Dia 12 - Parte 1 - **FIM DA AVENTURA DE NFIREA.**

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  O grupo voltou rapidamente para a cidade de E-Rantel, graças à impressionante velocidade do Rei Sábio da Floresta, que os carregou até lá com agilidade surpreendente. Assim que chegaram, os aventureiros da equipe ‘Contra Nove’ se despediram de Nfirea, que retornou ao seu ofício, e seguiram diretamente para a guilda de aventureiros. A tarefa agora era registrar Suke — o temido Rei Sábio da Floresta — como um companheiro de sua equipe. O processo, ainda que simples em teoria, se estendeu por cerca de uma hora e meia, principalmente devido à necessidade de esboçar à mão uma imagem de identificação do Rei Sábio. Embora a magia pudesse ter agilizado o processo, Shizyu recusou a alternativa por conta do alto custo envolvido no desenho mágico, preferindo economizar.

Enquanto aguardavam a finalização do registro, Shizyu, com uma expressão um tanto cansada, comentou casualmente com Yamaiko:

“Embora seja um pouco tarde para mencionar, a desculpa de ‘estou interessado no processo’ já está ficando velha... Enfim, esqueça. Vamos indo.”

Yamaiko sorriu levemente, acenando de forma compreensiva, mas sem se aprofundar no assunto. Já Maquiavel, sempre meticuloso, murmurou algo em resposta:

“Depois eu procuro saber mais sobre isso.” Sua voz era baixa, como se estivesse já catalogando mentalmente o que poderia aprender.

Com Suke oficialmente registrado, o grupo se preparava para partir novamente, montando no gigante hamster quando, subitamente, uma voz anciã, mas firme, interrompeu a conversa descontraída:

“Diga, vocês são os aventureiros que ajudaram meu neto na coleta de ervas?” A voz carregava um tom inquisitivo e, ao se virarem, eles se depararam com uma senhora idosa, franzina, mas com uma presença forte e enérgica.

Shizyu franziu levemente as sobrancelhas, já imaginando quem era, mas mantendo a formalidade na resposta. Sua postura era controlada e cautelosa, mas sua mente já desenhava a conclusão. “...Por favor, se identifique?” Ele perguntou de maneira polida, apesar de já saber a resposta. Se as palavras da velha senhora fossem verdadeiras, apenas uma pessoa poderia se encaixar nessa descrição.

“Me chamo Lizzie Bareare. Eu sou a avó de Nfirea.” disse ela, sua voz firme e sem hesitação.

“Então é a senhora?” Shizyu respondeu com um leve aceno de cabeça, confirmando suas suspeitas. “Isso mesmo, nós somos os aventureiros que escoltaram o seu neto até o vilarejo Carne. Meu nome é Suzaku e sou o líder do grupo.” Sua voz era clara e confiante, mas com uma cortesia calculada, adequando-se ao tom formal que a situação exigia.

Ele continuou, apresentando os outros membros: “Esta é Yama, nossa guerreira resistente. Raka, nossa assassina. Ra-ra, nosso arqueiro. Belavist, nossa bardo, e Riy, nosso lutado.”

A apresentação era direta e formal, mas havia uma razão por trás dela. Shizyu, sempre atento às nuances, sabia que manter uma postura profissional era crucial ao lidar com alguém de influência como Lizzie. A forma como ele os apresentou com títulos e especialidades, destacando cada membro, servia tanto para deixar claro a capacidade do grupo quanto para construir um laço de respeito e confiança.

Lizzie, por sua vez, avaliava cada um dos aventureiros com um olhar perspicaz, como se tentasse medir o valor de cada indivíduo à sua frente. Havia uma frieza no jeito como ela olhava, um misto de cautela e orgulho, como quem sempre teve que proteger os seus, sem depender de ninguém.

“Entendo.” Ela murmurou, seus olhos se estreitando levemente. “Nfirea falou sobre vocês. Parece que vocês foram de grande ajuda.” Havia um leve tremor em sua voz, mas sua expressão permanecia controlada.

Shizyu assentiu, mantendo o contato visual. “Seu neto é um jovem talentoso e determinado. Nós apenas fizemos o que era necessário.”

As palavras de Shizyu eram modestas, mas calculadas. Ele sabia que, ao lidar com Lizzie, era melhor não demonstrar arrogância, mas também não se diminuir. O equilíbrio entre cortesia e força era o que ele buscava naquela conversa.

Lizzie soltou um leve sorriso, seu olhar revelando uma mistura de surpresa e interesse enquanto observava o grupo à sua frente. “É uma equipe bem formada.” Ela fez uma pausa, avaliando cada um dos aventureiros antes de perguntar: “E qual é o nome da criatura que estão montando?”

Shizyu, sempre educado, mas atento às palavras, respondeu de forma direta. “É o Sábio Rei da Floresta, Suke.”

Antes que qualquer um pudesse reagir, Suke ergueu a cabeça orgulhosamente e, com uma voz ressonante, exclamou: “Este aqui é Suke! Este aqui está muito feliz em conhecê-la!”

A exclamação animada da gigantesca criatura provocou reações imediatas. Lizzie, com os olhos arregalados, levou a mão ao peito em surpresa. “Quê!? Esta poderosa fera é o lendário Sábio Rei da Floresta!?”

As palavras de Lizzie não passaram despercebidas. Os aventureiros e pedestres ao redor, que até então apenas lançavam olhares curiosos ao grupo, agora estavam completamente focados em Suke. Sussurros se espalharam rapidamente: *“‘Aquele é realmente o monstro das lendas?’”*, *“‘O Rei Sábio da Floresta?’”*, e a incredulidade tomava conta da multidão.

Shizyu manteve sua compostura, mesmo diante dos olhares atentos. “Correto.” Ele confirmou, com um tom calmo e seguro. “Depois de receber o pedido do seu neto, nós o encontramos enquanto colhíamos ervas e conseguimos domá-lo.”

Lizzie, ainda com a expressão perplexa, olhou para Suke com descrença, como se estivesse tentando conciliar a imagem de um monstro lendário com o comportamento quase dócil da criatura à sua frente. “Vocês realmente... domaram o Sábio Rei da Floresta...” Sua voz era um sussurro, carregada de assombro, e por um momento, parecia perdida em pensamentos. Finalmente, ela sacudiu a cabeça, voltando à realidade. “Então... onde está meu neto agora?”

