de perto dele, mas carregado com um desprezo evidente.

“O que é?” O homem perguntou, olhos vermelhos de raiva, aproximando-se ainda mais, a manopla em seu punho rangendo ameaçadoramente.

“Oh, não é nada. Eu não pude deixar de rir do jeito que você soa como um baderneiro estereotipado. Não se preocupe com isso.”

“Qu—” O rosto do homem ficou vermelho de fúria, seus punhos cerrados em preparação para atacar.

“—Ah, antes de começarmos, posso fazer uma pergunta?” Ra Putin disse, como se estivesse se preparando para uma conversa casual. “Você é o mais forte desse Reino?”

“O quê!? Que porra é essa que você tá falando?”

“Entendo, sua reação já respondeu.” Ra Putin afirmou, sua voz agora carregada de uma certeza fria e calculada. “Se é assim, então eu nem preciso brincar com você.”

Em um movimento rápido e preciso, Ra Putin agarrou o homem pelo pescoço, levantando-o do chão com uma força surpreendente. O homem não teve chance de reagir, seus olhos arregalados em choque, o corpo tremendo impotente. Ele tentou se debater, mas Ra Putin o segurava firmemente, a expressão em seu rosto permanecendo inabalável.

Os homens ao redor, que antes riam e provocavam, agora observavam em silêncio, chocados e impressionados com a força de Ra Putin. “Quão forte é esse cara, que pode levantar um homem adulto com um só braço?” A pergunta não dita pairava sobre todos os presentes, enquanto o ambiente ficava cada vez mais silencioso.

Ra Putin, ainda mantendo a calma, levantou o homem cujas pernas balançavam furiosamente no ar. Sem qualquer gentileza, ele jogou o homem para longe, com um movimento que parecia quase casual.

O corpo do homem voou em uma trajetória curvilínea, atingindo o teto de maneira assustadora antes de cair pesadamente em uma mesa, quebrando-a em pedaços. O som estrondoso ecoou pela estalagem, seguido pelo barulho de coisas quebrando e pelo grito de dor do homem, que se misturou ao silêncio atônito dos outros clientes.

O estalajadeiro e os clientes observavam em silêncio, atônitos com a força e a precisão de Ra Putin. As tábuas da mesa se dividiram em duas, e os objetos em cima dela foram quebrados junto com o orgulho do homem que agora gemia de dor, ecoando pela taverna até que todo o lugar ficou em silêncio, assustado pelo barulho. Ra Putin apenas olhou para o caos que havia causado com um misto de desinteresse e satisfação, antes de voltar sua atenção ao estalajadeiro. “E quanto às refeições?” Ele perguntou, como se nada tivesse acontecido.

A estalagem, agora mergulhada em um silêncio tenso, esperava pelo próximo movimento.

No momento seguinte, um grito agudo rasgou o ar da taverna.

“OGYAAAAAA-!”

A voz feminina que ecoou no ambiente carregava um tom de desespero tão intenso que era como se sua alma estivesse ascendendo aos céus. Seria natural alguém gritar assim se um homem caísse do céu bem à sua frente, mas havia algo mais por trás daquele lamento perturbador, algo que parecia transcender o susto comum.

Ra Putin virou-se na direção do som, com os olhos estreitos, e não precisou de muito para identificar a origem do clamor. Sua expressão permaneceu impassível, mas havia uma frieza gelada em seu olhar que silenciou os murmúrios ao redor. A atmosfera, já tensa, tornou-se ainda mais carregada.

Enquanto isso, os outros aventureiros sentados à mesa do sujeito arremessado por Ra Putin começavam a sentir o peso da situação. Cada movimento de Ra Putin era um lembrete de que enfrentá-lo seria um erro fatal. Percebendo a gravidade da situação, um dos homens se levantou apressadamente, as mãos tremendo ligeiramente enquanto baixava a cabeça em sinal de submissão.

“Ah? N-não! Nosso amigo... nosso amigo ofendeu o senhor! Lamentamos muito por isso!” Suas palavras saíram aos tropeços, refletindo a mistura de medo e respeito que agora sentia por aquele que tinha demonstrado tamanha força.

Ra Putin permaneceu em silêncio por um momento, apenas o suficiente para fazer os corações dos homens à sua frente dispararem. Quando finalmente falou, sua voz era baixa e cortante, cada palavra pingando com uma calma ameaçadora.

“Entendo. Eu perdoo vocês. Mas espero que compensem o estalajadeiro por essa mesa. Vocês não querem criar mais problemas, certo?”

Os aventureiros acenaram rapidamente, com uma submissão que beirava o desespero. “Claro, claro que sim! A gente paga tudinho!”

Sentindo que o assunto estava encerrado, Ra Putin começou a se virar, pronto para voltar à sua mesa. Mas, antes que pudesse dar o primeiro passo, uma voz carregada de raiva cortou o ar.

“Espere aí! ESPERE AÍ!”

Ra Putin parou e se virou lentamente, seus olhos encontrando uma jovem mulher que estava de pé entre os destroços da mesa destruída. Ela era jovem, provavelmente em torno dos vinte anos, com cabelos ruivos despenteados e cortados de forma desigual. Seu rosto, de uma beleza marcada por traços fortes, mostrava um brilho de ira, e seus olhos afiados cravavam-se nele como lâminas.

Ela não parecia alguém comum. Seu corpo era musculoso, esculpido por treinamento árduo, e as palmas de suas mãos, cobertas de calos, contavam a história de uma guerreira. A placa de ferro que usava balançava levemente em seu peito a cada movimento brusco que fazia.

“Você viu o que fez!?” Ela apontou para os restos da mesa com fúria.

Ra Putin arqueou uma sobrancelha. “O que eu fiz?” perguntou, sua voz carregada de uma calma fria que só serviu para irritar ainda mais a mulher.

“Você quebrou minha poção, sua besta! Minha preciosa poção!”

“E…?” Ra Putin perguntou, sem esconder sua indiferença.

A mulher cerrava os punhos com tanta força que suas unhas cravaram nas palmas de suas mãos. “Você tem ideia do quanto aquela poção custou!? Eu passei fome, eu economizei cada maldita moeda para comprar aquela poção! E agora, você simplesmente a destruiu!”

Ra Putin suspirou, exasperado com a situação. Ele sabia que havia cometido um erro ao arremessar o homem sem se importar com onde ele cairia, mas não estava disposto a ceder tão facilmente.

“Talvez devesse pedir ao seu amigo por uma compensação. Se ele não tivesse enfiado a perna no meu caminho, nada disso teria acontecido.”

A mulher lançou um olhar furioso para os amigos do homem arremessado, que estavam pálidos de medo. “Esses bêbados não têm dinheiro nem para pagar uma rodada de cerveja, quanto mais uma poção! Mas você, com essas roupas chamativas, com certeza tem dinheiro para comprar outra, não é?”

Ra Putin considerou suas palavras por um momento, antes de responder. “Faz sentido… Então, era uma poção de cura, estou certo?”

“Sim, isso mesmo!” A mulher começou a explicar como havia economizado cada centavo, mas foi interrompida por Ra Putin, que levantou uma mão.

“Já entendi. Vou pagar por outra poção, e isso nos deixa quites.”

Sem mais delongas, Ra Putin tirou uma poção de cura menor de sua bolsa e a entregou à mulher. Ela olhou para o frasco com uma expressão de surpresa, antes de aceitá-lo, embora com relutância.

“Então, estamos quites?” perguntou ele.

“Sim… eu acho que sim,” respondeu a mulher, ainda olhando para a poção em suas mãos.

“Ótimo.” Ra Putin se virou para voltar à mesa, onde Golyla o aguardava pacientemente.

O estalajadeiro, que até então havia permanecido em silêncio, finalmente se pronunciou. Sua voz agora carregava um tom de respeito que antes não existia.

“Seja bem-vindo ao nosso estabelecimento. Sua comida estará pronta em breve.”

Ra Putin acenou com a cabeça em resposta, sentindo que finalmente poderia ter um momento de paz para desfrutar de sua refeição.

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Ra Putin e Golyla começaram a comer sua refeição em silêncio, mas os murmúrios ao redor da taverna não passaram despercebidos por eles. Conversas sussurradas flutuavam pelo ar, acompanhadas de olhares furtivos lançados em sua direção.

“…Parece que ele é realmente forte…”

“Pois é… A força daquele braço é inacreditável. Como será que ele treinou para ficar assim?”

“Ele deve estar bem confiante para não carregar armas…”

“Droga… Outro cara vai subir de ranking mais rápido que a gente…”

Os comentários dispersos carregavam uma mistura de admiração, surpresa e um toque de medo. Não era difícil perceber que Ra Putin se destacava como alguém que não era um mero aventureiro. Sua presença dominava o ambiente, impondo respeito e cautela em todos os presentes.

“Você fez uma cena bem dramática.” Golyla finalmente quebrou o silêncio entre eles, sua voz baixa e cheia de uma leveza quase jocosa.

Ra Putin respondeu com um dar de ombros despreocupado, seus olhos permanecendo fixos na comida diante dele. “Bem… Eu já estou meio acostumado a lidar com esse tipo de pessoa.”

Golyla riu suavemente, um som que parecia ainda mais raro e precioso em um lugar como aquele. “Isso foi uma maneira interessante de lidar com a situação. Você acha que teremos mais problemas?”