Shizyu cruzou os braços, mantendo o olhar firme. “Ah, ele foi para casa primeiro com as ervas. Estamos indo para lá agora para receber nosso pagamento.”

A velha senhora soltou um suspiro de alívio, seus ombros relaxando visivelmente. Ela ergueu os olhos para Shizyu novamente, desta vez com um brilho curioso nos olhos. “Oh, entendo... então, podemos ir juntos? Estou bastante interessada em aventureiros do seu nível.”

Para Shizyu, a sugestão de Lizzie foi mais do que bem-vinda. Ele sorriu levemente, uma expressão controlada, mas que transmitia sua aprovação. “Ah, o prazer é todo meu.” Ele respondeu, com um leve aceno de cabeça.

Lizzie retribuiu o gesto com um sorriso leve, que, embora discreto, revelou uma expressão de alívio. No entanto, havia mais em seus olhos – uma curiosidade evidente enquanto os observava. Era como se estivesse não apenas avaliando as habilidades dos aventureiros, mas também pesando a força de suas personalidades e a química entre eles. “Então, vamos?”

O grupo seguiu pelas ruas movimentadas de E-Rantel, com Lizzie à frente, liderando com uma determinação silenciosa. Kāmaraya e Ra Putin caminhavam um pouco adiante, mantendo uma postura vigilante, como se estivessem sempre atentos a qualquer perigo. Maquiavel, andava ao lado de Shizyu, trocando comentários ocasionais sobre a arquitetura da cidade e suas impressões sobre o estilo de vida ali.

Yamaiko, com sua natureza alegre e animada, tagarelava incessantemente com Roxy, que, embora geralmente reservada, sorria levemente em resposta às histórias exageradas de sua companheira. Riyu, por outro lado, mantinha-se em silêncio, observando tudo ao seu redor com olhos afiados, absorvendo cada detalhe da cidade, mas seus olhos brilhavam com um interesse silencioso.

E quanto a Suke, o imponente Rei Sábio da Floresta, ele parecia estar gostando de toda a atenção. Embora seus passos fossem pesados, havia um ar de orgulho em sua postura, como se estivesse começando a se acostumar com sua nova vida. Era como se, pouco a pouco, ele estivesse aceitando seu papel não apenas como uma lenda das florestas, mas também como um companheiro do grupo de aventureiros.

Lizzie, caminhando com eles, ocasionalmente lançava olhares curiosos para Suke, como se ainda estivesse tentando aceitar a realidade de que aquela criatura lendária agora caminhava ao lado deles de maneira tão casual. Contudo, seu olhar também se voltava para Shizyu, avaliando-o com um interesse renovado.

“Dizer que domaram o Sábio Rei da Floresta é algo... impressionante.” Lizzie comentou casualmente, embora sua voz carregasse uma camada de dúvida e respeito.

“Foi uma experiência memorável.” Shizyu respondeu, sem se vangloriar, mas também sem minimizar o feito. Seu tom era neutro, mas sua postura demonstrava que ele compreendia o peso do que haviam realizado. “Suke foi um adversário formidável, mas se mostrou um aliado ainda mais valioso.”

“Este aqui é grato por sua bondade!” Suke exclamou, animado, balançando a cabeça em direção a Lizzie.

Lizzie soltou uma risada leve, algo que surpreendeu Shizyu. “Ah... parece que sua equipe tem uma boa dinâmica.” Ela comentou, observando como o grupo interagia de maneira descontraída.

Shizyu apenas assentiu, seus olhos fixos à frente, mas um sorriso pequeno e discreto apareceu em seu rosto. Lizzie, por fim, parecia satisfeita com o que via, enquanto o grupo continuava sua jornada em direção à casa de Nfirea, com a curiosidade e o respeito em torno deles crescendo a cada passo que davam pelas ruas de E-Rantel.

Suke, com seu corpo gigantesco e presença imponente, caminhava ao lado do grupo com um ar quase orgulhoso, como se estivesse finalmente se acostumando à sua nova vida ao lado dos aventureiros. Suas orelhas grandes balançavam levemente com cada passo, e, de tempos em tempos, ele soltava pequenos grunhidos de satisfação, claramente contente com a atenção que recebia das pessoas ao redor.

Maquiavel, que até então permanecia em silêncio, aproveitou uma pausa no fluxo da caminhada para iniciar uma conversa mais íntima com a senhora que os acompanhava. “Lizzie-san,” ele começou, sua voz calma quebrando o silêncio, “há quanto tempo você e Nfirea vivem em E-Rantel?”

Lizzie parou por um breve momento, como se refletisse sobre a pergunta. Seus olhos adquiriram uma tonalidade nostálgica, quase distante, enquanto suas memórias eram puxadas para a superfície. “Vivemos aqui há muitos anos,” respondeu ela finalmente, sua voz suavizada pelas lembranças. “Esta cidade é nosso lar, e temos muitas memórias aqui. Nfirea sempre foi um garoto curioso, desde muito pequeno... Sempre interessado em ervas, em poções... Nunca poderia ter imaginado que ele se tornaria um alquimista tão talentoso.”

Maquiavel observou enquanto Lizzie falava, notando o brilho suave que dançava em seus olhos. Havia uma ternura em suas palavras, uma profunda afeição que só alguém que criara e amara tanto alguém poderia expressar. Enquanto caminhavam, ele também percebeu os olhares dos aventureiros e transeuntes ao redor. Havia admiração, respeito, e até uma pitada de reverência nas expressões daqueles que cruzavam o caminho do grupo. O nome Lizzie Bareare, claramente, carregava muito peso naquela cidade.

Shizyu. “É uma honra conhecer alguém tão respeitado em E-Rantel.”

Lizzie olhou para ele por um momento, surpresa pela genuinidade em suas palavras, e então sorriu de volta, um sorriso suave, mas carregado de gratidão. “Obrigado, Suzaku-san,” disse ela, sua voz soando gentil e acolhedora. “Tenho certeza de que vocês farão um grande bem para E-Rantel. E estou ansiosa para ouvir mais sobre suas aventuras.”

Enquanto o grupo continuava sua caminhada, a atmosfera, que antes carregava uma leve tensão pela presença da veterana alquimista.