Ra Putin pausou por um momento, refletindo sobre a questão, antes de balançar a cabeça com uma leve confiança. “Acho que não… A maioria dessas pessoas só quer evitar confusão com alguém claramente mais forte. Além disso… Eles parecem mais interessados em me observar do que em provocar mais brigas.”

Havia algo no tom de Ra Putin, uma certeza fria que dizia a Golyla que ele não estava apenas se gabando. Aqueles que já haviam enfrentado muitos desafios sabiam como medir o ambiente ao seu redor, e Ra Putin era claramente um desses homens.

“Você tem um ponto…” Golyla assentiu, aceitando a análise de Ra Putin. “Então… Qual é o nosso próximo passo?”

“Vamos terminar nossa refeição… Depois disso, podemos explorar mais da cidade. Quero ver como estão as coisas por aqui… Se encontrarmos alguma informação útil, podemos levá-la de volta para os outros.”

Os olhos de Golyla brilharam com uma curiosidade renovada. “Boa ideia… E talvez a gente encontre mais alguns personagens interessantes pelo caminho.”

Ra Putin apenas respondeu com um aceno de cabeça, enquanto continuava a comer em silêncio. A atmosfera na taverna, que antes era tensa, começava a relaxar à medida que os clientes retornavam às suas próprias conversas e atividades, embora ainda houvesse um sussurro ocasional que mencionava o nome de Ra Putin.

A presença deles continuava a pairar como uma sombra, deixando claro que, apesar da aparente tranquilidade, todos sabiam que aqueles dois não eram aventureiros comuns. Enquanto Ra Putin e Golyla se preparavam para terminar sua refeição, a cidade de E-Rantel aguardava, cheia de segredos a serem descobertos e desafios a serem enfrentados.











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O Supremo Governante da Grande Tumba Subterrânea de Nazarick, o ser conhecido como o Mestre da Guilda, estava sentado em um escritório opulento, repleto de luxo. O ambiente ao seu redor exalava uma aura de autoridade e poder absoluto, algo que refletia a posição de seu ocupante. Cada peça de mobiliário presente na sala era meticulosamente escolhida, desde as cadeiras de design requintado até as esculturas que decoravam o espaço. O tapete carmesim que cobria o chão era tão espesso que amortecia completamente o som dos passos de quem ousava caminhar sobre ele, como se a própria sala estivesse tentando manter o silêncio.

Bandeiras com insígnias variadas pendiam das paredes, cada uma representando os diferentes membros da Guilda Ainz Ooal Gown e seus grandes feitos. No centro do escritório, uma imponente escrivaninha de mogno dominava a sala, sua superfície polida refletindo o brilho das luzes mágicas que flutuavam no ar.

Sentado atrás da escrivaninha, em uma cadeira de couro negro, estava um ser cuja presença transcendia o conceito de mortalidade. Envolto em um manto dourado que parecia irradiar a própria luz, o homem que um dia fora conhecido como Momonga agora carregava o nome de sua amada guilda, Ainz Ooal Gown. Se alguém fosse descrever essa figura com poucas palavras, seria difícil encontrar uma expressão mais adequada do que “Governante da Morte brilhante.”

Sua cabeça, destituída de carne, era um crânio descarnado, um símbolo da imortalidade que ele havia alcançado. Dentro das órbitas vazias, dois pontos de luz vermelha brilhavam intensamente, misturados com traços de uma escuridão profunda, um reflexo do poder e da sabedoria que agora carregava. Ainz juntou os dedos esqueléticos em um gesto pensativo, os dez anéis em suas mãos resplandecendo com um brilho sobrenatural, como se a própria magia os alimentasse.

“Vejamos... o que devo fazer agora?” murmurou ele, em um tom que soou tanto como uma pergunta quanto como uma reflexão.

YGGDRASIL, o DMMO-RPG [Mergulhe no jogo de RPG online multijogador massivo], permitia que seus jogadores mergulhassem em uma realidade virtual, experimentando aventuras com seus próprios corpos dentro do mundo do jogo. No entanto, já se passavam nove dias desde o fatídico momento em que os servidores de YGGDRASIL foram desligados, e a Grande Tumba de Nazarick, junto com tudo que ela continha, foi misteriosamente transferida para um novo mundo, com Ainz ocupando a forma de seu personagem no jogo.

Durante esses nove dias, Ainz dedicou-se a estudar as condições atuais de Nazarick, analisando os vassalos que o serviam e tentando compreender as inúmeras diferenças entre este novo mundo e o mundo virtual de YGGDRASIL. Agora, ele estava imerso em pensamentos sobre o próximo passo a ser dado, buscando maneiras de consolidar seu poder e proteger seus súditos.

Embora Ainz já tivesse sido humano, agora ele era uma criatura morta-viva. Com isso, veio a constatação de que os NPCs de Nazarick, seres que outrora considerava apenas criações digitais, demonstravam um ódio profundo por humanos. Esse fato, no entanto, não o perturbava ou deprimia. Pelo contrário, ele aceitava isso como uma característica natural para seres que, assim como ele, transcendiam a humanidade.

Uma peculiaridade de sua nova forma era a supressão imediata de quaisquer emoções fortes que pudesse experimentar. Esse fenômeno era uma bênção em muitos aspectos, permitindo que Ainz permanecesse calmo e racional em todas as situações. No entanto, a velocidade com que sua personalidade parecia estar mudando era algo que, de certa forma, ainda o inquietava.

Essa inquietação era intensificada por lembranças que ele não conseguia afastar, especialmente uma em particular. Em um momento que deveria ter sido apenas mais um entre muitos, a necrofílica Shalltear Bloodfallen havia sussurrado docemente em seu ouvido: “Esta bela estrutura óssea é digna de um Deus.”

Para Shalltear, aquelas palavras podiam ter sido uma declaração amorosa, uma expressão de sua devoção. Contudo, para Ainz, elas haviam sido um choque profundo, uma sensação que o abalara de maneira inesperada. Afinal, aquela fora a primeira vez em toda a sua existência — mesmo quando ainda era humano — que ele havia recebido um elogio por sua aparência, apesar de agora ser apenas um esqueleto.

Fazia vários dias desde aquele incidente, mas as palavras de Shalltear ainda ressoavam em sua mente, provocando uma mistura de sentimentos que ele ainda não conseguia definir com clareza.

Ainz Ooal Gown permaneceu imóvel em sua cadeira, observando o espaço à sua frente enquanto os pensamentos turbulentos que o perturbavam aos poucos se dissipavam, substituídos pela fria racionalidade de sua natureza de morto-vivo. As palavras de Shalltear, que ainda ecoavam em sua mente, foram prontamente suprimidas por um raciocínio lógico. Afinal, ele era o Governante Supremo de Nazarick. Não podia se permitir ser distraído por emoções que, embora incomuns e ligeiramente perturbadoras, eram completamente irrelevantes diante dos desafios que se aproximavam.

“Suspiro” foi a única reação que se manifestou em sua mente enquanto ele desviava o olhar para o sofá próximo à sua mesa. Lá, estava uma figura feminina descansando tranquilamente — a mulher que, até pouco tempo, era conhecida como Bukubukuchagama, mas agora assumia um novo nome: Buku Ooal Gown. Naquele momento, ela estava em uma forma temporária de uma elfa negra, resultado do uso do anel de Doppelgänger.

Buku, a quem Ainz havia confiado a defesa de Nazarick, tinha feito uma troca com Ulbert, garantindo um momento de descanso. Embora slimes, por natureza, não necessitem de sono, era evidente que dar um descanso à mente era algo desejável para ela. Normalmente, Buku passaria esse tempo com os gêmeos elfos guardiões do 6º andar, Aura e Mare. No entanto, os dois estavam fora em missão, acompanhados por outros membros da guilda: Blu vie Ooal Gown, Nereus Ooal Gown, Shireenii Ooal Gown, Mekongawa Ooal Gown e a Donzela de Combate Lupusregina, explorando as profundezas da Floresta de Tob.

Ainz cruzou os dedos diante do rosto, as articulações esqueléticas raspando umas nas outras, o som apenas audível em meio ao silêncio do ambiente. Ele estava perdido em pensamentos, contemplando a situação atual e os próximos passos que deveriam ser tomados. O tédio começava a se infiltrar em sua mente, mas ele sabia que não poderia se deixar levar por esse sentimento. Havia muito a ser feito para assegurar a supremacia de Nazarick neste novo mundo, e sua atenção precisava estar completamente focada nas tarefas à frente.

Sobre sua mesa, uma pilha de relatórios aguardava sua análise, cada um deles oferecendo uma visão detalhada dos diversos aspectos do novo mundo em que Nazarick se encontrava. Com um movimento deliberado, Ainz pegou o primeiro relatório, permitindo que seus olhos vazios percorressem as palavras cuidadosamente escritas por seus amigos.

### Relatório de Shizyu - Cidade de E-Rantel

**Resumo:**
— **Segurança:** A segurança na cidade permanece estável. As patrulhas regulares e a presença da guilda de aventureiros têm mantido os monstros afastados das proximidades da cidade.
— **Economia:** A economia local está crescendo lentamente, com um aumento nas transações comerciais e na produção.
— **Questões:** Há um aumento no número de monstros ao redor da cidade. Um grupo oculto parece estar planejando um ritual de invocação de mortos-vivos. Estamos monitorando seus movimentos.

Ainz assentiu levemente, ponderando sobre a informação. “Um ritual de invocação de mortos-vivos, hein? Isso pode ser tanto uma oportunidade quanto uma ameaça. Precisamos obter mais informações antes de decidir se devemos intervir ou não.”