+++

Ao chegarem à loja, Lizzie foi diretamente até a porta da frente, sua expressão ainda tranquila. No entanto, ao se aproximar, algo fez com que ela parasse. Ela estendeu a mão, prestes a pegar as chaves, mas hesitou. Olhando para baixo, empurrou a porta com leveza. Para sua surpresa, a porta se abriu sem qualquer resistência.

“Aquele menino...! Isso é muito descuidado da parte dele.” Lizzie murmurou para si mesma, com uma mistura de preocupação e irritação em seu tom, enquanto entrava na loja. Shizyu e os outros a seguiram, mantendo-se alerta, mesmo que ainda não tivessem detectado nada de anormal.

“Nfirea, o grupo está aqui—” A voz de Lizzie ecoou pela loja, mas logo se dissipou no silêncio inquietante que dominava o local. Não houve resposta. Nenhum som de passos apressados, nenhum sinal de vida. A loja estava em um silêncio que parecia gritar que algo estava errado. “O que aconteceu?” Lizzie franziu o cenho, a confusão em sua voz era palpável.

Maquiavel, por outro lado, manteve sua calma habitual. Sua resposta veio de forma seca, quase mecânica. “Encrenca.”, disse ele, os olhos estreitando-se com concentração. Sua habilidade, [Oitavo Sentido], estava sempre ativa. Graças a ela, Maquiavel era capaz de detectar a presença de qualquer ser vivo em um raio de 500 metros. A habilidade não apenas captava as presenças, mas também as intenções, permitindo que ele identificasse qualquer ameaça iminente com uma precisão quase assustadora.

A habilidade [Oitavo Sentido] não era uma simples ampliação dos sentidos. Ela operava em um nível metafísico, capturando não apenas sons ou cheiros, mas a própria essência de vida ao redor. O ar ao seu redor parecia vibrar levemente quando essa habilidade está ativada. Movimentos sutis, respirações abafadas, batidas de coração — nada escapava a seus sentidos. No entanto, agora... não havia nada. Nem mesmo um pequeno sinal de vida. Era como se a própria área tivesse sido drenada de qualquer vitalidade. O que só reforçava a gravidade da situação.

Lizzie ouviu a palavra que Maquiavel proferiu, mas não a entendeu completamente. Ela olhou para ele, buscando uma explicação, mas Maquiavel não lhe deu atenção. Ele apenas gesticulou para Yamaiko, indicando que ela deveria avançar. Seus movimentos eram calculados, quase automáticos, enquanto o restante do grupo, compreendendo a gravidade da situação, assumiu posições defensivas. Era claro que eles haviam entrado em modo de combate, prontos para qualquer coisa.

“O-o que estão fazendo!?” Lizzie gaguejou, a confusão misturada com medo em sua voz. O súbito silêncio e a mudança de comportamento do grupo a deixaram ansiosa.

“Não pergunte, apenas siga.” A resposta de Maquiavel foi seca, quase fria, enquanto ele levantava o escudo com uma precisão calculada e adentrava ainda mais na loja. Yamaiko estava logo atrás dele, sua presença imponente transbordando uma confiança que só os guerreiros mais experientes possuíam. Ela chutou a porta interna com força, abrindo-a sem hesitação, como se já tivesse feito isso milhares de vezes. Não importava que fosse a casa de um estranho ou que o local fosse completamente desconhecido para ela — Yamaiko avançava preparada para receber qualquer ataque.

Ela chegou até uma porta no fundo da loja e a abriu com um movimento rápido e seguro. Ao virar-se para Lizzie, que havia finalmente os alcançado, sua voz foi direta. “Para onde esse corredor leva?”

Lizzie engoliu em seco, sentindo a crescente inquietação tomar conta de seu corpo. “Ele... ele leva até o armazém de ervas e à porta dos fundos.” A incerteza em sua voz era evidente. Embora não soubesse o que estava acontecendo, o instinto lhe dizia que algo terrível havia ocorrido. A ansiedade começou a dominar seus pensamentos, enquanto seu coração acelerava.

Percebendo a inquietação de Lizzie, Yamaiko a consolou com um olhar firme. “Vai ficar tudo bem.”, murmurou ela, antes de avançar pelo corredor. No entanto, à medida que Yamaiko se aproximava do armazém, algo fez com que seus passos se tornassem mais pesados. Ela sentiu um cheiro distinto no ar. Não era o aroma familiar das ervas que deveria preencher aquele espaço... era algo muito mais pungente e nauseante. Era o fedor acre de sangue.

Ao abrir a porta do armazém, a cena que se revelou diante de seus olhos era grotesca. Dois homens estavam caídos contra as paredes, seus corpos completamente imóveis. Outros estavam espalhados pelo cômodo, alguns em posições contorcidas, outros parecendo ter simplesmente tombado onde estavam. O sangue, outrora vermelho-vivo, havia escorrido e coagulado, formando poças densas e escuras no chão de madeira. A tonalidade quase negra do líquido era um testemunho do tempo que se passara desde o derramamento. O cheiro era opressor, invadindo suas narinas com uma intensidade quase sufocante.

“Mas... o que é isso...?” A voz de Lizzie, trêmula e fraca, cortou o silêncio enquanto ela fazia sua entrada no armazém. Seus passos eram inseguros, e suas mãos tremiam visivelmente ao se deparar com a cena horrenda. O choque estava estampado em seu rosto, seus olhos arregalados incapazes de processar o que viam.

Antes que ela pudesse se aproximar mais, Ra Putin, com sua expressão sempre calma e inabalável, colocou uma mão firme em seu ombro, impedindo-a de seguir adiante. “Deixe-nos investigar primeiro.”, ele disse, sua voz baixa e controlada. Com um gesto rápido, ele assumiu a dianteira, avançando para examinar os corpos, enquanto os outros membros do grupo se espalhavam pelo local, investigando com cuidado e cautela.

Assim que a tensão tomou conta do ambiente, um dos homens caídos se sacudiu como uma marionete quebrada, seus movimentos descoordenados e grotescos. Antes que pudesse se levantar completamente, o som sutil de uma flecha cortou o ar. Em um instante, a cabeça dele foi perfurada e seu corpo despencou de volta ao chão, imóvel mais uma vez. Outra flecha já estava no ar, acertando um segundo homem que havia começado a levantar. Kāmaraya, com sua precisão impecável, havia neutralizado ambas as ameaças antes que qualquer um dos presentes pudesse reagir completamente.