### Relatório de Nishikienrai - Estado do Conselho de Argland

**Resumo:**
— **Espionagem:** Nossa rede de espiões está se expandindo, mas precisamos de mais recursos para obter informações mais detalhadas.
— **Questões:** Estamos observando um governante regional, Dragão Menor Royl — um mísero nível 51, nada de especial.

Um sorriso imperceptível curvou os lábios descarnados de Ainz. “As coisas estão indo bem. Expandir a rede de espiões é crucial. Informações estratégicas sempre serão uma vantagem no campo de batalha.”

### Relatório de Holly - Teocracia Sleide

**Resumo:**
— **Religião:** A Teocracia continua a exercer um controle rígido sobre a população através de sua religião dominante.
— **Economia:** A economia é estável, mas fortemente centralizada na mão de obra escrava de elfos.
— **Questões:** Nenhum indício de jogadores na Teocracia. Podemos começar um levante entre os escravos elfos para espalhar o caos, ou talvez apoiar a nação élfica na guerra contra a Teocracia de maneira discreta.

Ainz franziu o cenho enquanto refletia sobre as implicações desse relatório. A Teocracia Sleide, uma nação com mais de 600 anos, fundada pelos Seis Viciados, era uma força formidável. Qualquer ação contra eles exigiria um planejamento cuidadoso.

“Provocar um levante ou ajudar os elfos... Isso certamente forçaria a Teocracia a usar sua força mais poderosa, a Escritura Negra, e poderia nos proporcionar uma visão de seus itens mais valiosos. Mas também traria riscos significativos...”

Ainz sabia que um movimento em falso poderia levar a uma resposta catastrófica. Além disso, envolver-se diretamente poderia revelar a força de Nazarick antes que ele estivesse pronto para tal exposição.

“Traumarei-san está certo em ser cauteloso. Precisamos de mais informações antes de tomar qualquer decisão drástica. Talvez seja melhor focar em aumentar nossas forças e recursos antes de realizar qualquer ação direta.”

Com um suspiro silencioso, Ainz colocou os relatórios de volta na mesa e se levantou, sua figura esquelética projetando uma sombra longa e sinistra no chão.

“É hora de discutir essas questões com os outros membros da guilda. Precisamos elaborar um plano que maximize nossas vantagens enquanto minimiza nossos riscos.

Buku se levantou preguiçosamente do sofá, seus movimentos lentos e deliberados, como se estivesse aproveitando o momento de repouso.

“Huh... quanto tempo eu estava ‘dormindo’?” perguntou ela, esticando os braços, seu tom carregado de um misto de indiferença e curiosidade.

Ainz, que havia retornado à sua postura ereta, respondeu com a calma habitual que agora fazia parte de sua existência como morto-vivo. “Trinta e nove minutos.”

“Trinta e nove?” Buku repetiu, sua voz demonstrando uma leve surpresa. “Huh... estou com vontade de tomar banho...” Ela lançou um olhar sugestivo para Ainz, seus olhos brilhando com um humor malicioso. “Você gostaria de me acompanhar? Eu poderia ajudar você a limpar esse seu corpo esquelético.”

Por um breve momento, um tremor imperceptível percorreu o corpo de Ainz, sinal de um pânico interno que ele prontamente suprimiu com a habilidade automática que o seu novo estado lhe concedia. “E... Hum... bem... E—”

“—Ah, vamos lá.” Buku interrompeu, fazendo um movimento indecente com os dedos enquanto seu sorriso travesso se alargava. “Eu vou utilizar minha forma gosmenta. Não terá nada de safadeza.”

“Claro que ela também é safada! Afinal, ela é a irmã mais velha de Peroroncino!” Ainz gritou mentalmente, tentando manter o foco em suas palavras, embora sua mente estivesse um caos de pensamentos conflitantes.

“Bem, já que insiste. Eu realmente tenho dificuldade de limpar esse meu corpo esquelético.” As palavras escaparam dos lábios de Ainz com uma resignação forçada, ciente de que, naquele momento, ele estava mais cedendo do que realmente consentindo.

Buku arqueou uma sobrancelha, surpresa pela resposta, antes que um sorriso travesso tomasse conta de seu rosto. “Então vamos.”

Ela se levantou com uma graça fluida e começou a caminhar em direção aos banhos de Nazarick, seus passos ecoando suavemente pelos corredores luxuosos. Ainz a seguiu, seu olhar vazio fixo à frente, enquanto sua mente corria com pensamentos confusos. Como era possível que, mesmo após a transição para este novo mundo, com as mudanças drásticas em seus corpos e papéis, a camaradagem e a amizade entre os membros da guilda permanecessem tão inalteradas?