Lizzie, ainda processando o horror da cena diante dela, ofegou em choque. A tragédia era evidente, mas o que realmente a aterrorizava era o movimento dos corpos, a aparente negação da morte.

Dois outros homens, que estavam um pouco mais afastados, começaram a se levantar lentamente. Suas posturas eram erráticas, e os rostos... os rostos não mostravam mais qualquer traço de humanidade. Não havia vida em seus olhos, apenas escuridão nublada. A pele, outrora pálida, agora era cinzenta, sem cor. No centro de suas testas, um buraco fatal, como se a morte tivesse deixado uma assinatura inequívoca. Lizzie arregalou os olhos, um pressentimento gelado correndo por sua espinha.

“—Zumbis!” O grito de Lizzie ecoou pela sala, enquanto os zumbis soltavam grunhidos inumanos e cambaleavam para frente, como predadores famintos.

Yamaiko, sempre eficiente e letal, não perdeu tempo. Com um único movimento fluido, sua espada perfurou a garganta de um dos zumbis. O corpo morto-vivo estremeceu, e sua cabeça caiu para o lado de forma desajeitada antes de desabar, sem mais se mover. O silêncio que se seguiu foi perturbador, como se o próprio ar estivesse hesitante, à espera do próximo movimento.

Maquiavel observava tudo com olhos afiados, seu olhar se fixando no último corpo imóvel. Sua expressão era difícil de ler, mas sua mente estava calculando todas as possibilidades. Ele sabia que algo mais estava por vir. Algo que talvez os outros não percebessem ainda.

“Nfirea!” O grito de Lizzie rompeu o silêncio, agora tingido de desespero. Finalmente, ela compreendeu a gravidade da situação e começou a procurar freneticamente pelo neto entre os corpos, seu coração acelerado pelo medo do que poderia encontrar.

Maquiavel, sempre atento, deu ordens rápidas e precisas. “Ra-ra, Raka, protejam Lizzie.” Sua voz era firme, sem espaço para questionamentos. Cada movimento que ele fazia era calculado, como um mestre de xadrez avançando suas peças no tabuleiro da batalha.

Shizyu, que havia permanecido em silêncio até então, aproximou-se. “Você sente alguma presença?” Sua pergunta era tranquila, mas carregava uma tensão subjacente.

Maquiavel levou alguns segundos antes de responder, seus sentidos aguçados varrendo o ambiente. Ele respirou fundo, então balançou a cabeça levemente. “...Não, nenhuma. Eram só esses.” Sua resposta foi direta, mas o peso da situação não havia diminuído.

“Entendido.” Shizyu assentiu, voltando a atenção para o que estava por vir.

Com a saída de Lizzie, acompanhada de Ra Putin e Kāmaraya, Maquiavel voltou sua atenção para o único corpo que permanecia imóvel e não havia se transformado. Ele se ajoelhou com cuidado ao lado do cadáver, seus movimentos lentos e deliberados. Cada gesto seu parecia carregar um propósito, como se ele estivesse pronto para reagir a qualquer armadilha.

Maquiavel, experiente nas armadilhas de cadáveres do mundo de YGGDRASIL, moveu-se com uma precisão cirúrgica. Após uma breve inspeção, ele tocou o corpo suavemente, seu olhar se estreitando ao confirmar a ausência de armadilhas. Então, ele virou o rosto do homem para analisá-lo. O corpo, claramente, já estava morto há algum tempo.

O que viu era horrível. O rosto do homem havia sido espancado por algum tipo de objeto massivo. As bochechas estavam inchadas, lembrando o tom escuro e púrpura de romãs maduras. O olho esquerdo estava destruído, com o humor vítreo escorrendo, deixando uma marca macabra, como se o homem estivesse chorando lágrimas de sangue. Seus dedos estavam em um estado deplorável — os ossos completamente pulverizados, pendurados por finos fios de carne e pele rasgada.

Maquiavel se aproximou, seu olhar cauteloso, mas, ao abrir as roupas do cadáver, sua expressão endureceu. Ele viu músculos expostos, a carne desgarrada. Em certos pontos, os músculos haviam sido completamente removidos, deixando ossos à mostra. As evidências de tortura estavam por toda parte.

“...” Maquiavel, fechando rapidamente as vestes do cadáver. Havia uma frieza em seu tom, mas também um traço de desconforto, algo raro para alguém tão calejado quanto ele.

Assim que a análise do corpo terminou, Maquiavel se levantou, o olhar ainda fixo na cena brutal. O corpo estava coberto de hematomas, os sinais claros de hemorragia interna. Havia marcas por todo lado, como se o homem tivesse sido submetido a uma surra violenta. Seria mais difícil encontrar uma área intacta do que uma lesionada.

“...Isso é um pouco... desagradável. Eu não esperava por algo assim.” murmurou Maquiavel, suas palavras se dissolvendo no ar pesado e fétido da sala. O tom, embora calmo, carregava um traço de desgosto, algo que raramente se via em alguém tão imperturbável.

+++

“Meu neto! Nfirea não está em lugar nenhum!” Lizzie irrompeu na sala, sua voz carregada de desespero, ecoando nas paredes do armazém. Seus olhos estavam arregalados, os músculos de seu rosto tensos enquanto ela se movia de um lado para o outro, como uma fera enjaulada. O desespero irradiava dela, sua ansiedade quase palpável.

Maquiavel, que calmamente havia reunido os cadáveres em um canto do armazém, respondeu com sua voz fria e controlada, como se estivesse lidando com uma mera inconveniência. “Eu verifiquei o equipamento deles. Nada parece ter sido remexido. Sendo esse o caso, quem fez isso tinha a intenção de sequestrar Nfirea.”

“Oh!” Lizzie exclamou, sua angústia transbordando enquanto sua mente tentava processar a informação. Ela se virou abruptamente para Maquiavel, seus olhos cheios de súplica e pavor. “Onde ele está?!”

Maquiavel apontou com um movimento controlado para as cartas escritas em sangue sob o cadáver mais próximo. “Dê uma olhada nisso.”

Lizzie aproximou-se hesitante, observando as inscrições. O choque em seu rosto foi evidente quando ela leu as palavras ocultas sob o corpo. “Isso é... os esgotos? Ele está nos esgotos?”

Maquiavel manteve-se inexpressivo, mas seus olhos brilharam com uma frieza calculista. “...Pode ser uma armadilha feita pela pessoa que fez isso, e eu não tenho ideia do tamanho dos esgotos. Procurar lá pode levar muito tempo.”

Shizyu, que observava tudo com uma expressão pensativa, interrompeu o silêncio, cruzando os braços. “O que você acha?” perguntou a Maquiavel, sem tirar os olhos das inscrições no chão.

Lizzie, confusa, apontou para os números. “Há números aí... dois oitavos, o que isso significa?”

Maquiavel estreitou os olhos, como se estivesse refletindo profundamente sobre a estranha pista. ‘Isso é ainda mais suspeito’, pensou. Embora ele não expressasse suas dúvidas em voz alta, sua mente afiada já formulava várias teorias. “Embora eu não saiba o que esses números significam, posso imaginar algo como dividir a cidade em oito seções, ou pode ser apenas um simples dois oitavos. Ou será que Nfirea realmente teve tempo para pensar em tudo isso? Mesmo que Nfirea tenha escrito, quanto ele poderia ter aprendido sobre o inimigo? Isso é muita coincidência.”

Lizzie franziu a testa, seus olhos cheios de frustração e raiva. A cada segundo que passava, a sensação de impotência aumentava dentro dela. Seu rosto enrugado ficou ainda mais severo quando ela lançou um olhar furioso para os quatro cadáveres no chão. “Quem são essas pessoas?!”

Maquiavel olhou para os corpos sem emoção, sua voz firme e impassível. “...Eram aventureiros, a julgar por suas roupas e equipamentos.”

“O quê?!” O choque de Lizzie foi imediato, mas seu grito desesperado logo foi substituído por uma respiração profunda e forçada, tentando manter algum controle sobre sua mente tumultuada. Ainda assim, a dor em seu olhar era óbvia. Ela lutava para manter a compostura, mas a urgência da situação a corroía. “Gostaria de ouvir a sua opinião. O que você acha deles terem sido transformados em zumbis?”

Shizyu, sempre calma e analítica, se aproximou. Sua expressão era imperturbável, como se a visão dos mortos-vivos não a incomodasse de forma alguma. “... [Criar mortos-vivos] significa que o inimigo tem alguém que pode usar pelo menos magia de terceiro nível.”

Lizzie, impaciente, avançou, suas mãos trêmulas de nervosismo. “O que mais há para saber?!”

Shizyu olhou para ela por um momento, avaliando sua ansiedade, antes de falar novamente com a mesma tranquilidade anterior. “Penso que há algo mais.”

Lizzie estreitou os olhos, sua impaciência transbordando em uma expressão de raiva contida. “O que quer dizer com isso?”

Shizyu suspirou suavemente antes de responder. “...O inimigo poderia ter usado controle mental ou escondido os cadáveres, mas não fez nada disso. Parece que fizeram por diversão. Ou seja, eles fizeram isso porque tinham absoluta certeza de que não seriam expostos, ou estavam completamente confiantes em sua capacidade de escapar.”

Yamaiko interveio, cruzando os braços e inclinando levemente a cabeça enquanto falava. “Hm... eu não sei qual das opções. Pois, como podem criar zumbis, eles poderiam muito bem ter escapado com os cadáveres, não? Se quisessem sequestrar Nfirea, tudo o que teriam que fazer era esconder os corpos, o que lhes teria dado tempo suficiente para escapar. No entanto, o inimigo não fez isso, o que significa que eles tinham outras coisas para fazer.”

A mente de Lizzie processou as palavras de Yamaiko, e um frio profundo percorreu sua espinha ao perceber o que isso significava. Ela estava diante de algo muito maior do que poderia imaginar. Seu rosto, anteriormente dominado pela raiva, agora exibia uma palidez doentia, como se o sangue tivesse fugido de seu corpo.

  Shizyu calmamente se virou para Lizzie, que estava à beira de um colapso, o desespero transbordando em cada movimento seu. Seus olhos, outrora firmes, agora estavam enevoados pelo pânico. Com uma voz neutra, Shizyu quebrou o silêncio tenso: “Estaria disposta a nos contratar? Isso é algo que combina com um aventureiro, não?”

As palavras de Shizyu pairaram no ar por um instante. Uma faísca de entendimento acendeu nos olhos de Lizzie. Sua expressão de pavor lentamente foi substituída por uma esperança relutante, quase desesperada. “Você é uma mulher de muita sorte, Lizzie Bareare. No momento, somos os aventureiros mais fortes desta cidade e os únicos que podem salvar a vida do seu neto. Se nos contratar, aceitarei seu pedido. Mas... o preço será muito alto, porque estou plenamente ciente de como esta tarefa pode ser problemática.”

Lizzie ofegou levemente, seus olhos buscando confirmação nas palavras de Shizyu. As mãos, ainda trêmulas, apertaram-se firmemente no manto esfarrapado que ela usava. “Tem, tem razão... se for vocês... aqueles que possui aquela poção... e com o Sábio Rei da Floresta... então não há dúvida sobre seus poderre... eu contratarei, contratarei vocês!”

Shizyu manteve sua expressão neutra, mas os cantos de seus lábios esboçaram um sorriso quase imperceptível, como o de um predador que avistava sua presa. “Se é assim... você está preparada para pagar um preço alto por isso?”

O corpo de Lizzie tremeu novamente, sua expressão endurecendo. Ela sabia que o preço seria alto, mas estava preparada para qualquer coisa. “O que você precisa para satisfazer sua vontade?” perguntou Lizzie, sua voz transbordando desespero e submissão.

A resposta de Shizyu veio rápida, firme, sem qualquer vestígio de hesitação: “—Trabalhar para nós.”

Lizzie ficou perplexa. Seus olhos arregalaram-se, sua boca entreaberta como se ela estivesse tentando formar palavras, mas falhando. “O quê?” A incredulidade em sua voz era palpável.