Os corredores de Nazarick, adornados com detalhes opulentos e iluminados por uma luz suave, eram um contraste gritante com os pensamentos que fervilhavam na mente de Ainz. Em sua natureza como morto-vivo, ele deveria estar além de tais distrações emocionais. E, no entanto, a interação com Buku o levava a reflexões que não eram típicas de sua nova existência.

Enquanto seguiam adiante, ele não pôde deixar de se questionar se essa normalidade era, de fato, uma bênção ou uma maldição. Seria possível que, mesmo na morte, os laços de amizade e as memórias compartilhadas pudessem persistir, desafiando a própria lógica da imortalidade?

Ao chegarem ao banho, Buku mudou para sua forma de slime, seu corpo maleável e amorfo se adaptando com facilidade à tarefa de limpar os ossos de Ainz. Sua massa se transformou, moldando-se como mãos que cuidadosamente começavam a esfregar o esqueleto de Ainz.

“Pronto, nada de safadeza.” Disse ela com uma piscadela brincalhona, um gesto que parecia absurdamente inadequado para a situação. “Vamos começar.”

Ainz suspirou internamente, resignado a mais uma situação que, em seu mundo anterior, teria sido considerada bizarra além de qualquer medida. Agora, no entanto, era apenas mais um dia em sua nova existência. Mesmo enquanto Buku limpava seus ossos, ele não conseguia deixar de pensar na estranheza de suas circunstâncias. Era como se a normalidade tivesse sido completamente redefinida para ele e os outros membros de Nazarick.

De repente, uma voz ecoou pelo banho, reverberando nas paredes de mármore e refletindo o tom autoritário de uma entidade poderosa.

“Eu não irei permitir nenhum tipo de cena indecente no banheiro. Recebam a punição divina!”

Ainz se levantou abruptamente, a voz familiar despertando algo dentro de sua mente morta-viva. “Huh? Essa voz é de Reficul?” Ele murmurou, a confusão clara em sua voz, embora sua expressão permanecesse inalterada.

“O Golem está se movendo?” disse Buku, rapidamente mudando sua forma de volta para uma elfa negra, seu corpo emergindo do de Ainz em um movimento fluido. Seus olhos se fixaram no Golem em forma de leão que se aproximava lentamente, sua presença imponente e ameaçadora.

“Vocês receberão o julgamento divino!” O Golem ergueu sua mão maciça, a aura divina ao seu redor brilhando com uma luz cegante. Ele desferiu um golpe poderoso em direção a Ainz, mas Buku, movendo-se com a agilidade de um guerreiro experiente, se colocou na frente, recebendo o impacto total do ataque.

“Maldito seja Reficul e suas criações inúteis!” Ainz rosnou internamente, sua mente fria já formulando uma resposta. Ele levantou a mão, o poder negro pulsando em sua palma. “⟨Maximizar Magia Negativa: Raio Maior⟩!” A magia foi liberada com uma explosão de energia negativa, atingindo o Golem com força devastadora.

O Golem recuou, sua superfície mágica danificada, mas ainda de pé e determinado a cumprir sua missão.

“Você está bem, Buku?” Ainz perguntou, sua voz carregada de preocupação genuína, embora soubesse que um ataque desse nível não era nada para alguém com a resistência de Buku.

“Sim, mas precisamos neutralizar esse Golem rápido antes que ele cause mais problemas.” Respondeu Buku, assumindo sua posição na frente do Golem, pronta para impedir qualquer avanço em direção a Ainz.

O Golem, agora focado em Ainz após o ataque mágico, preparava-se para lançar outro golpe, mas Buku agiu rapidamente. Com um movimento rápido, ela ativou o anel de Doppelgänger, voltando à sua forma de elfa negra—completamente sem roupas.

“Egbv...” Ainz fez um som inarticulado, sua mente morta-viva momentaneamente atordoada pela visão inesperada. Sua lógica fria tentava se impor, mas as emoções humanas remanescentes complicavam sua concentração.

Buku, por sua vez, parecia alheia à sua própria nudez enquanto utilizava sua habilidade de controle de 'ódio' para atrair a atenção do Golem. Seus socos, embora não fossem devastadores, eram suficientes para enfurecer o Golem e fazê-lo focar nela.

“Agora, Ainz!” Buku gritou, seus olhos fixos no Golem enquanto esperava pela magia que sabia que destruiria o oponente.

Ainz, tentando recuperar sua compostura, ergueu a mão novamente, começando a canalizar uma magia extremamente poderosa. “⟨Maximizar Magia: Corte de Realidade⟩!” Ele invocou, e uma esfera negra de energia mortal surgiu em sua mão. Com um movimento decisivo, ele lançou a esfera, que colidiu diretamente com o Golem.