Shizyu cruzou os braços, sua expressão permanecendo impassível. “Eu quero que você trabalhe para mim, na criação de poções exclusivamente para minha equipe.” Embora a proposta parecesse cruel, essa condição não havia surgido por acaso. Era algo que Maquiavel havia sugerido em uma conversa anterior: ‘É necessário ter controle sobre alguém tão talentoso como ela.’

O corpo de Lizzie tremia violentamente, como se as palavras de Shizyu tivessem acertado diretamente sua alma. Ela respirou fundo, o ar entrando de forma irregular enquanto processava a situação. Por um momento, parecia que ela iria desabar no chão. Suas mãos, pálidas, apertaram-se com força ao ponto de suas unhas quase perfurarem sua pele enrugada. O silêncio pesou no ar, denso e sufocante, até que Lizzie finalmente murmurou, com a voz trêmula: “Eu... eu aceito.”

Houve uma pausa. Shizyu observou a velha mulher diante dele, quebrada pela necessidade de salvar o neto, mas ainda disposta a fazer o sacrifício. “Se isso significa salvar a vida de meu neto, farei o que for preciso,” completou Lizzie, sua voz um misto de resignação e dor.

Shizyu assentiu, satisfeito, como se tivesse selado um contrato vantajoso. “Muito bem, o pacto está selado. Então, não vamos perder tempo.” Suas palavras eram firmes, mas havia um toque de urgência. Ele sabia que o tempo estava contra eles. “Você tem um mapa desta cidade? Se tiver, me empreste.”

Lizzie hesitou por um momento, seus olhos brilhando com relutância. No entanto, o amor por Nfirea superou qualquer dúvida que pudesse ter. Tremendo, ela puxou um mapa do interior de seu manto esfarrapado e o entregou a Shizyu.

Ele pegou o mapa com precisão e calma, seus olhos percorrendo rapidamente as ruas e vias detalhadas no papel desgastado. “Ótimo,” murmurou ele, dobrando o mapa com cuidado. “Vamos encontrar a localização de Nfirea agora mesmo.”

A expressão de Lizzie, apesar da dor e exaustão, refletia uma frágil centelha de esperança. No entanto, em algum lugar profundo dentro dela, uma sombra de dúvida ainda pairava. Afinal, eles estavam lidando com um inimigo que parecia estar sempre um passo à frente, e cada segundo que passava reduzia ainda mais as chances de Nfirea sobreviver.

“Como fará uma coisa dessas?!” perguntou Lizzie, sua voz carregada de desespero, enquanto as rugas em seu rosto pareciam se aprofundar ainda mais sob o peso da tensão.

“Só desta vez, eu posso.” Shizyu respondeu, sua voz assumindo um tom misterioso e introspectivo. “Eu não sei se o inimigo era ousado ou...” Sua frase ficou suspensa no ar, sendo interrompida enquanto seus olhos se fixavam nos quatro cadáveres dispostos no armazém. A escuridão no olhar de Shizyu indicava que ele havia pensado em algo que ainda não estava pronto para compartilhar.

Virando-se novamente para Lizzie, ele acrescentou: “Bem, vou começar a busca. Vá procurar nos outros cômodos para ver se os responsáveis pelo sequestro de Nfirea deixaram alguma pista para trás. Se este sequestro for apenas uma distração, isso tornará as coisas ainda mais problemáticas. Você conhece esta casa melhor do que ninguém, então é mais adequada para isso.”

Lizzie hesitou, seus pés pareciam pesados como chumbo. Cada segundo de indecisão era uma tortura para seu coração de avó, mas, reconhecendo a gravidade da situação, ela assentiu silenciosamente e começou a se mover pelos cômodos da casa, com o som de seus passos ecoando no silêncio opressivo.

Shizyu observou-a partir antes de se virar para seus companheiros, seu olhar agora focado e calculista. A atmosfera ficou mais tensa.

“Posso perguntar o que pretende?” Yamaiko, que observava a cena de braços cruzados, finalmente quebrou o silêncio. Sua voz tinha um tom de incômodo, claramente afetada pela situação confusa em que estavam.

“Simples.” Maquiavel, que até então estava em silêncio, interveio, sua voz suave mas carregada de uma calma fria. “Veja, as placas de aventureiros estão faltando. Provavelmente foram levadas por quem quer que tenha atacado este lugar. A questão agora é: por que levaram essas placas e não algo mais valioso... o que você acha?”

Yamaiko franziu a testa, confusa com a pergunta. “Perdão, eu não sei.” Sua resposta veio com uma honestidade que só aumentava o mistério da situação.

Maquiavel explicou sua teoria quando.

Shizyu ouvir até que repente, uma voz soou em sua mente. A familiaridade da magia [Message] fez com que ele interrompesse seus pensamentos imediatamente.

{Shizyu-sama.}

A voz calma e respeitosa de um homem idoso preencheu sua mente, acompanhada de um som sutil de farfalhar, como se alguém estivesse movimentando papéis.

{É você, Sebas?} Shizyu respondeu mentalmente, reconhecendo instantaneamente a voz.

{Sim senhor.} Sebas Tier, o mordomo-chefe da Grande Tumba de Nazarick e líder das Pleiades, respondeu com seu tom habitual de respeito.

{Há algo que preciso falar com o senhor—}

{—Estou ocupado agora. Entraremos em contato novamente quando estiver livre.} Shizyu cortou a conversa rapidamente, sabendo que o tempo era crítico.

{Entendido. Por favor, entre em contato com os outros Seres Supremos o mais rápido possível.} Sebas respondeu antes que a comunicação mágica fosse encerrada.

Com o fim da [Message], Shizyu retornou sua atenção para a explicação de Maquiavel.

Maquiavel: “—Foram levadas como troféus, suvenires de caça. Provavelmente uma lembrança para o assassino se orgulhar de sua ‘caçada’. No entanto, isso foi um erro fatal.”

Kāmaraya, que até então havia se mantido em silêncio, pareceu entender a deixa. “Você quer que eu utilize magia de adivinhação?” Ela suspirou. “Sabe que minhas magias desse tipo são bem limitadas.”

Maquiavel sorriu de lado, confiante. “Duvido muito que eles tenham alguma magia de contra-detecção superior à sua.”

Com uma expressão resignada, Kāmaraya levantou as mãos, suas palavras carregando um toque de desafio. “Tá, você que sabe.” Ela então começou a lançar uma série de magias de proteção e disfarce, começando com [Falsos dados], seguida por [Detecção de contador], [Capa falsa], e finalmente, a tão aguardada [Localizar objeto].