A explosão foi imediata e devastadora, desintegrando o Golem em uma chuva de fragmentos e detritos mágicos. Ainz observou os restos do Golem caírem ao chão, um alívio frio se espalhando por sua mente.

“Essa foi por pouco.” Disse Buku, virando-se para Ainz com um sorriso satisfeito. No entanto, o sorriso rapidamente desapareceu quando ela notou a expressão de Ainz. Ele estava completamente congelado, sua mente em um estado de caos reprimido enquanto olhava para ela.

“...O que foi?” Perguntou Buku, ainda sem perceber que estava completamente nua. Embora normalmente desinibida, havia algo na intensidade do olhar de Ainz que a fez hesitar.

“Huh!?!” Ela finalmente se deu conta da situação, seus olhos se arregalando em choque antes que uma expressão de constrangimento tomasse conta de seu rosto. Sem demora, ela rapidamente voltou à sua forma de slime, cobrindo-se em uma camada protetora de gel translúcido.

O clima ficou carregado de uma estranheza palpável, ambos sentindo a tensão desconfortável do momento. Ainz, lutando para manter a dignidade, tentou encontrar uma saída para a situação.

“...Talvez devêssemos terminar isso depois.” Disse Ainz, sua voz carregada de uma tentativa mal-sucedida de indiferença.

“É, acho que sim.” Respondeu Buku, visivelmente constrangida enquanto se afastava lentamente, a tensão entre os dois quase sufocante.

**Trak, trak, trak…**

O som rítmico e familiar de passos firmes sobre o chão de pedra ecoou pela casa de banho, interrompendo o silêncio tenso entre Ainz e Buku. Ambos haviam acabado de sair da água, o vapor quente ainda pairando no ar enquanto se preparavam para sair. Ainz, ainda tentando afastar a estranheza do momento anterior, levantou a cabeça ao ouvir o som, sua atenção voltando-se para a fonte dos passos.

Eles mal haviam se recomposto quando a imponente figura de seu companheiro de guilda, Kinky, apareceu virando a esquina. Sua presença era inconfundível. O corpo massivo, coberto por uma carapaça de placas ósseas e fragmentos de cacos marrom, se movia com uma força bruta que fazia a estrutura de Nazarick parecer pequena em comparação. Ele tinha mais de 2,20 metros de altura, facilmente superando Ainz em estatura e porte.

A cabeça de Kinky, um besouro rinoceronte com um grandes chifres em sua testa , apresentava uma mandíbula inferior que se dividia em duas, lembrando as mandíbulas de animais distintos, sobrepostas uma sobre a outra. Essa característica peculiar lhe dava uma aparência ainda mais intimidante, enquanto ele os observava com seus olhos compostos, refletindo a luz ambiente de maneira quase hipnótica.

Uma toalha estava casualmente jogada sobre seu ombro direito, o que parecia quase irônico dado o tamanho de sua forma e a atmosfera ligeiramente constrangedora da cena.

Kinky olhou para os dois, sua expressão de dúvida visível apesar das feições alienígenas. “……!? Oxi? Que bagunça essa?” Perguntou ele, sua voz ecoando profunda e rouca, carregada de uma confusão genuína.

Ainz, que já havia sido pego desprevenido mais cedo, sentiu um novo golpe de pânico. Ele tentou, desesperadamente, formular uma desculpa plausível, mas sua mente parecia ter travado, incapaz de processar uma resposta que fosse ao mesmo tempo convincente e que não agravasse ainda mais a situação.

Buku, ainda parcialmente na forma de slime, começou a deslizar lentamente para longe de Ainz, tentando disfarçar a tensão que crescia entre eles. O olhar dela passou de Ainz para Kinky, procurando alguma maneira de suavizar o constrangimento.

“Ah… Kinky-san, que bom que você apareceu.” Ainz finalmente conseguiu falar, sua voz soando estranhamente firme apesar do turbilhão interno que o dominava. “Estávamos… resolvendo um pequeno problema técnico. Nada sério, apenas… uma falha mágica menor que ativou o Golem de Reficul.”

Kinky piscou lentamente, processando as palavras de Ainz com seu olhar intenso e enigmático. Ele era, por natureza, uma pessoa introvertida e calada, raramente se envolvendo nas discussões da guilda a menos que fosse necessário. A expressão de dúvida em seu rosto apenas aumentava a sensação de estranheza no ambiente.

“Entendi… Então… Não há necessidade de ajuda?” Ele perguntou, sua voz carregada de uma mistura de alívio e curiosidade reprimida. Kinky não era o tipo que insistia, mas a situação incomum parecia ter capturado seu interesse, mesmo que apenas por um momento.

Buku, tentando se recompor, finalmente falou, sua voz suave e levemente brincalhona. “Não, está tudo sob controle. Kinky-kun” Ela piscou, tentando desviar a atenção do incidente constrangedor e suavizar o ambiente.