Enquanto Kāmaraya se concentrava, seu rosto assumiu uma expressão serena, quase etérea. O silêncio que caiu sobre o grupo era quase tangível, quebrado apenas pelo leve murmúrio de suas palavras mágicas. Parecia que o tempo havia parado.

Maquiavel, observando-a, foi transportado de volta aos seus dias em YGGDRASIL. Quando Ainz Ooal Gown caçava jogadores, eles reuniam informações meticulosamente antes de lançar qualquer emboscada. O lema era claro: “‘A batalha deve acabar antes de começar.’” Isso ressoava nas palavras de Punitto Moe no famoso texto “‘PKing para bobos’”.

Após alguns momentos tensos, Kāmaraya abriu os olhos, um brilho de satisfação refletido neles. “Consegui uma localização,” disse ela, apontando para um ponto no mapa que havia sido entregue por Lizzie.

O grupo se aproximou, tentando decifrar o local que ela indicava. Maquiavel franziu o cenho enquanto tentava compreender os caracteres escritos de forma apressada. “Aqui,” murmurou ele, percebendo o significado oculto. “É o cemitério.”

A percepção de que o inimigo estava escondido nas profundezas do cemitério causou uma reação instantânea em Maquiavel. Seus olhos estreitaram-se enquanto ele pensava consigo mesmo: ‘Como eu pensava, não eram os esgotos então...’

O cemitério de E-Rantel, sendo uma cidade militar, era uma vasta área, tão grande quanto algumas das maiores construções da cidade. Um lugar perfeito para ocultar algo... ou alguém.

Maquiavel franziu o cenho por um momento, mergulhado em seus próprios pensamentos. As informações que possuía indicavam que o tempo estava contra eles, mas ele sabia que precisava de algo mais. Algo que lhe desse a vantagem necessária para virar o jogo a seu favor. Foi então que tomou sua decisão.
‘Vamos ver até onde essa distração vai nos levar,’ pensou Maquiavel, com um sutil brilho malicioso aparecendo em seu olhos. Em seguida, ele ativou seu Trunfo.
Trunfo: [9º Sentido] Classe Rara: Batedor da Noite Eterna (Profissionalizante)
Ao ativar o Trunfo, Maquiavel imediatamente entrou em um estado de percepção ampliada. Seus sentidos, antes limitados ao que estava diretamente diante dele, agora se expandiam por toda a área ao redor do cemitério. Era como se cada sombra, cada fenda no terreno e até o menor dos movimentos estivessem sendo processados instantaneamente em sua mente.

O [9º Sentido] permitiu-lhe identificar a posição exata de cada inimigo e todos os perigos ocultos. Era uma habilidade excepcional, digna de seu nome. Nenhuma magia poderia detectá-lo agora, tornando-o completamente invisível tanto para magos quanto para guerreiros, ele poderia usa essa capacidade por 30 minutos e pode desativar e reativar enquanto o efeito do Trunfo continua. Ao mesmo tempo, ele sabia com precisão onde seus inimigos estavam, quais armadilhas estavam posicionadas e, mais importante, todas as fraquezas que eles apresentavam. "Perfeito." pensou ele, a confiança renovada com o poder do Trunfo ativo.
“Então,” Maquiavel começou, virando-se para seu grupo enquanto sua voz transbordava controle absoluto, “há uma grande concentração de mortos-vivos ao redor de Nfirea. Eles não são fortes, mas estão em número considerável.”

Ra Putin, que até então mantinha uma postura descontraída, estreitou os olhos enquanto analisava as informações fornecidas por Maquiavel. “Então realmente o levaram. E as plaquetas de metal devem estar perto... hm, uma grande massa de mortos-vivos?” Ele comentou, como se estivesse ponderando as próximas etapas.

Maquiavel assentiu, observando o brilho sinistro no olhar de Ra Putin.

Kāmaraya, que estava sempre de guarda, estreitou os olhos, seu semblante sério. “... Será que isso é coisa daquele grupo?” Ela perguntou, lembrando-se do encontro nos becos que ela e Ra Putin tiveram recentemente. A desconfiança em sua voz era palpável, suas suspeitas começavam a se concretizar.

Ra Putin resmungou, batendo o pé impaciente. “... Verdade... Nós não mantivemos os olhos atentos neles.” Sua irritação era óbvia, um pequeno erro como esse era difícil de perdoar, especialmente considerando o quão importante a situação havia se tornado.

Yamaiko, por outro lado, manteve sua serenidade habitual. “O que você planeja fazer? Teleportar e destruir todos de uma só vez? Ou talvez usar magia de voo para atacá-los de cima?” Ela sugeriu, sua voz carregada de pragmatismo, mas também curiosidade sobre a estratégia que Maquiavel escolheria.

Maquiavel, sempre o estrategista calculista, não respondeu de imediato. Ele respirou fundo, sua mente trabalhando rápido. Não havia apenas uma resposta, mas sim uma série de possibilidades. E ele sabia que deveria escolher a melhor opção para maximizar os resultados.

“Vamos aproveitar essa situação ao nosso favor.” Ele começou a explicar, seu tom controlado, porém firme. “Se salvarmos o Nfirea e lidarmos com essa questão ao mesmo tempo, isso aumentará nossa reputação. Se fizermos isso em silêncio, receberemos apenas o pagamento de Lizzie. E, sejamos francos, isso não é o suficiente. Não ajudará nossa fama.”

Ra Putin assentiu, compreendendo a lógica implacável de Maquiavel. “Faz sentido. Não podemos nos dar ao luxo de desperdiçar uma oportunidade como essa.”

No entanto, o tempo continuava correndo. Nfirea estava em perigo, e mesmo com todos os cálculos frios de Maquiavel, ele sabia que havia uma grande chance de que o jovem morresse se eles não agissem logo. A vida de Nfirea estava por um fio, mas havia algo mais nesse jogo que o intrigava.

Quem poderia controlar tantos mortos-vivos assim? Maquiavel pensou consigo mesmo. Ele havia detectado todos eles, e embora fossem de baixo nível, o controle de tal quantidade era algo que não se via todos os dias. Havia um truque envolvido, ele podia sentir. E o segredo por trás desse truque... era algo que ele queria desvendar, mesmo que o preço fosse a vida de Nfirea.

Com os olhos frios e calculistas, ele ponderou mais uma vez. A vida de Nfirea não era o que mais importava no momento. O que realmente importava era agradar Traumarei. Maquiavel sabia que a aprovação dele era o verdadeiro objetivo. Se, no processo, tivesse que sacrificar o jovem alquimista, ele o faria sem hesitação. O preço de uma vida era ínfimo comparado ao valor de impressionar alguém tão poderoso.

Kāmaraya o observava atentamente, lendo em seu semblante que ele já havia feito sua escolha. Havia uma frieza, uma determinação, que transparecia em cada palavra que dizia. Ela não sabia exatamente o que ele faria a seguir, mas confiava em sua habilidade de prever e manipular cada situação a seu favor.

Maquiavel, com todos os elementos em mente, deu suas instruções finais, pronto para executar seu plano.

“Então é isso.” Murmurou Shizyu, enquanto caminhava em direção à porta. Seus passos eram calculados, e ele parecia estar em um transe estratégico, sempre um passo à frente em seus planos. Quando finalmente alcançou a maçaneta, ele abriu a porta de forma abrupta, como se isso fosse um prelúdio para o que estava por vir.

“Lizzie! Estamos prontos. Estamos indo para o cemitério agora!” gritou ele, sua voz ressoando pela casa. O tom autoritário não deixava espaço para dúvidas ou argumentos.

Logo, o som frenético de passos apressados ecoou no corredor. *Pa-pa-pa-pa*. Era Lizzie, correndo em direção a Shizyu, o rosto contorcido de preocupação, com os cabelos grisalhos desalinhados pela pressa. “E os esgotos?” perguntou ela, a respiração ofegante, enquanto seus olhos se arregalavam em desespero.

Shizyu, mantendo uma expressão fria e impassível, explicou sem pressa, como se já esperasse aquela pergunta. “O esgoto não passava de uma pista falsa que o autor dessa tragédia nos deixou. Eles estão no cemitério, junto com um exército de mortos-vivos. Há milhares lá.” Ele disse essas palavras com tanta naturalidade que qualquer outra pessoa poderia ter ficado alarmada com a gravidade da situação, mas não ele.

“O quê!?” Lizzie exclamou, atordoada. Seus olhos se arregalaram ainda mais, refletindo o choque que atravessava sua mente.

‘Claro que foi uma estimativa. Como ele poderia ter contado todos eles?’ pensou Shizyu, sem alterar sua expressão imperturbável. “Não precisa ficar chocada.” Ele continuou, sua voz afiada como uma lâmina. “Nós pretendemos abrir caminho através deles. O problema é que não podemos garantir que o exército de mortos-vivos não escape do cemitério. Você precisa avisar ao maior número possível de pessoas para segurar os mortos-vivos caso venham a escapar. Sei que é algo absurdo, mas tenho certeza que as pessoas estarão dispostas a ouvir se for dito por alguém de grande nome como você. Mortos-vivos vagando pela cidade sem ninguém para impedir... isso seria problemático, não?”

A frieza com que Shizyu falava era desconcertante, mas eficaz. Seus olhos nunca se afastavam de Lizzie, observando cada nuance de sua expressão enquanto a manipulava habilmente. Ele sabia exatamente como jogar com as emoções de seus interlocutores.

Lizzie, por sua vez, hesitou por um momento. Seu rosto, já marcado pelo tempo, estava ainda mais enrugado pelo peso das preocupações. Cada linha de sua face parecia vibrar com a tensão, como se estivesse prestes a ceder ao desespero. Contudo, o amor por seu neto era a força que a mantinha firme. Não havia escolha a não ser confiar no grupo de Shizyu. “... Sim, claro...” murmurou ela, num tom quase inaudível, enquanto tentava processar o que ouvira.

Shizyu, por dentro, se regozijava. ‘Se eu não fizer um grande espetáculo disso, será um desperdício. Quanto mais eu inflamar o problema, mais fama eu ganho quando o resolver. Essa é minha missão, afinal,’ pensou ele, seus pensamentos transbordando com a expectativa da glória que viria. “Isso é tudo. O tempo urge, preciso ir o quanto antes.” Ele disse, em um tom firme, deixando claro que não havia mais o que discutir.

Lizzie, no entanto, ainda não estava satisfeita. A sombra de desespero permanecia em seus olhos, como um fogo que se recusava a ser apagado. “E como pretende romper o exército dos mortos!?” perguntou ela, sua voz subindo de tom, quase desesperada.

Shizyu olhou para ela de maneira condescendente, como quem observa uma criança fazendo uma pergunta óbvia. Lentamente, ele levantou a mão e apontou para o grupo ao seu redor. “Não vê? Estão bem aqui.” Seu tom era um misto de arrogância e confiança inabalável, como se não houvesse outro resultado possível além da vitória.

Lizzie franziu a testa, a raiva borbulhando por trás de seus olhos. Seu rosto se contraiu em uma expressão de pura frustração, suas rugas acentuadas como cicatrizes de batalhas emocionais. Era claro que ela estava prestes a explodir, mas, no fundo, sabia que não tinha outra escolha. A segurança de Nfirea estava em jogo, e isso sobrepunha qualquer indignação que ela pudesse sentir.

“... Muito bem...” disse Lizzie finalmente, sua voz quase trêmula, mas firme o suficiente para transmitir sua determinação. “Façam o que for preciso. Mas, por favor, tragam Nfirea de volta com vida.”

“Pode deixar,” respondeu Shizyu, com um sorriso calculado e confiante. Ele sabia que estava jogando um jogo perigoso, mas o risco era um preço que ele estava disposto a pagar por sua ambição. No fundo de sua mente, ele já podia visualizar o desfecho glorioso — a cidade grata, os mortos-vivos derrotados e seu nome ecoando como um herói que salvou o dia.

Enquanto ele se preparava para sair, seus olhos brilharam com a expectativa do que estava por vir. ‘Tudo está indo conforme o plano,’ pensou ele, uma última vez, antes de deixar Lizzie para trás e liderar seu grupo em direção ao cemitério e ao destino que os aguardava.



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(Continua.)
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