Kinky, embora intrigado, assentiu lentamente. “Hmn… não precisa usar essas coisa de -kun.” Ele murmurou, antes de se virar para continuar seu caminho para a casa de banho, deixando Ainz e Buku respirarem aliviados com sua saída.

Assim que Kinky desapareceu de vista, Ainz soltou um suspiro profundo, suas emoções novamente suprimidas pelo sistema automático de seu corpo esquelético. Ele lançou um olhar para Buku, que parecia igualmente aliviada e exausta pela série de eventos.

“Eu diria que foi… um tanto quanto próximo.” Comentou Ainz, tentando, mais uma vez, recuperar algum senso de normalidade.

“Sim, acho que… precisamos melhorar nossa coordenação, Ainz.” Respondeu Buku, agora completamente reformada em sua forma humana, um leve sorriso de cansaço brincando em seus lábios.

Ainz não pôde deixar de concordar, mesmo que o conceito de normalidade em Nazarick parecesse cada vez mais uma ilusão distante.

Ainz e Buku permaneceram em silêncio por alguns instantes, absorvendo o que havia acabado de acontecer. Era incomum para eles, antigos jogadores do mundo virtual de Yggdrasil, sentirem-se constrangidos por situações assim, mas as novas realidades do mundo em que se encontravam pareciam ter maneiras únicas de testar seus limites.

“Bem,” começou Ainz, limpando a garganta de maneira desnecessária, um gesto resquício de sua humanidade anterior. “Acho que podemos considerar o banho… encerrado por hoje.”

Buku riu baixinho, sua voz soando mais leve agora que o momento de tensão havia passado. “É, talvez seja melhor assim. Vamos evitar que outro golem ‘zeloso’ decida interromper nossa paz novamente.”

Enquanto ambos se preparavam para deixar a casa de banho, um pensamento atravessou a mente de Ainz. Ele não pôde evitar pensar sobre como a relação entre os membros da guilda havia se moldado e mudado neste novo mundo. Havia uma nova profundidade em suas interações, um peso que não existia antes, mas também um vínculo que parecia inquebrável, mesmo diante das circunstâncias mais bizarras.

Enquanto caminhavam pelos corredores de mármore de Nazarick, envoltos em silêncio confortável, Ainz finalmente quebrou o silêncio com uma pergunta que havia estado em sua mente desde o incidente.

“Buku-san,” ele começou, sua voz curiosamente suave. “Você já pensou… sobre como tudo isso nos mudou? Não apenas em termos de nossos corpos, mas… como pessoas?”

Buku parou por um momento, como se estivesse ponderando a profundidade da pergunta. “Sabe, Ainz-kun, eu acho que seria impossível passar por algo assim sem ser afetado. Estamos vivendo em um mundo que costumava ser um jogo, mas agora é muito mais real. Tudo – nossas habilidades, nossas responsabilidades, e até mesmo as pequenas interações – parece ter um peso que antes não existia.”

Ainz assentiu, sentindo a verdade nas palavras de Buku. “É verdade. Este mundo nos testa de maneiras que nunca poderíamos ter previsto. E embora estejamos mais poderosos do que jamais fomos, sinto que também estamos mais… vulneráveis.”

Buku lançou um olhar curioso para Ainz. “Vulneráveis? Como assim?”

“Bem, não vulneráveis no sentido de força ou poder,” Ainz esclareceu, sua voz assumindo um tom contemplativo. “Mas em nossas conexões, em nossos laços. No mundo antigo, a morte ou a perda eram meramente inconvenientes. Mas agora… temos tanto a perder. E isso nos torna mais cautelosos, mais conscientes do que está em jogo.”

Buku ponderou sobre as palavras de Ainz. “Acho que você está certo. Cada decisão, cada movimento, carrega consigo o peso do que pode acontecer. E é isso que torna tudo tão diferente. Mas ao mesmo tempo, talvez seja isso que nos une mais.”

Eles continuaram caminhando em silêncio, suas mentes voltadas para as complexidades de seu novo mundo. Quando finalmente chegaram ao grande hall de Nazarick, onde os vastos corredores se abriam para o coração da fortaleza, Ainz virou-se para Buku, um sorriso sutil em seu rosto esquelético.

“De qualquer forma, é bom saber que, apesar de tudo, ainda podemos contar uns com os outros. Mesmo quando as coisas ficam… estranhas.”

Buku sorriu em resposta, seu olhar suave e cheio de entendimento. “Sempre, Ainz-kun. Sempre.”

Com isso, eles se separaram, cada um seguindo seu próprio caminho pelos corredores de Nazarick, mas com a certeza de que, não importando o que o futuro reservasse, suas amizades e lealdades continuariam a ser a âncora que os mantinha firmes em um mundo cheio de incertezas.

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